Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
01/02/2010 - 18h07

Brasileiro diz que vice-cônsul recomendou "jogar bola" para esperar resgate no Peru

Publicidade

DIANA BRITO
colaboração para a Folha Online, no Rio

Os brasileiros que chegaram hoje ao Brasil em um avião C-130 Hércules da FAB (Força Aérea Brasileira) após ficarem isolados por quase uma semana na cidade de Águas Calientes, no Peru, afirmaram que "a embaixada brasileira e o Itamaraty não ofereceram a menor atenção no início" do incidente às vítimas no país.

Segundo o guia de turismo brasileiro Glaucius Miguens, 40, que trabalha na região há mais de 13 anos, o vice-cônsul do Brasil no Peru, João Gilberto Souza, disse em tom de deboche que os brasileiros deveriam jogar bola à espera de resgate.

"O consulado entrou em ação, supostamente para dar apoio, de uma forma questionável. O vice-cônsul, João Gilberto, chegou em Águas Calientes, sem muita atuação, mais à base da piadinha. A gente queria uma informação mais precisa sobre o voo e ele ficou de brincadeirinha dizendo: 'está tudo bem, vou comprar uma bola para vocês jogarem enquanto não forem resgatados'. Ele falou piadinhas que não cabiam bem naquela situação", afirmou Miguens à Folha Online.

Por volta das 2h desta segunda-feira, 62 brasileiros que estavam ilhados no país por causa das fortes chuvas chegaram à Brasília e, em seguida, 57 deles seguiram para a base aérea do Galeão no Rio de Janeiro. Cerca de 250 brasileiros estavam entre os quase 4.000 retidos na região após fortes chuvas e inundações a partir do último dia 24.

Alguns brasileiros dormiram até três noites na estação de trem de Águas Calientes, desde o dia 24 de janeiro. Na noite do dia 27 receberam abrigo em um albergue da cidade e apenas no dia 28 saíram, por volta das 18h, da região.

"Muita gente falou que a gente passou fome porque era a única alternativa que a gente tinha para poder pressionar alguém a fazer alguma coisa. A gente tentava contato com a embaixada brasileira e com o Itamaraty e ninguém deu a menor atenção no início. As pessoas estavam preocupadas que faltasse dinheiro para poder comer, ou até mesmo que os alimentos acabassem", disse a advogada carioca, Flávia Almeida de Faria, 28.

O Itamaraty informou por telefone à Folha Online que prestou apoio aos brasileiros que estavam ilhados em Águas Calientes desde o início, quando receberam notícias do incidente. A assessoria do órgão afirmou ainda que um diplomata e o vice-cônsul brasileiro no Peru foram deslocados para a região e, logo, prestaram assistência aos brasileiros, inclusive com recursos de hospedagem.

Em relação a manifestação do vice-cônsul do Brasil no Peru, João Gilberto Souza, o Itamaraty informou que ele foi o último brasileiro a deixar Águas Calientes e o embaixador do Brasil no Peru, Jorge Taunay, disse que quando se reuniu com os brasileiros em Cuzco só ouviu manifestações de apoio ao trabalho realizado por Souza. A Folha Online tentou localizar o vice-cônsul no Peru por telefone, mas não conseguiu.

Os brasileiros afirmaram ainda que tinham informações de que turistas americanos e japoneses pagavam até US$ 500 para passar na frente das pessoas que estavam sendo resgatadas.

"Nos primeiros dias de resgate priorizaram americano e japonês e depois, que começaram muito mal a priorizar as outras pessoas. Tinha um grupo de brasileiros literalmente brigando com os policiais peruanos para impedir que as pessoas furassem fila, pagassem para poder entrar no helicóptero", conta, ainda nervosa, a advogada carioca.

Desespero

Moradora da Tijuca, na zona norte do Rio, a brasileira Flávia disse que viveu "momentos desesperadores" e que só pensava em ajudar moradores locais para melhorar a situação. Após enfrentar a trilha Salkantaya, a cerca de 4.500 metros de altitude, durante quatro dias chuvosos, sendo oito horas de caminhada por dia, a advogada disse que não esperava que fosse ficar ilhada na estação de trem de Águas Calientes.

"Eram várias pessoas chegando de uma trilha pesada, com medo porque tinha muita lama, muita chuva, loucos para tomar banho e encontrar uma cama. Ao chegar na estação recebemos a informação de que o trem não partiria mais porque a água subiu e invadiu a trilha do transporte e em outras partes houve desabamentos de pedras o que inviabilizou a passagem do trem. Naquele momento, eu me desloquei mais para trabalhar para o pessoal local, para tentar melhorar a situação", disse a carioca.

Com experiência como guia de turismo da região, Miguens ficou surpreso com o que viu em Águas Calientes. Ele afirmou que trabalhava como guia da advogada e de outros 11 brasileiros quando começou a chover sem parar na região.

"Nunca tinha visto nada parecido com a fúria do rio Urubamba. Você sente a natureza dando sinal e você junta essa informação com o que vem acontecendo aqui no Brasil, em São Paulo, Rio Grande do Sul e agora Paraná. O pessoal ajudou a colocar pedras para tentar conter a força da água. As imagens eram muito fortes do rio levando tudo que estava beirando ele. Depois de três dias, a Defesa Civil interveio, isolou a área e começou a trabalhar. Já havia pelo menos três pontos em que os trilhos estavam comprometidos por causa da ação da água do rio que tinha subido", disse o guia.

No sábado (30), todos os turistas foram retirados do complexo arqueológico de Machu Picchu, onde se encontravam ilhados desde domingo (24) depois dos desabamentos provocados pelas fortes chuvas que caem na região. De lá, foram levados para Cuzco, onde cônsules de seus países os receberam dando informações e facilitando seu retorno a Lima, de onde saíram voos para os países de origem.

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página