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04/10/2003
-
08h06
FABIANO MAISONNAVE
da Folha de S.Paulo
Em meio à terceira onda de protestos em pouco mais de um ano de Presidência de Gonzalo Sánchez de Lozada, 73, a Bolívia viu surgir nesta semana um forte movimento regionalista liderado por grande parte da elite econômica, concentrada em Santa Cruz de La Sierra, no leste do país. A nova crise tem levado o país, com suas fortes diferenças regionais e étnicas, a repensar sua identidade.
O manifesto do grupo Comitê Pró-Santa Cruz lançado nesta semana, que propõe a "refundação do país", tem ocupado os editoriais dos principais jornais e dividido a atenção com a onda de protestos contra a intenção do governo de exportar gás natural através do Chile.
Em entrevista à Folha por telefone, o presidente do comitê, o produtor rural Ruben Costas, disse que a proposta é contra o "centralismo absorvente" concentrado em La Paz, mas nega as acusações de que se trata de um movimento separatista.
"É uma proposta patriótica. O país vive uma crise profunda, e é necessário a criação de uma autonomia regional, como ocorre na Espanha e em outros países."
O movimento tem o apoio dos principais grupos empresariais e agrícolas da região, o mais importante pólo econômico boliviano. Com um crescimento de 14% de seu PIB apenas em 2002, Santa Cruz é uma das regiões que mais crescem na América Latina, em contraste com o restante da Bolívia. A região conta com uma forte presença de sojicultores brasileiros.
Segundo Costas, o movimento se distancia tanto de Sánchez de Lozada ("é o produto do sistema") quanto da oposição, liderada pelo cocalero Evo Morales ("orientado por organismos estrangeiros"). Para ele, o movimento representa "o novo homem boliviano, que surgiu aqui".
Já a oposição acusa o governo de beneficiar sobretudo empresas petroleiras, mas os protestos também têm fundo histórico: o terminal para onde o gás deve ser exportado fica exatamente na região do Chile disputada por uma guerra em 1879. A derrota deixou a Bolívia sem acesso ao mar.
Na segunda-feira, movimentos indígenas e sindicais prometem continuar os protestos das últimas semanas fechando a principal rodovia do país.
Reações
A proposta de Santa Cruz causou reações diferentes. A Federação dos Empresários de La Paz disse que a proposta é "inviável".
Em editorial ontem, o jornal "Los Tiempos" vê uma incompatibilidade entre os movimentos de oposição dentro país.
"No atual cenário político competem dois projetos contraditórios, cada um encarnado numa região diferente. Os aimaras do altiplano declaram sua pretensão de formalizar um Estado coletivo para sua etnia; por outro lado, no leste, sem descuidar de sua identidade cultural, apostam no livre mercado e na globalização".
Elite boliviana pressiona governo e quer "autonomia"
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da Folha de S.Paulo
Em meio à terceira onda de protestos em pouco mais de um ano de Presidência de Gonzalo Sánchez de Lozada, 73, a Bolívia viu surgir nesta semana um forte movimento regionalista liderado por grande parte da elite econômica, concentrada em Santa Cruz de La Sierra, no leste do país. A nova crise tem levado o país, com suas fortes diferenças regionais e étnicas, a repensar sua identidade.
O manifesto do grupo Comitê Pró-Santa Cruz lançado nesta semana, que propõe a "refundação do país", tem ocupado os editoriais dos principais jornais e dividido a atenção com a onda de protestos contra a intenção do governo de exportar gás natural através do Chile.
Em entrevista à Folha por telefone, o presidente do comitê, o produtor rural Ruben Costas, disse que a proposta é contra o "centralismo absorvente" concentrado em La Paz, mas nega as acusações de que se trata de um movimento separatista.
"É uma proposta patriótica. O país vive uma crise profunda, e é necessário a criação de uma autonomia regional, como ocorre na Espanha e em outros países."
O movimento tem o apoio dos principais grupos empresariais e agrícolas da região, o mais importante pólo econômico boliviano. Com um crescimento de 14% de seu PIB apenas em 2002, Santa Cruz é uma das regiões que mais crescem na América Latina, em contraste com o restante da Bolívia. A região conta com uma forte presença de sojicultores brasileiros.
Segundo Costas, o movimento se distancia tanto de Sánchez de Lozada ("é o produto do sistema") quanto da oposição, liderada pelo cocalero Evo Morales ("orientado por organismos estrangeiros"). Para ele, o movimento representa "o novo homem boliviano, que surgiu aqui".
Já a oposição acusa o governo de beneficiar sobretudo empresas petroleiras, mas os protestos também têm fundo histórico: o terminal para onde o gás deve ser exportado fica exatamente na região do Chile disputada por uma guerra em 1879. A derrota deixou a Bolívia sem acesso ao mar.
Na segunda-feira, movimentos indígenas e sindicais prometem continuar os protestos das últimas semanas fechando a principal rodovia do país.
Reações
A proposta de Santa Cruz causou reações diferentes. A Federação dos Empresários de La Paz disse que a proposta é "inviável".
Em editorial ontem, o jornal "Los Tiempos" vê uma incompatibilidade entre os movimentos de oposição dentro país.
"No atual cenário político competem dois projetos contraditórios, cada um encarnado numa região diferente. Os aimaras do altiplano declaram sua pretensão de formalizar um Estado coletivo para sua etnia; por outro lado, no leste, sem descuidar de sua identidade cultural, apostam no livre mercado e na globalização".
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