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12/09/2003
-
04h18
ROBERTO DIAS
da Folha de S.Paulo, em Nova York
De um lado, empresários interessados em reconstruir o maior número possível de metros quadrados de escritórios; de outro, famílias que querem ver um memorial tão grande quanto possível.
No meio deles, um arquiteto de 57 anos que nasceu na Polônia, estudou música em Israel, cresceu em Nova York e acabou por montar seu escritório em Berlim.
Daniel Libeskind venceu o concurso para escolher o projeto dos prédios que irão substituir o World Trade Center. Mas não se sabe bem que plano é esse, já que o resultado, que saiu em fevereiro, está longe de ser o final.
Libeskind diz que sua função é acomodar as vontades dos demais participantes. Seu papel "envolve negociar com dois aspectos irreconciliáveis". "Um é o reconhecimento dos heróis daquele dia. Outro é construir Nova York como uma cidade do futuro, com otimismo e vitalidade. Juntar essas duas coisas é a tarefa."
O conceito de projeto de Libeskind deverá orientar a reconstrução. Mas ele não está à frente da equipe que vai decidir o formato final dos prédios, o lugar onde serão erguidos nem o tamanho do memorial a ser construído.
No caso do memorial, há uma segunda competição em andamento, que deverá terminar ainda neste ano. Já o desenho dos prédios e sua localização ficarão a cargo de uma equipe comandada pelo arquiteto David Childs, o preferido do empresário Larry Silverstein, líder do grupo que arrendara o lugar antes do ataque.
Libeskind contemporiza. "Tudo é negociável numa sociedade democrática." E lembra que é integrante da equipe que vai fazer os desenhos, comprometida com as linhas gerais do seu projeto.
Por linhas gerais, entenda-se erguer uma torre de 541 metros (1.776 pés, número que é o mesmo do ano da independência americana). Chamada de "Torre da Liberdade", ela se tornará a mais alta construção do mundo.
Também é preciso evitar sombras entre o horário do início do ataque (8h46) e a queda do segundo prédio (10h28).
A partir daí, há outras questões que devem ser consideradas, como explicou anteontem Silverstein, o empresário, numa entrevista ao canal de televisão NY1.
"Libeskind é um ótimo arquiteto que passou sua vida desenhando belos prédios pelo mundo. A visão de Dan será preservada", diz. Mas decisões mais específicas sobre o lugar serão por sua conta: "Quando é hora de desenhar prédios de escritórios, a disciplina é diferente. As considerações dos prédios refletem as necessidades dos locatários".
Silverstein reconhece que "há muitas agendas diferentes, e algo tem de ser feito para tudo ser colocado junto". Mas diz que "tem responsabilidades e oportunidades que vêm delas". Assim, concorda que sua posição é distinta, por exemplo, daquela que têm as famílias das vítimas.
"Eu vejo isso de uma perspectiva muito diferente", diz, lembrando que o aluguel do terreno controlado pela Autoridade Portuária lhe custará US$ 120 milhões por ano até 2100.
O problema central entre a vontade de Silverstein e o projeto de Libeskind reside no potencial de exploração imobiliária que terá a construção final. Um dos pontos era a área de escritórios, e nesse item o empresário tem levado a melhor. Outro era a posição da torre maior, que ele tentou mudar de lugar, mas que, dizem agora o empresário e o arquiteto, deverá ficar mesmo na posição inicial.
As discussões são feitas em reuniões gigantes, que têm de 60 a 500 pessoas, de todos os lados envolvidos. Quem já as viu diz que Silverstein domina a cena. Libeskind se recusa a entrar em detalhes de como se trava o debate. "Você tem poder de veto?", perguntou-se ao arquiteto na semana passada. "Nós não trabalhamos como a ONU", respondeu.
Pelas contas do empresário, o projeto envolverá investimentos de US$ 15 bilhões. Na melhor hipótese, a fundação da torre principal será lançada em meados do ano que vem. A idéia é terminá-la até 2009. A reconstrução, porém, só acabaria em 2012 ou 2013.
Hoje, muito do lugar parece igual a um ano atrás: um imenso buraco. Mas os operários que lá trabalham erguem um prédio de porte médio na área, o WTC 7.
"Estamos no rumo", diz Libeskind, sem saber dizer que rumo é esse. Mas ele acha que a torcida para encontrá-lo é grande. "Todo nova-iorquino, toda pessoa na América e toda pessoa no mundo que se importa com isso aqui quer que se tenha sucesso."
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da Folha de S.Paulo, em Nova York
De um lado, empresários interessados em reconstruir o maior número possível de metros quadrados de escritórios; de outro, famílias que querem ver um memorial tão grande quanto possível.
No meio deles, um arquiteto de 57 anos que nasceu na Polônia, estudou música em Israel, cresceu em Nova York e acabou por montar seu escritório em Berlim.
Daniel Libeskind venceu o concurso para escolher o projeto dos prédios que irão substituir o World Trade Center. Mas não se sabe bem que plano é esse, já que o resultado, que saiu em fevereiro, está longe de ser o final.
Libeskind diz que sua função é acomodar as vontades dos demais participantes. Seu papel "envolve negociar com dois aspectos irreconciliáveis". "Um é o reconhecimento dos heróis daquele dia. Outro é construir Nova York como uma cidade do futuro, com otimismo e vitalidade. Juntar essas duas coisas é a tarefa."
O conceito de projeto de Libeskind deverá orientar a reconstrução. Mas ele não está à frente da equipe que vai decidir o formato final dos prédios, o lugar onde serão erguidos nem o tamanho do memorial a ser construído.
No caso do memorial, há uma segunda competição em andamento, que deverá terminar ainda neste ano. Já o desenho dos prédios e sua localização ficarão a cargo de uma equipe comandada pelo arquiteto David Childs, o preferido do empresário Larry Silverstein, líder do grupo que arrendara o lugar antes do ataque.
Libeskind contemporiza. "Tudo é negociável numa sociedade democrática." E lembra que é integrante da equipe que vai fazer os desenhos, comprometida com as linhas gerais do seu projeto.
Por linhas gerais, entenda-se erguer uma torre de 541 metros (1.776 pés, número que é o mesmo do ano da independência americana). Chamada de "Torre da Liberdade", ela se tornará a mais alta construção do mundo.
Também é preciso evitar sombras entre o horário do início do ataque (8h46) e a queda do segundo prédio (10h28).
A partir daí, há outras questões que devem ser consideradas, como explicou anteontem Silverstein, o empresário, numa entrevista ao canal de televisão NY1.
"Libeskind é um ótimo arquiteto que passou sua vida desenhando belos prédios pelo mundo. A visão de Dan será preservada", diz. Mas decisões mais específicas sobre o lugar serão por sua conta: "Quando é hora de desenhar prédios de escritórios, a disciplina é diferente. As considerações dos prédios refletem as necessidades dos locatários".
Silverstein reconhece que "há muitas agendas diferentes, e algo tem de ser feito para tudo ser colocado junto". Mas diz que "tem responsabilidades e oportunidades que vêm delas". Assim, concorda que sua posição é distinta, por exemplo, daquela que têm as famílias das vítimas.
"Eu vejo isso de uma perspectiva muito diferente", diz, lembrando que o aluguel do terreno controlado pela Autoridade Portuária lhe custará US$ 120 milhões por ano até 2100.
O problema central entre a vontade de Silverstein e o projeto de Libeskind reside no potencial de exploração imobiliária que terá a construção final. Um dos pontos era a área de escritórios, e nesse item o empresário tem levado a melhor. Outro era a posição da torre maior, que ele tentou mudar de lugar, mas que, dizem agora o empresário e o arquiteto, deverá ficar mesmo na posição inicial.
As discussões são feitas em reuniões gigantes, que têm de 60 a 500 pessoas, de todos os lados envolvidos. Quem já as viu diz que Silverstein domina a cena. Libeskind se recusa a entrar em detalhes de como se trava o debate. "Você tem poder de veto?", perguntou-se ao arquiteto na semana passada. "Nós não trabalhamos como a ONU", respondeu.
Pelas contas do empresário, o projeto envolverá investimentos de US$ 15 bilhões. Na melhor hipótese, a fundação da torre principal será lançada em meados do ano que vem. A idéia é terminá-la até 2009. A reconstrução, porém, só acabaria em 2012 ou 2013.
Hoje, muito do lugar parece igual a um ano atrás: um imenso buraco. Mas os operários que lá trabalham erguem um prédio de porte médio na área, o WTC 7.
"Estamos no rumo", diz Libeskind, sem saber dizer que rumo é esse. Mas ele acha que a torcida para encontrá-lo é grande. "Todo nova-iorquino, toda pessoa na América e toda pessoa no mundo que se importa com isso aqui quer que se tenha sucesso."
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