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12/09/2003 - 03h44

Washington "sequestrou" o 11 de Setembro, diz professor

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OTÁVIO DIAS
da Folha de S.Paulo

A linha dura da administração George W. Bush "sequestrou" o 11 de Setembro para colocar em prática uma política nacionalista e belicista que não é uma resposta apropriada ao sofrimento de Nova York e dos nova-iorquinos, os maiores afetados pelos atentados terroristas de dois anos atrás.

É o que diz o semiólogo americano --e nova-iorquino-- Marshall Blonsky, 65, professor da New School University, em Nova York, e autor do livro "American Mythologies" (mitologias americanas), publicado em 1992.

"O desastre real não aconteceu no Pentágono [também alvejado em 11 de setembro de 2001], mas nas torres gêmeas do World Trade Center e para os nova-iorquinos e seu estilo de vida", diz Blonsky. "Mas nosso sofrimento foi sequestrado por Washington e a ideologia ruinosa de Dick Cheney-Donald Rumsfeld-Condoleezza Rice-Paul Wolfowitz."

Cheney é vice-presidente dos EUA. Rumsfeld, secretário da Defesa, e Wolfowitz, subsecretário. Condoleezza Rice é conselheira de Bush para questões de segurança nacional. Os quatro são considerados o núcleo do governo defensor da política externa ofensiva e impositiva praticada nos últimos dois anos.

Segundo o semiólogo, o caráter global de Nova York --uma metrópole habitada por pessoas de todas as nacionalidades e que tem como vocação o diálogo permanente com o mundo-- não foi levado em consideração na resposta ao 11 de Setembro.

"Nova York é a nova Roma, é a capital do mundo. Aos nova-iorquinos não está sendo permitido que sejam globais, eles estão sendo forçados a serem provincianos. Minha vida, como nova-iorquino, não é absolutamente levada em consideração pelos oligarcas de Washington. O que conta é a Doutrina Bush", diz.

"O presidente Bush, que, na verdade, significa Rumsfeld, Wolfowitz, Cheney e Condoleezza Rice, não tanto Colin Powell [secretário de Estado dos EUA], está sequestrando Nova York em prol de uma Presidência belicista e de uma coisa chamada guerra contra o terrorismo, que é uma guerra de uma máfia gigantesca contra outras máfias menores", afirmou Blonsky. "Essa guerra permanente, que durará até o fim de nossas vidas, arruinará o país."

Blonsky não vê, no entanto, eco de sua revolta nos nova-iorquinos. "Poucos têm a capacidade de perceber o que foi feito com eles como cidadãos globais. As pessoas não pensam: 'Onde estamos nós?' Isso acontece devido à gigantesca guerra de propaganda que Washington, em colaboração com a mídia, realiza", diz.

Para Blonsky, os atentados contra o World Trade Center foram tão brutais que se pode determinar a história e a vida em Nova York --e nos EUA-- como "a.11 de Setembro" e "d.11 de Setembro"--em referência a a.C e d.C.
Essa referência extremamente forte estaria sendo manipulada pelo governo e por parte da mídia para manter as sensações de medo e de insegurança em carne viva e impedir uma visão mais crítica.

"Quando as pessoas estão com medo, elas não estão totalmente conscientes e não são capazes de pensar de forma mais total. As pessoas estão paralisadas", diz.

"O 11 de Setembro está sempre lá, como um tipo de catalisador de energia, para ser usado em prol dessa política revoltante", diz. "Nunca antes os americanos foram tão aterrorizados e manipulados. Não é apenas uma guerra contra o terrorismo, mas uma guerra do terrorismo. E contra os próprios cidadãos americanos."

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