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19/09/2003 - 21h54

Conflito por gás paralisa Bolívia

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COCO CUBA
da France Presse, em La Paz

A "guerra" contra a exportação de gás por ou para o Chile deflagrada hoje paralisou pelo menos cinco cidades da Bolívia, entre elas La Paz, sitiada por milhares de camponeses, em meio a bloqueios de estradas e um quadro de convulsão social.

O protesto, com cerca de 15 mil manifestantes, entre "cocaleros", trabalhadores, cidadãos comuns e até militares e policiais da reserva, parou a cidade de Cochabamba (centro), que registrou sua maior mobilização dos últimos tempos, segundo observadores locais.

Durante a manifestação, o líder "cocalero" e da oposição boliviana Evo Morales ameaçou convocar uma greve nacional por tempo indeterminado e bloqueios nas ruas "a partir do momento" em que o governo decidir exportar gás por intermédio do Chile e para este país vizinho.

"Se o governo decidir levar o gás para o Chile, ou pelo Chile, começará a greve por tempo indeterminado e o bloqueio das estradas", afirmou o dirigente indígena em acalorado discurso pronunciado para uma multidão no centro da cidade, que fica a 403 quilômetros de La Paz.

Depois de exigir a derrogação da lei do Gás e o cancelamento das concessões privadas de gás, Morales rejeitou a consulta iniciada na segunda-feira (15) pelo governo do presidente, Gonzalo Sánchez de Lozada, sobre a conveniência de exportar gás.

"Já não tem mais nada para consultar. A melhor consulta é essa [a concentração]. Pelo menos um milhão de bolivianas e bolivianos [se pronunciaram] para rejeitar a venda de gás nestas condições, sob a privatização das jazidas por consórcios petroleiros estrangeiros", afirmou.

Caos

Apesar de um forte esquema de segurança, La Paz, sede do governo e epicentro da manifestação, ficou hoje à mercê de milhares de camponeses que enfrentaram a polícia e até apedrejaram várias lojas.

De nada adiantou um acordo de última hora fechado entre o governo e um líder dos caminhoneiros de La Paz, Franklin Durán, para frear uma paralisação do setor. Os motoristas não apenas suspenderam suas atividades, como acusaram Durán de traidor e exigiram sua renúncia.

A cidade de El Alto, vizinha da capital, também ficou totalmente parada. Hoje o bloqueio de estradas imposto pelos manifestantes completa cinco dias. A medida afeta ainda Los Yungas, que são vales agrícolas que ligam La Paz ao nordeste ou norte amazônicos, e está dificultando o deslocamento de mais de 2.000 pessoas isoladas no povoado de Sorata, sede de uma tradicional festa pagã religiosa no domingo passado (14).

Com a oposição à exportação de gás como pano de fundo, uma parada cívica neutralizou as atividades em Potosí (sudoeste), onde também foram apresentadas reivindicações.

Oruro, 200 quilômetros ao sul da capital e centro nevrálgico do transporte terrestre do oeste andino da Bolívia, foi outra cidade atingida pelos protestos sindicais. Uma megapasseata de trabalhadores, mineradores, estudantes e desempregados invadiu o centro, com palavras de ordem contra o projeto do governo.

"Se Sánchez de Lozada quiser guerra, é isso que ele vai ter", disse o líder da Central Operária, Pedro Montes.

Informes de rádios locais também falaram de uma tensão crescente na região de Sucre (sudeste).

Já nos Departamentos amazônicos de Pando e Beni (nordeste e norte), em Santa Cruz (leste), e em Tarija (extremo sul), a situação transcorreu dentro da normalidade.

O governo de Sánchez de Lozada colocou as Forças Armadas em estado de alerta e evitou se pronunciar sobre o movimento em nível nacional. Apenas o porta-voz oficial, Mauricio Antezana, fez um fervoroso apelo de "unidade aos bolivianos neste momento de crise".
 

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