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19/02/2004 - 03h44

Berlim, Paris e Londres negam hegemonia

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MÁRCIO SENNE DE MORAES
da Folha de S.Paulo

Os três Estados mais ricos da União Européia, a Alemanha, a França e o Reino Unido, reunidos em Berlim, fizeram ontem um apelo por reformas econômicas "urgentes" no bloco, mas refutaram acusações de que buscam impor sua política européia aos outros países-membros da UE.

O chanceler (premiê) Gerhard Schröder, o presidente Jacques Chirac e o premiê Tony Blair propuseram a criação de um novo posto de comissário europeu para liderar os esforços de modernização do bloco, cujo objetivo é ter "a economia baseada no conhecimento mais ativa e mais competitiva do planeta" até 2010.

A missão do "supercomissário" seria harmonizar as políticas européias relacionadas à indústria, ao desenvolvimento e às inovações tecnológicas, buscando reduzir a diferença existente hoje entre o desempenho econômico europeu e o americano.

Contudo os três líderes não revelaram as medidas específicas que deveriam ser tomadas para criar empregos, acelerar o crescimento e fortalecer a competitividade internacional dos países da UE. Na verdade, eles foram compelidos a buscar acalmar os temores de seus parceiros europeus, que se inquietam com a possibilidade de o trio tentar dominar a concepção das políticas européias, dizendo que só querem dar "um impulso" ao bloco.

"Declarando formalmente, em janeiro de 2003, que eram contra a Guerra do Iraque, Paris e Berlim abriram caminho para as divisões que caracterizaram a UE nos meses que se seguiram. Em seguida, certos países não tardaram a dar seu apoio aos EUA. Afinal, alguns Estados temem ser tratados como membros de segunda categoria do bloco", explicou à Folha de S.Paulo Michael Kreile, professor na Universidade Humboldt (Berlim).

"Assim, quando a Chancelaria alemã anunciou a realização da reunião de hoje [ontem], vários países da UE expressaram preocupação com o conteúdo do encontro. Com isso, Schröder, Chirac e Blair tiveram de tomar muito cuidado para não criar mais problemas. Ademais, vale lembrar que o bloco atravessa um momento difícil, já que sua Constituição ainda não foi aprovada e a expansão ocorrerá em 1º de maio", acrescentou Kreile.

De fato, no início de maio, a UE ganhará dez novos países-membros --oriundos sobretudo do antigo bloco comunista. Anteontem, a Itália, além de alguns outros Estados do bloco, criticou a realização da reunião. O premiê Silvio Berlusconi disse que uma tentativa de formar um "diretório" formado por alemães, franceses e britânicos transformaria o bloco numa "grande bagunça".

Segundo Françoise de la Serre, especialista em UE do Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais (Paris), mesmo a criação do cargo de "supercomissário" da UE tende a atrair críticas.

"Primeiro, será muito difícil que um comissário poderoso, mesmo que de nacionalidade alemã, como deseja Berlim, realmente possa dar alento ao bloco, intensificando sua competitividade. Afinal, qualquer medida importante que ele queira tomar deverá ser sancionada pelos políticos, o que minará sua autoridade", analisou.

"Segundo, a simples idéia de querer estabelecer de antemão a nacionalidade desse comissário levanta um problema básico: ele trabalhará pelos interesses da Europa ou pelos de seu país de origem. Trata-se de um contra-senso", completou De la Serre.

Beco sem saída

A situação dos três grandes Estados europeus é complexa, para Kreile. Afinal, "é normal que as maiores potências continentais busquem harmonizar suas posições". "Se os três países não tentarem aproximar suas posições, os analistas dirão que o bloco europeu permanece fraco porque seus 'motores naturais' não agem em conjunto. Ora, quando eles buscam fazê-lo, chovem críticas. O caso é complexo", avaliou Kreile.
 

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