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11/03/2004 - 22h55

Análise: ETA ou Al Qaeda, a questão fundamental sobre atentados

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DENIS TEYSSOU
da France Presse, em Madri

Dúvidas sobre a autoria dos atentados de Madri, em meio às pistas islâmicas e da organização separatista basca ETA, pairavam no ar hoje, depois que o governo espanhol insistiu na tese de que esta última é a "principal linha" de investigação, enquanto que um comunicado atribuído à Al Qaeda reivindicava a autoria da matança.

Esta série de atentados, a três dias das eleições gerais de domingo (14), é a mais sangrenta já cometida na Espanha, com um balanço nove vezes mais significativo do que o pior atentado realizado e reivindicado pela ETA, em junho de 1987 em Barcelona (Catalunha, sudeste do país).

Um comunicado, que seria da rede Al Qaeda, reivindicou os atentados cometidos em Madri e na última terça-feira (9) em Istambul (Turquia), afirma o jornal em língua árabe "Al Qods Al Arabi", com sede em Londres, que recebeu o texto, cuja autenticidade não pôde ser comprovada.

"O esquadrão da morte [das Brigadas de Abu Hafs Al Masri] conseguiu penetrar no coração dos cruzados europeus e infligir um golpe doloroso a um dos pilares de sua aliança, a Espanha", afirma o texto com data de hoje e assinado pelas "Brigadas Abu Hafs al Masri/Al Qaeda".

Dúvidas

O governo espanhol, que num primeiro momento se mostrou totalmente convencido da responsabilidade da ETA e até classificou de "intoxicação" e "intolerável" qualquer alusão a outros grupos, admitiu depois que analisa este texto com "total cautela".

Uma nova pista ao final do dia já tinha abalado as certezas manifestadas em relação ao ETA: uma fita cassete com versículos do Alcorão em árabe e sete detonadores foram encontrados em Alcalá de Henares, localidade da periferia leste da capital espanhola, dentro de um furgão roubado.

Em uma coletiva de imprensa, na qual fez esta revelação, o ministro espanhol do Interior, Angel Acebes, declarou que a pista "prioritária, essencial [da investigação], é o grupo terrorista ETA". Ele afirmou, no entanto, que deu "instruções para que não se descarte nenhuma linha de investigação".

lcalá de Henares foi o ponto de partida dos quatro trens contra os quais foram cometidos os atos terroristas de hoje.

Acebes comentou que a gravação "não contém nenhuma ameaça" e é similar às que "se costuma utilizar para o ensino do Alcorão". O ministro insinuou que também pode se tratar de uma "manobra de intoxicação para provocar confusão".

Explosivos

De acordo com o ministro, os atentados foram cometidos com 12 mochilas-bomba, sendo dez cargas entre oito e dez quilos de explosivos e as outras duas, entre 11 e 12 quilos cada. "Estamos falando de mais de 100 quilos de explosivos, que têm um componente de dinamite, que é o normalmente utilizado pelo ETA", afirmou.

"Sabemos que é dinamite, mas não sabemos de qual marca", acrescentou, referindo-se a dois carregamentos de dinamite industrial roubados pela organização ETA na França.

Segundo um funcionário americano em Washigton, que pediu para não ser identificado, os atentados têm características da Al Qaeda, mas também do ETA.

O funcionário disse que vários atentados coordenados têm a marca da Al Qaeda, mas o ETA é conhecido por ter atacado trens e lugares freqüentados por turistas, acrescentando que nesta fase, nenhuma pista é descartada.

A rede de Osama bin Laden sempre se vangloriou dos atentados cometidos no passado, mas também sempre resistiu a reivindicá-los diretamente, acrescentou o funcionário.

Homem-bomba

Segundo a rádio Cadena SER, que cita fontes da polícia antiterrorista, não confirmadas pelo ministério do Interior, um terrorista suicida atacou um dos quatro trens atingidos. "Fontes da luta antiterrorista informaram à SER que um terrorista suicida viajava em um dos vagões, mas o Interior [ministério] não confirmou", revela o site da rádio, a principal da Espanha, de propriedade do grupo de comunicação Prisa, do jornal "El País".

Um porta-voz do Ministério do Interior afirmou que não há nada que indique a presença de um terrorista suicida. Se for verdade, porém, reforçará a tese de um ataque islamita, em detrimento de uma ação do grupo ETA.

O Batasuna, partido separatista radical basco, considerado pelas polícias espanhola e francesa como braço político da ETA, afirmou em Bayonne (sudoeste da França) que está "convencido" de que a organização armada basca não é responsável pelos sangrentos atentados de Madri.

O porta-voz do Batasuna, Xabi Larralde, também vereador em Bayonne, declarou que seu movimento está "convencido de que os atentados cometidos em Madri não foram ações do ETA".

"Queremos expressar nosso mais claro repúdio a estes atentados indiscriminados contra cidadãos", afirmou Larralde, acrescentando que "é um massacre, não há outra palavra".

ONU

Ainda assim, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, em uma decisão pouco comum, aprovou por unanimidade uma resolução que condena o ETA pelos atentados em Madri.

O conselho, no qual a Espanha está representada, atribuiu à organização ETA a autoria dos ataques, o que segundo os diplomatas está baseado em informações apresentadas pelo governo espanhol.

Apesar de o conselho aprovar com freqüência resoluções condenando tais incidentes, raramente se refere a um indivíduo ou grupo específico sem antes haver uma completa e longa investigação.

O embaixador dos Estados Unidos junto à ONU, John Negroponte, rejeitou a possibilidade de outra autoria para os atentados, eliminando inclusive a hipótese da rede terrorista Al Qaeda.

"Estamos satisfeitos pelo fato de o Conselho de Segurança atuar tão rapidamente para condenar, de forma unânime, este terrível ataque terrorista", disse Negroponte, ressaltando que "o governo espanhol sente que isto tem a marca de um ataque do ETA".

"Nos informaram sobre outras ameaças em dias e semanas recentes (...) O governo espanhol acredita que estes ataques foram realizados pelo ETA e não temos informação do contrário", afirmou.

Um alto funcionário da ONU que pediu para não ser identificado disse, por sua vez, que "ficou a impressão de que, desta vez, o conselho tenha se precipitado".

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