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05/03/2010 - 10h20

Concepción vive rotina de cidade sitiada

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SILVANA ARANTES
enviada especial da Folha de S. Paulo a Concepción (Chile)

Atemorizada pelas constantes réplicas do devastador terremoto do último sábado e pela onda de vandalismo que ele disparou, a segunda maior metrópole chilena se habitua a uma rotina de cidade sitiada.

Em Concepción (212 mil habitantes), a população tem apenas seis horas para sair às ruas --das 18h ao meio-dia vigora o toque de recolher, cuja obediência é monitorada por um ostensivo contingente militar.

Os homens do Exército e suas intimidadoras armas estão nos cruzamentos --cujos semáforos seguem apagados, pela falta de energia-- e na entrada dos poucos endereços comerciais que voltaram a abrir as portas, salvos dos episódios de saques e depredação que eclodiram no sábado passado.

"Agora, com a presença dos militares, estou mais tranquila para sair", diz Priscila Pino, que espera a entrega do leite de Vicente, seu filho de dez meses, na porta do centro de saúde Dr. Victor Manuel Fernández. Vicente tinha consulta de rotina com o pediatra marcada para ontem. "Mas eles não abriram o hospital, por causa das réplicas [do terremoto] e por medo de que saqueiem os remédios", diz Priscila.

Pela grade do hospital, uma funcionária entrega a Priscila a cota de leite do bebê e a cartela de anticoncepcionais a que a mãe tem direito. "Para que não venha outro [filho] antes da hora", diz Priscila.

Com os grandes supermercados destruídos, poucos mercadinhos de bairro são a única alternativa para comprar alimentos. Há escassos itens em estoque, e a venda está racionada. Cada cliente pode levar um máximo de 20 mil pesos (cerca de R$ 69,50) em produtos ou uma quantidade possível de carregar com ambas as mãos.

Nos postos de gasolina, a venda de combustível está restrita a 5.000 pesos chilenos (R$ 17) por cliente -o litro custa 622 pesos. A espera na fila demora em média quatro horas --quase 70% do tempo permitido para estar na rua. O mesmo ocorre com os bancos, que têm exíguas agências habilitadas para saque.

"É um dia [gasto para conseguir] gasolina, um dia para alimentos, um dia para água", afirma Cristián Cordero, na fila da gasolina. Ele precisa do combustível para levar comida aos pais, que moram em Talcahuano, a 16 km de Concepción, e tiveram sua casa e seu restaurante destruídos pelo maremoto subsequente ao terremoto.

Cordero trabalha com consultoria e capacitação. "Vou ter de mudar de ramo por pelo menos seis meses ou um ano", diz. "O que eu poderia fazer nesse tempo? Oferecer palestras motivacionais?"

Bar ao ar livre

Mudar de ramo de negócio não é algo que cogitem Ricardo Cisternas e Erick Cabrera, sócios no bar El Reino, fundado há 86 anos. Mas com o local onde trabalhavam e viviam completamente destruído pelo terremoto, eles tiveram que transferir o El Reino de lugar. Estão acampados na praça em frente ao bar.

Ao lado das barracas em que dormem, empilharam caixotes com a mercadoria que se salvou --refrigerantes, biscoitos e balas. Nas seis horas excluídas do toque de recolher, vendem a ritmo frenético aos transeuntes. Durante a noite, eles se revezam em turnos.

"Enquanto um dorme, outro vigia", conta Cabrera, que chegou a espantar ladrões à bala antes da chegada dos militares à cidade.

Quando a reportagem pergunta quais são seus planos futuros, eles respondem como se não houvesse nada mais óbvio: "Reconstruir! Pois se estamos vivos e com saúde".

 

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