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07/10/2003 - 05h48

Estudo mostra fiasco dos EUA no mundo árabe

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

A administração dos EUA deveria fazer mais esforços para atenuar o crescimento do antiamericanismo no mundo árabe e no muçulmano, incluindo no que se refere a treinar funcionários federais para explicar as posições de Washington a estrangeiros em sua própria língua, segundo disse, na última quarta-feira, um painel de especialistas contratado pelo governo de George W. Bush.

O Departamento de Estado só conta com 54 funcionários que falam razoavelmente bem árabe, e somente alguns deles se dizem dispostos a participar de discussões na mídia (rádio ou televisão) árabe, de acordo com as pesquisas do painel. Para os autores do estudo, a falta de pessoal especializado é um dos fatores que impedem que o crescimento do antiamericanismo seja abrandado.

O texto foi divulgado uma semana depois da publicação de outro estudo sobre o elo entre a diplomacia pública e o crescimento do antiamericanismo global. Trata-se de um relatório encomendado pelo Council on Foreign Relations, um reputado centro de pesquisas dos EUA, sobre o tema.

Para David Morey, um dos autores do estudo do Council on Foreign Relations, o problema da falta de apoio à diplomacia publica é grave, mas não é novo nos EUA. "Desde o presidente [Ronald] Reagan [1981-1989 ], nenhuma administração americana deu o devido valor à diplomacia pública", explicou Morey à Folha de S.Paulo.

"A situação é grave no mundo todo, porém é bastante perigosa entre árabes e muçulmanos, pois os EUA são vistos como protetores de Israel. Washington tem de fazer alguma coisa para atenuar esse antiamericanismo. Afinal, se nada for feito, poderemos acabar tendo outro 11 de Setembro ou algo assim", acrescentou.

À época de Bill Clinton (1993-2001), após o final da Guerra Fria, os esforços de diplomacia pública foram relegados a segundo plano, de acordo com analistas. "A vitória na Guerra Fria provocou acomodação, o que minou a diplomacia pública", disse Joseph Nye, da Universidade Harvard (EUA).

"O problema é que o quadro foi se agravando. E, após o 11 de Setembro e o advento da Doutrina Bush, a imagem dos EUA foi se deteriorando cada vez mais, sobretudo no mundo árabe. A doutrina em si não está errada, já que privilegia o combate ao terrorismo e a luta contra a proliferação de armas de destruição em massa. Contudo seus métodos são incorretos, unilateralistas demais."

Segundo o estudo publicado na semana passada, apenas 15% dos indonésios têm uma imagem positiva dos EUA hoje, contra 61% no início de 2002. E o texto citou uma pesquisa do Instituto Gallup que mostra que só 7% dos sauditas vêem os EUA positivamente.

Para os especialistas, mesmo estando descartada pelo governo uma mudança radical na política externa dos EUA, a Casa Branca deverá coordenar esforços relacionados ao mundo árabe. A diplomacia pública tenta promover os interesses nacionais de um país por meio do entendimento de seus objetivos e de informações sobre suas políticas, buscando influenciar audiências estrangeiras.

Para tanto, Washington deverá "aumentar dramaticamente o financiamento de programas de diplomacia pública" no mundo árabe e no muçulmano. Em 2002, dos US$ 600 milhões gastos nessa área pelo governo, apenas US$ 25 milhões foram despendidos no mundo árabe e no muçulmano.

Ademais, o painel aconselhou a contratação de 300 pessoas fluentes em árabe nos próximos dois anos e de outros 300 até 2008. Outro aspecto importante é a concessão de bolsas de estudo a estudantes oriundos de países árabes ou muçulmanos. Atualmente, há 900 casos do gênero nos EUA. Em 1980, havia 20 mil bolsas para estudantes árabes e muçulmanos.

Outra recomendação dos especialistas é que a rádio governamental Sawa, cujos programas são em árabe, precisa ter "um objetivo mais amplo" que a conquista de uma grande audiência. Funcionários graduados da Sawa afirmaram, recentemente, que, segundo pesquisas de preferência popular, a estação (que veicula notícias e programas musicais) está à frente de suas concorrentes.

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