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31/10/2003
-
05h08
MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo
O caso Yukos, cujos episódios mais rumorosos são a prisão do bilionário Mikhail Khodorkovsky e o envolvimento da Justiça russa na questão do controle acionário da empresa, expõe uma luta aberta pelo poder no Kremlin. Esta opõe os chamados "oligarcas" e seus simpatizantes oficiais a altos funcionários da FSB (herdeira da KGB, a polícia secreta soviética).
Poderosos demais, os "oligarcas", que enriqueceram na década de 90 com o controverso processo de privatização aprovado pelo ex-presidente Boris Ieltsin, entraram em rota de colisão com o Kremlin, que busca atenuar seu poder.
No caso específico da Yukos, Khodorkovsky ainda cometeu o "crime político" de financiar partidos de oposição, e analistas afirmam que ele tem a veleidade de disputar a Presidência em 2008.
Outra prova de que a força dos "oligarcas" não é mais a mesma foi a saída de Alexander Voloshin da chefia do gabinete do presidente, ocorrida anteontem. Ele era o maior defensor dos empresários e não resistiu à pressão.
Nos últimos três anos, ganharam força os funcionários ou ex-funcionários da FSB que hoje gravitam em torno do presidente Vladimir Putin. Este dirigiu a FSB entre 1998 e 1999. Esse grupo foi mantido longe do processo de privatização de Ieltsin e pode, portanto, querer vingar-se dos que dele tiraram grande proveito.
Putin e seus ex-colegas da FSB, como o influente Viktor Ivanov, querem "cortar as asas" de empresários que se tornaram tão poderosos que já ousam desafiar o governo, como no caso da compra da Slavneft (gigante dos setores do alumínio e do petróleo) por Roman Abramovich. O Kremlin contava fazer dessa privatização um "modelo", enchendo os cofres públicos de dinheiro chinês.
Putin não parece, todavia, ser contrário ao capitalismo. Luta só contra os capitalistas que podem ameaçar sua posição. Assim, já perseguiu outros "oligarcas", como os megaempresários da mídia Boris Berezovsky, que fora seu aliado, e Vladimir Gusinsky.
A cinco semanas da eleição legislativa, que poderá dar ao presidente a chance de ter maioria na Duma (Câmara Baixa do Parlamento), sua cruzada é popular. Segundo pesquisas recentes, 70% da população russa tem opinião desfavorável em relação aos "oligarcas", vistos como responsáveis pelo empobrecimento geral.
A dúvida que paira sobre o mercado financeiro da Rússia, cuja Bolsa despencou após a prisão de Khodorkovsky, e sobre a comunidade internacional diz respeito às verdadeiras intenções dos novos homens fortes do Kremlin.
Se sentirem saudades do jugo do Estado sobre a economia e buscarem renacionalizar empresas privatizadas na década passada, levarão a Rússia ao caos. Resta, portanto, saber quais são as reais motivações de Putin.
Análise: Caso Yukos explicita disputa pelo poder na Rússia
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da Folha de S.Paulo
O caso Yukos, cujos episódios mais rumorosos são a prisão do bilionário Mikhail Khodorkovsky e o envolvimento da Justiça russa na questão do controle acionário da empresa, expõe uma luta aberta pelo poder no Kremlin. Esta opõe os chamados "oligarcas" e seus simpatizantes oficiais a altos funcionários da FSB (herdeira da KGB, a polícia secreta soviética).
Poderosos demais, os "oligarcas", que enriqueceram na década de 90 com o controverso processo de privatização aprovado pelo ex-presidente Boris Ieltsin, entraram em rota de colisão com o Kremlin, que busca atenuar seu poder.
No caso específico da Yukos, Khodorkovsky ainda cometeu o "crime político" de financiar partidos de oposição, e analistas afirmam que ele tem a veleidade de disputar a Presidência em 2008.
Outra prova de que a força dos "oligarcas" não é mais a mesma foi a saída de Alexander Voloshin da chefia do gabinete do presidente, ocorrida anteontem. Ele era o maior defensor dos empresários e não resistiu à pressão.
Nos últimos três anos, ganharam força os funcionários ou ex-funcionários da FSB que hoje gravitam em torno do presidente Vladimir Putin. Este dirigiu a FSB entre 1998 e 1999. Esse grupo foi mantido longe do processo de privatização de Ieltsin e pode, portanto, querer vingar-se dos que dele tiraram grande proveito.
Putin e seus ex-colegas da FSB, como o influente Viktor Ivanov, querem "cortar as asas" de empresários que se tornaram tão poderosos que já ousam desafiar o governo, como no caso da compra da Slavneft (gigante dos setores do alumínio e do petróleo) por Roman Abramovich. O Kremlin contava fazer dessa privatização um "modelo", enchendo os cofres públicos de dinheiro chinês.
Putin não parece, todavia, ser contrário ao capitalismo. Luta só contra os capitalistas que podem ameaçar sua posição. Assim, já perseguiu outros "oligarcas", como os megaempresários da mídia Boris Berezovsky, que fora seu aliado, e Vladimir Gusinsky.
A cinco semanas da eleição legislativa, que poderá dar ao presidente a chance de ter maioria na Duma (Câmara Baixa do Parlamento), sua cruzada é popular. Segundo pesquisas recentes, 70% da população russa tem opinião desfavorável em relação aos "oligarcas", vistos como responsáveis pelo empobrecimento geral.
A dúvida que paira sobre o mercado financeiro da Rússia, cuja Bolsa despencou após a prisão de Khodorkovsky, e sobre a comunidade internacional diz respeito às verdadeiras intenções dos novos homens fortes do Kremlin.
Se sentirem saudades do jugo do Estado sobre a economia e buscarem renacionalizar empresas privatizadas na década passada, levarão a Rússia ao caos. Resta, portanto, saber quais são as reais motivações de Putin.
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