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15/11/2003 - 22h34

Ataque contra sinagogas na Turquia mata 20 e fere 300

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da Folha Online

Explosões em duas sinagogas em Istambul (Turquia) mataram neste sábado pelo menos 20 pessoas e deixaram cerca de 300 feridos durante as orações do shabat, o dia sagrado judaico.

Autoridades turcas afirmaram que a rede terrorista Al Qaeda pode estar envolvida na ação que também destruiu carros e prédios nas imediações das sinagogas de Neve Shalom e Beth Israel.

"Está claro que esta é uma ação terrorista com laços internacionais", disse o ministro das Relações Exteriores turco, Abdullah Gul.

Segundo a polícia turca, pelo menos 20 pessoas morreram e 303 foram feridas nos ataques que aconteceram por volta das 9h30 (5h30 em Brasília).

O ministro do Interior, Abdulkadir Aksu, disse que não descarta a participação do grupo Al Qaeda, do saudita Osama bin Laden --apontado como responsável por ataques contra alvos judeus em outros países nos últimos 18 meses.

"Em ambos os casos, vans foram guiadas pelos autores contra seus alvos. Nós acreditamos que eles tivessem o mesmo tipo de explosivos; são os mesmos tipos de ataques terroristas", declarou Aksu.

Um grupo militante local reivindicou a responsabilidade pelas explosões, mas a polícia estimou quer o ataque era muito sofisticado para uma organização tão pequena.

A maioria das vítimas era formada por pedestres e moradores das imediações das sinagogas, onde cristãos gregos e armênios vivem ao lado de muçulmanos.

Um cidadão italiano, Romano Jona, 57, está entre os mortos, de acordo com informações de uma autoridade da embaixada italiana citada pela agência Associated Press. Mais de 80 dos feridos eram judeus.

Shabat

Os ataques ocorreram praticamente no mesmo horário (5h30 em Brasília). Separados por uma distância de cinco quilômetros, os templos --Neve Shalom, o maior da cidade, e Beth Israel, no bairro de Sisli-- estavam lotados devido às orações do shabat (dia sagrado de orações dos judeus, do pôr-do-sol de sexta-feira até o fim do dia de sábado).

Em Neve Shalon, testemunhas relatam que cerca de 300 pessoas estariam no local por causa da comemoração de um bar-mitzvá (cerimônia que marca a maioridade religiosa judaica, aos 13 anos).

Segundo a polícia, uma câmera de segurança teria filmado um motorista saindo de um carro após estacioná-lo diante da sinagoga pouco antes da explosão. O estacionamento era proibido diante das sinagogas. Há ainda a hipótese de motoristas suicidas terem guiado os carros.

O governo turco afirmou que o ataque não mudará as políticas do país. "Continuaremos com determinação a nossa luta contra o terrorismo", disse o chanceler Abdullah Gul.

"Todos na Turquia são tratados de forma igual, todos os meus vizinhos são muçulmanos", disse Edi Baruh, cujo pai estava na sinagoga Neve Shalom.

Autoria

Sem se identificar, uma pessoa telefonou à agência de notícias turca Anatolia e assumiu a autoria dos atentados em nome do grupo extremista turco IBDA-C ("Frente dos Cavaleiros Islâmicos do Grande Oriente") e prometeu mais ataques.

"A razão [dos atentados] é deter a opressão dos muçulmanos. Nossos atos prosseguirão", afirmou o homem.

Esse grupo, fundado em 1985, é um dos mais ativos na região de Istambul desde 1993, quando começou a lançar ataques a bares, discotecas e igrejas.

O IBDA-C já é acusado pela polícia de um ataque a bomba que feriu dez pessoas no centro de Istambul em 31 de dezembro de 2000.

Memória

A sinagoga de Neve Shalom, atingida no atentado de hoje, já foi alvo de um ataque em 1986, atribuído a atiradores palestinos, que matou 22 pessoas durante o shabat. Construído em 1951, o templo é o principal centro de orações de cerca de 30 mil judeus em Istambul.

A Turquia, majoritariamente muçulmana, tem tradição de tolerância com os judeus. Outros 5.000 judeus vivem em outras regiões turcas. O país mantém fortes laços diplomáticos e militares com Israel e é um dos destinos preferidos de turistas israelenses.

A sinagoga de Beth Israel, localizada no bairro de Sisli, começou a ser construída em 1920 e foi ampliada em 1950 com o aumento da população de judeus no local.

Lugares frequentados pelos judeus se tornaram recentemente alvos de ataques, como em Casablanca (32 mortos), no Marrocos em maio, e em Djerba (21 mortos), na Tunísia, em abril do ano passado. Esses atentados foram atribuídos a membros da rede terrorista de Osama bin Laden, responsável pelos ataques do 11 de Setembro nos EUA, em 2001.

Condolências

Os governos de Turquia, Israel, EUA, Paquistão, Egito, Alemanha, França, Rússia, Reino Unido, Grécia e o Vaticano condenaram de forma unânime hoje os atentados contra duas sinagogas em Istambul, que deixaram um saldo de 20 mortos.

O premiê turco, Recep Tayyip Erdogan, em visita à Nicósia por motivo do 20 aniversário da República Turca de Chipre do Norte, condenou energicamente os atentados, estimando que eram dirigidos contra "a estabilidade e a paz da Turquia".

Na Turquia, o ministro turco das Relações Exteriores, Abdullah Gul, estimou que se tratava de "um ato terrorista com ramificações internacionais", enquanto o Congresso do Povo do Curdistão, ex-PKK, também condenava os atentados.

O presidente americano, George W. Bush, telefonou hoje ao primeiro-ministro turco para apresentar condolências pelos atentados com carros-bomba contra duas sinagogas.

Na ligação, feita da residência presidencial de Camp David, Bush ''expressou os melhores votos dos Estados Unidos para uma rápida recuperação de todos os feridos vítimas dos ataques, e ambos os líderes reiteraram seu firme compromisso em prosseguir o trabalho conjunto na guerra contra o terrorismo''.

Israel pediu ao mundo se mobilizar contra as "forças do mal". "Nenhum país do mundo está imunizado contra o terrorismo. Por isso todos os Estados devem combater as forças do mal", declarou o chefe da diplomacia israelense, Sylvam Shalom.

Na Europa, a condenação foi unânime. O presidente da Comissão Européia, o italiano Romano Prodi, se dirigiu à sinagoga de Milão para transmitir as condolências de "toda a União Européia" à comunidade judaica. "Não há Europa sem tolerância e estes episódios são incompatíveis com nossa natureza européia", declarou.

A França, através do Ministério das Relações Exteriores, condenou "com a maior firmeza possível o odioso duplo atentado", enquanto o presidente francês Jacques Chirac pedia para "reforçar a determinação das nações democráticas a lutar contra o conjunto do anti-semitismo, a intolerância e o terrorismo".

Alemanha, Rússia, Reino Unido e Grécia formularam condenações em termos similares. O presidente da comunidade turca na Alemanha, a mais importante da Europa Ocidental, frisou "o horror e a indignação" frente aos atentados.

Por sua vez, o papa João Paulo 2º lançou um apelo "pela paz e contra o terrorismo" em um telegrama de pêsames dirigido a "toda a nação turca e às pessoas implicadas", e pediu "mais uma vez a todos os homens e mulheres do mundo inteiro se mobilizarem a favor da paz e contra o terrorismo", numa mensagem divulgada pelo Vaticano.

Paquistão também "condenou firmemente" os atentados, enviando seus pêsames "ao governo e ao povo turcos, assim como às famílias das vítimas".

A Liga Árabe e o Egito foram a primeira organização e o primeiro país árabe a condenarem o duplo atentado. "O uso da violência contra civis é inaceitável", disse à imprensa o secretário-geral da Liga Árabe, Amr Musa, que entretanto atacou Israel.

"A política israelense é responsável por tudo isto, ao conseguir esse grau de calúnia e de desprezo pelo direito e pelo sistema internacional", acrescentou Musa.

Com agências internacionais
 

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