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15/12/2003
-
04h36
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo
Foi anteontem à noite, com a captura de Saddam Hussein, e não no dia 1º de maio, com o anúncio de George W. Bush a bordo do porta-aviões Abraham Lincoln, que a Guerra do Iraque começou a terminar de verdade.
A liberdade do ex-ditador iraquiano era a pedra no sapato do presidente americano às vésperas do ano das eleições.
Além disso, com a prisão do ex-líder, a resistência iraquiana sofre um golpe duro. Fitas atribuídas a ele apareciam frequentemente na mídia árabe pedindo aos iraquianos que resistissem à ocupação.
O movimento de resistência tem três frentes: membros da Al Qaeda, que aproveitaram o vácuo do poder após a queda do regime para infiltrar militantes pela fronteira; voluntários suicidas do mundo árabe, os mais desunidos; e os liderados diretamente por Saddam. Eram os mais organizados e os que devem ser dizimados.
Analistas crêem que haverá uma redução nas operações patrocinadas por eles.
Primeiro, porque o ex-ditador vai ser interrogado rigorosa e extensivamente pelas autoridades dos EUA, o que pode ajudar a localização das células e aparelhos ainda atuantes; segundo, porque deve secar pelo menos o principal veio de financiamento do movimento, que vinha de sua própria fortuna, estimada em algo entre US$ 8 bilhões e US$ 40 bilhões.
Sua prisão certamente desanima a parte dos insurgentes formada pelos membros do antigo regime que tentavam reconduzi-lo ao poder porque não tinham espaço nem segurança num Iraque sem Saddam. Segue em liberdade, porém, Izzat Ibrahim, um dos principais aliados de Saddam, visto como um dos principais organizadores dos insurgentes saddamistas.
Já outros grupos insurgentes, como combatentes islâmicos estrangeiros e grupos nacionalistas xiitas iraquianos contrários à ocupação, podem se sentir mais livres até para agir, agora sem o constrangimento de estar compartilhando os objetivos do ex-ditador e antigo inimigo de suas causas.
Alguns vêem a prisão como a oportunidade para os EUA mostrarem quem, afinal, manda no pedaço --caso de Timothy Garden, do Instituto de Política Externa de Londres. Todos são unânimes, porém, ao dizer que os ataques diminuem, mas não cessam.
Mesmo a inexplicável demora na captura, no local mais evidente e da maneira mais provável, não deve empanar o feito de anteontem. Mas foi o que aconteceu: uma captura demorada, que levou inacreditáveis oito meses e meio a contar do início da guerra.
Num local evidente: depois que ficou mais ou menos claro que o ex-ditador havia sobrevivido aos primeiros bombardeios da guerra, até as pedras do rio Tigre sabiam que seu destino provável era Tikrit, sua região natal, onde vivia a maior parte de seus parentes, que dominavam os principais cargos do regime.
De maneira provável: escondido num porão de uma casa, provavelmente usando disfarces. Durante os 35 dias que a reportagem da Folha de S.Paulo passou em Bagdá, em março e abril, na guerra, guias e tradutores iraquianos gostavam de contar a mesma história, de como o ex-líder teria se livrado de ser capturado ou morto na Guerra do Golfo, em 1991.
Contavam que, para não ser atingido pelos bombardeios nem delatado por uma eventual traição, o então ditador passava os dias disfarçado ao lado do motorista num carro velho --falava-se até num Fusca-- e dormia a cada noite numa casa alugada sob nomes falsos em bairros distantes.
De qualquer maneira, as cenas divulgadas no mundo inteiro de Saddam sendo examinado por um militar tem tudo para virar o Filme Zapruder (o registro amador do assassinato de John F. Kennedy, em 63) dos anos 00.
De barba longa e grisalha (mas os cabelos pretos, o que contraria uma versão muito divulgada de que ele, vaidoso, pintaria os cabelos quase diariamente), era a sombra do comandante prepotente de antes, do auge nos anos 80 e 90.
De resto, espere nova onda de patriotismo americano, já demonstrado no anúncio da captura, por Paul Bremer. Ao dizer as palavras "We got him" (nós o pegamos), o chefe americano no Iraque foi aplaudido.
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Foi anteontem à noite, com a captura de Saddam Hussein, e não no dia 1º de maio, com o anúncio de George W. Bush a bordo do porta-aviões Abraham Lincoln, que a Guerra do Iraque começou a terminar de verdade.
A liberdade do ex-ditador iraquiano era a pedra no sapato do presidente americano às vésperas do ano das eleições.
Além disso, com a prisão do ex-líder, a resistência iraquiana sofre um golpe duro. Fitas atribuídas a ele apareciam frequentemente na mídia árabe pedindo aos iraquianos que resistissem à ocupação.
O movimento de resistência tem três frentes: membros da Al Qaeda, que aproveitaram o vácuo do poder após a queda do regime para infiltrar militantes pela fronteira; voluntários suicidas do mundo árabe, os mais desunidos; e os liderados diretamente por Saddam. Eram os mais organizados e os que devem ser dizimados.
Analistas crêem que haverá uma redução nas operações patrocinadas por eles.
Primeiro, porque o ex-ditador vai ser interrogado rigorosa e extensivamente pelas autoridades dos EUA, o que pode ajudar a localização das células e aparelhos ainda atuantes; segundo, porque deve secar pelo menos o principal veio de financiamento do movimento, que vinha de sua própria fortuna, estimada em algo entre US$ 8 bilhões e US$ 40 bilhões.
Sua prisão certamente desanima a parte dos insurgentes formada pelos membros do antigo regime que tentavam reconduzi-lo ao poder porque não tinham espaço nem segurança num Iraque sem Saddam. Segue em liberdade, porém, Izzat Ibrahim, um dos principais aliados de Saddam, visto como um dos principais organizadores dos insurgentes saddamistas.
Já outros grupos insurgentes, como combatentes islâmicos estrangeiros e grupos nacionalistas xiitas iraquianos contrários à ocupação, podem se sentir mais livres até para agir, agora sem o constrangimento de estar compartilhando os objetivos do ex-ditador e antigo inimigo de suas causas.
Alguns vêem a prisão como a oportunidade para os EUA mostrarem quem, afinal, manda no pedaço --caso de Timothy Garden, do Instituto de Política Externa de Londres. Todos são unânimes, porém, ao dizer que os ataques diminuem, mas não cessam.
Mesmo a inexplicável demora na captura, no local mais evidente e da maneira mais provável, não deve empanar o feito de anteontem. Mas foi o que aconteceu: uma captura demorada, que levou inacreditáveis oito meses e meio a contar do início da guerra.
Num local evidente: depois que ficou mais ou menos claro que o ex-ditador havia sobrevivido aos primeiros bombardeios da guerra, até as pedras do rio Tigre sabiam que seu destino provável era Tikrit, sua região natal, onde vivia a maior parte de seus parentes, que dominavam os principais cargos do regime.
De maneira provável: escondido num porão de uma casa, provavelmente usando disfarces. Durante os 35 dias que a reportagem da Folha de S.Paulo passou em Bagdá, em março e abril, na guerra, guias e tradutores iraquianos gostavam de contar a mesma história, de como o ex-líder teria se livrado de ser capturado ou morto na Guerra do Golfo, em 1991.
Contavam que, para não ser atingido pelos bombardeios nem delatado por uma eventual traição, o então ditador passava os dias disfarçado ao lado do motorista num carro velho --falava-se até num Fusca-- e dormia a cada noite numa casa alugada sob nomes falsos em bairros distantes.
De qualquer maneira, as cenas divulgadas no mundo inteiro de Saddam sendo examinado por um militar tem tudo para virar o Filme Zapruder (o registro amador do assassinato de John F. Kennedy, em 63) dos anos 00.
De barba longa e grisalha (mas os cabelos pretos, o que contraria uma versão muito divulgada de que ele, vaidoso, pintaria os cabelos quase diariamente), era a sombra do comandante prepotente de antes, do auge nos anos 80 e 90.
De resto, espere nova onda de patriotismo americano, já demonstrado no anúncio da captura, por Paul Bremer. Ao dizer as palavras "We got him" (nós o pegamos), o chefe americano no Iraque foi aplaudido.
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