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24/11/2003 - 16h33

Aumento no valor dos produtos de tabaco provoca protestos na França

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JOÃO NOVAES
especial para a Folha Online, em Paris

Proprietários de tabacarias de toda a França promoveram hoje em Paris uma barulhenta manifestação contra o segundo aumento, em menos de quatro meses, no valor dos produtos derivados de tabaco. Essa foi uma das medidas adotadas pelo governo para conter o consumo dos fumantes.

Cerca de 22 mil comerciantes, segundo os organizadores, e 13 mil, segundo a polícia, concentraram-se na praça Denfert Rochereau e dirigiram-se à Escola Militar pedindo a demissão do primeiro-ministro, Jean Pierre Raffarin, e do ministro da Saúde, Jean François Mattei.

O principal pedido dos manifestantes é a anulação da alta de 20% no preço do tabaco a partir de janeiro --a medida já foi aprovada pela Câmara de Deputados e começa a ser analisada a partir de hoje pelo Senado. Uma outra alta, também de 20%, já havia entrado em vigor no dia 20 de outubro. Em janeiro deste ano, outro aumento foi acordado e varia de 8% a 16%, dependendo do produto.

Entre os temores dos comerciantes está o fato de que, com o novo aumento, de 4.000 a 5.000 empregos podem desaparecer até o fim de 2004, especialmente em estabelecimentos localizados nas regiões fronteiriças do país --principais prejudicados pelos aumentos. Outra preocupação tem relação com a segurança. Os assaltos às tabacarias aumentaram muito desde o anúncio da nova conversão.

Além disso, os manifestantes alegam já ter acumulado uma queda de 20% nas vendas depois de outubro. Desde janeiro, a alta dos preços já provocou uma queda de 9% nas vendas.

Segundo dados do CDIT (Centro de Documentação e Informação sobre o Tabaco), o preço médio da marca mais vendida de um maço de cigarro na França passará a ser de 5,50 euros. Em 2001, custava 3,60 euros.

O preço médio do cigarro na França (4,60 euros) é o segundo maior da União Européia, inferior apenas ao Reino Unido (7,05 euros). Entre os países que fazem fronteira com a França, o "paraiso dos fumantes" é a Espanha (2,50 euros), contra 2,85 euros em Luxemburgo, 3,20 euros na Alemanha, 3,30 euros na Itália, 3,60 euros na Suíça e 3,70 euros na Bélgica --Portugal tem o preço mais baixo da União Européia (2,25 euros).

O governo justifica os sucessivos aumentos do preço do tabaco em nome da luta contra o câncer e de outras doenças causadas pelo consumo excessivo de seus produtos. Segundo dados do Ministério da Saúde, a França tem 10 milhões de fumantes. A porcentagem de fumantes jovens, na faixa dos 19 anos, é a mais elevada da Europa --50%.

O objetivo do governo é reduzir o consumo de cigarros em até 30% entre os jovens e 20% entre os adultos. Segundo Jean François Mattei, "o aumento no preço dos cigarros é fundamental na luta contra o tabagismo, principal pilar na luta contra o câncer".

Entretanto, para os comerciantes, a alta não só será ineficaz contra a contenção do consumo como favorizará o contrabando. Muitos comerciantes prometem recorrer a essa medida, comprando cigarros do outro lado da fronteira e revendendo pelo mesmo preço. No Reino Unido o contrabando é responsável por 30% do consumo no país, segundo as autoridades locais.

Para tentar apaziguar o ânimo dos tabacaristas, o governo anunciou na última semana uma série de benefícios aos 34 mil franceses envolvidos nesse negócio. Entre elas estão incentivos para uma mudança gradativa de profissão; maior diversidade de produtos nos estabelecimentos e promessa do congelamento de preços nos próximos quatro anos, a partir de janeiro.

Outros dois planos de ajuda já entraram em ação: o plano [Nicolas] Sarkozy (ministro do Interior), que visa aumentar a segurança nos estabelecimentos e lutar contra os aprovisionamentos ilegais; e o plano [Renaud] Dutreil (ministro do Comércio), que dará uma compensação fiscal de 130 milhões de euros --metade do que o governo calcula arrecadar com o aumento de impostos.

"Essas medidas chegaram tarde demais", afirmou Pierre Monterdan, assessor de imprensa da Confederação dos Varejistas de Tabaco da França. No entanto, o presidente da associação, René Le Pape, afirmou em comunicado à imprensa que um passo à frente já foi dado. "O problema é que o governo tentou fazer em três meses o que poderia ter feito gradativamente em alguns anos", disse Le Pape.

Para a comerciante Eliane Fasquel, proprietária de uma tabacaria na região Norte-Pas-de-Calais, fronteira com a Bélgica, nenhuma ação estatal impedirá as pessoas de fumar.

"Enquanto na Alemanha [país que possui extensa fronteira com a França] o preço diminui para atrair as pessoas e movimentar a economia, aqui nós aumentamos o preço para fazer com que as pessoas deixem de investir no país. Só nos restará o contrabando como saída, já que uma tarifa única para todos os países da UE é ainda uma utopia."

Apoio popular

A alta nos preços dos produtos derivados do tabaco é malvista por fumantes e não-fumantes. Segundo o Instituto de pesquisas CSA, os comerciantes de tabaco contam com o apoio de 53% da população. Para 55% dos entrevistados, o aumento deve ser postergado ou anulado.

Outro problema para o governo é o apoio aos tabacaristas por parte dos líderes da UDF (União pela Democracia Francesa), partido de centro que participa da aliança majoritária de Raffarin no congresso.

As divergências entre que os centristas, liderados por François Bayrou, e o governo vêm crescendo após a recusa da UDF em aprovar o orçamento da União para 2004.
 

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