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01/03/2004 - 07h24

Brasileiros relatam insegurança e medo no Haiti

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RENATA VICTAL
da Folha de S.Paulo, no Rio
ANA FLOR
da Folha de S.Paulo, em Brasília

A lembrança da última sexta-feira em Porto Príncipe, capital do Haiti, para a oficial de chancelaria brasileira Regina Lúcia Macedo Calil da Silva, 60, é de corpos estendidos nas ruas servindo de barricadas e tiros perdidos. "Respirava-se perigo", disse Calil da Silva, que chegou na madrugada de domingo a Brasília.

Ela e o marido, Nelson Calil da Silva, 53, foram retirados do país por volta do meio-dia de sábado (14h de Brasília), em um avião da FAB (Força Aérea Brasileira).

Quatro brasileiros foram resgatados pelo avião Hércules C-130 da FAB, que levou mantimentos, dois diplomatas e 16 fuzileiros navais para reforçar a segurança da embaixada em Porto Príncipe. Outros cerca de 20 brasileiros teriam permanecido no Haiti.

Mesmo morando em um dos bairros mais nobres da capital do Haiti (Petion Ville), o casal não podia sair de casa. Há cerca de 20 metros do prédio estava concentrado um grupo armado "que não se sabia se eram rebeldes ou fiéis ao presidente", disse ela. Na sexta-feira, ela tentou ir à embaixada. O trajeto, que geralmente leva 15 minutos, tomou quase uma hora. "Corpos eram usados como barricadas", disse. Segundo Regina, desde quarta o comércio estava fechado e alimentos, água e energia eram racionados. "Era incrível a quantidade de tiros."

Regina trabalha há quatro anos na embaixada. Quando a situação melhorar, ela retorna ao país, onde fica até o fim do ano.

Desembarque no Rio

Os outros dois brasileiros desembarcaram na manhã de ontem na Base Aérea do Galeão: os jogadores de futebol Carlos Alberto Gomes, 24, e Eduardo Ferreira Carvalho, 24, este com a haitiana Rose Laure Delile, 24, sua mulher há seis meses.

A recepção foi marcada por muita emoção e orações de agradecimento. Chorando, Eliane Carvalho, mãe de Carvalho, disse: "Eu passava mal e ficava nervosa com as notícias que eu recebia. Ele sempre tentava me tranqüilizar. Só agora estou calma", disse.

Aliviado, Carvalho disse que, desde terça-feira, não conseguia mais sair do hotel onde morava e que temia por sua segurança.

"Era impossível andar pelas ruas. Os rebeldes tomaram conta da cidade. Eles assaltavam e batiam nas pessoas", disse Carvalho, que deixou para trás tudo o que conseguiu juntar em dois anos.

"Voltei apenas com uma mala de roupas. Deixei tudo lá, até mesmo o dinheiro que tinha no banco. Pretendo voltar para pegar algumas coisas e cobrar uma dívida que o time tem comigo, mas vou esperar uns quatro ou cinco meses. Não dá para voltar agora. Os rebeldes ameaçam invadir as casas e matar todo mundo", afirmou Carvalho, que jogava como meio-campo no Racing, clube da primeira divisão do Haiti.

Já o também jogador do Racing Carlos Alberto Gomes diz que não pretende mais sair do Brasil. "Deixei algum dinheiro lá, mas minha vida vale mais do que isso. Quando saí do Brasil, não imaginei que pudesse passar por toda essa confusão. Tive medo de morrer e não quero voltar, nem sair do Brasil. Estava preso no hotel, economizando dinheiro e comida. Isso não é vida. Pretendo recomeçar minha carreira no Brasil."
 

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