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11/04/2004 - 19h33

Trégua em Fallujah é prorrogada em meio a violência e seqüestros

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da Folha Online

A trégua temporária entre as tropas americanas e os rebeldes que entrou em vigor hoje na cidade sunita de Fallujah não impediu que a violência continuasse no Iraque, onde cerca de 600 iraquianos morreram em confrontos na última semana e vários estrangeiros foram seqüestrados.

Em Bagdá, atiradores derrubaram hoje um helicóptero AH-64 Apache americano, matando seus dois tripulantes. Durante o resgate dos corpos, um intenso confronto foi ouvido e tanques se deslocaram para a área, próxima ao subúrbio de Abu Ghraib, a oeste da capital.

As forças americanas informaram hoje que outros oito soldados americanos foram mortos em vários ataques ocorridos nos últimos dois dias. Quatro soldados da 1ª Divisão Blindada foram mortos em dois ataques separados em Bagdá em 9 de abril, segundo o comunicado militar.

No mesmo dia, três soldados da 1ª Divisão de Infantaria foram abatidos e dois feridos em uma emboscada próximo de Tikrit, ao norte da capital iraquiana. Ontem, um fuzileiro naval foi morto em confrontos na Província de Anbar, no oeste de Bagdá.

O cessar-fogo em Fallujah (50 km a oeste de Bagdá) foi estendido por mais 12 horas, até as 10h de amanhã (3h em Brasília), ampliando o prazo de negociação para uma trégua definitiva depois de confrontos que já mataram centenas de iraquianos desde segunda-feira (5).

A pausa nos combates deflagrados no início da semana passada --quando forças da coalizão lançaram uma operação na cidade-- está sendo prorrogada para permitir novas negociações entre as partes, informou Alaa Makki, uma autoridade do Partido Islâmico Iraquiano (sunita), que integra as negociações.

"Estamos otimistas porque as duas partes nos fizeram promessas. Há obstáculos no caminho, mas conseguiremos", declarou Makki.

Mais de 600 iraquianos, a maioria mulheres, crianças e idosos, foram mortos na última semana nos combates entre o Exército americano e rebeldes em Fallujah, informou Rafie al Issawi, diretor do hospital da cidade.

Um comandante dos fuzileiros navais, no entanto, afirma que a maior parte das vítimas é formada por insurgentes. Os moradores da cidade aproveitaram a relativa calma do cessar-fogo para enterrar suas vítimas em dois campos de futebol.

Disparos em Fallujah

Em Fallujah, as principais ruas da cidade estavam desertas, mas alguns homens armados se deslocavam pelas ruas laterais. Ouvia-se apenas de vez em quando disparos dos franco-atiradores, dos fuzileiros navais emboscados e da guerrilha.

"A trégua se mantém até o momento e esperamos que se tenha conversas produtivas", declarou o administrador americano, Paul Bremer, em uma entrevista ao canal de televisão Fox News.

Pouco depois de iniciar a trégua, dois marines foram feridos em Fallujah por franco-atiradores emboscados e um iraquiano morreu, sem provocar, no entanto, a retomada das hostilidades.

Segundo um mediador iraquiano, Hatem al Husseini, do Partido Islâmico Iraquiano, o acordo prevê um cessar-fogo e "uma retirada gradual dos marines de Fallujah e o desdobramento na cidade de policiais iraquianos e membros das Forças de Defesa Civil iraquianos [ICDC]".

A Al Jazeera transmitiu hoje um vídeo com cadáveres de dois homens sem uniforme e apresentados como dois americanos que a guerrilha de Fallujah teria matado em uma data indeterminada. Os dois civis eram "oficiais dos serviços secretos americanos que trabalhavam no Iraque", segundo a TV.

Um membro do escritório de Moqtada Sadr se mostrou otimista hoje sobre a resposta que os Estados Unidos darão a suas propostas para pôr fim aos enfrentamentos.

"A situação parece evoluir com tranqüilidade. Os mediadores nos disseram que a resposta americana chegará esta noite, tanto se for positiva quanto negativa", afirmou Qais al Jazaali, um colaborador próximo do líder xiita radical, durante uma coletiva de imprensa em Najaf (centro do Iraque).

Ele confirmou que Sadr aceitou o documento apresentado ontem, embora tenha dito que há pontos conflitivos pendentes, como a dissolução do Exército de Mahdi.

Em outros pontos do país, continuam as mortes de iraquianos. Quatro morreram em Kirkuk (norte) e outro em Najaf (centro) em confrontos com forças da coalizão. Também há três mortos em Kirkuk e seis feridos nesta noite (tarde no Brasil) devido à queda de um obus e à explosão de uma bomba em dois lugares diferentes da cidade, afirmou a polícia.

No bairro de Wassiti, no leste de Kirkuk, dois iraquianos --um homem e seu filho-- morreram e outros três habitantes ficaram feridos com a queda de um obus de morteiro sobre sua casa, disse à France Presse o diretor de polícia, general Turhan Yussef.

Cerca de 30 km mais ao leste, um adolescente de 12 anos foi morto e três pessoas ficaram feridas na explosão de um artefato durante a passagem do veículo no qual viajavam, informou a polícia.

Outros três iraquianos morreram hoje durante um tiroteio com uma patrulha policial em Mossul, principal cidade do norte do Iraque, de acordo com a polícia.

Xiita pede fim da ocupação

O jovem chefe xiita radical Moqtada al Sadr convocou os iraquianos a se unirem, garantindo que a milícia armada Al Mahdi os libertará da ocupação do Iraque pela coalizão.

"A milícia [Al Mahdi] apóia o povo oprimido que luta por seus direitos e suas instituições sagradas e os libertará da ocupação", declarou Al Sadr em uma mensagem distribuída nos arredores do mausoléu do imã Hussein na cidade santa de Karbala.

"Unam-se, irmãos meus, e que comece a [luta pela] libertação", afirmou o chefe radical, sobre quem pesa uma ordem de detenção por incitação ao assassinato de um líder rival pró-EUA em abril de 2003.

Al Sadr ressaltou que seu apelo à revolta popular se dirige a todas as comunidades.

"A milícia [Al Mahdi] é o Exército do povo e eu não sou mais do que um cidadão deste povo", afirmou Al Sadr, entrincheirado desde terça-feira na cidade santa de Najaf.

"Irmãos de Najaf e das demais Províncias, gostaria de lhes dizer que unindo os poucos meios que temos frente à ocupação podemos restabelecer a ordem em nosso país", garantiu, pedindo ainda que parem os "selvagens ataques contra a população de Fallujah".

Seqüestros de civis

Homens armados seqüestraram hoje sete cidadãos chineses na região central do Iraque, noticiou a agência de notícias oficial Xinhua citando informações de um diplomata da China em Bagdá. Ainda não há detalhes sobre o incidente.

Um grupo iraquiano ameaçou hoje matar um refém japonês no prazo de 24 horas se Tóquio não retirar suas tropas do Iraque e não enviar um emissário a Fallujah, o que reduziu a esperança de libertação dos três japoneses seqüestrados.

Os três civis "gozam de boa saúde e estão sendo bem tratados", afirmou por telefone Mezher al Dulaimi, um dos mediadores do caso. "A resistência iraquiana concede ao governo japonês um prazo de 24 horas, não-prorrogável, antes de executar um primeiro refém", havia dito antes Al Dulaimi à TV por satélite Al Jazeera. O prazo termina às 17h de amanhã (10h de Brasília), especificou.

Al Dulaimi acrescentou que os seqüestradores pediram que o governo japonês retirasse suas tropas do Iraque e enviasse um representante à cidade rebelde de Fallujah, cercada pelas forças americanas, para que visse as valas de cadáveres. Também pediram que o Japão se desculpasse "pela participação nas agressões ao povo iraquiano".

"A pena de morte será aplicada 12 horas depois aos demais reféns se o Japão não atender ao pedido dos seqüestradores", disse Al Dulaimi à Al Jazeera. O mediador informou que as negociações prosseguirão durante a noite e amanhã.

"Acabo de conversar com autoridades americanas sobre este assunto, e espero que as tropas dos Estados Unidos e o governo japonês atendam aos pedidos dos seqüestradores", disse, acrescentando ter informado autoridades japonesas sobre o assunto durante uma conversa telefônica.

Em Amã, um enviado especial de Tóquio, o vice-ministro das Relações Exteriores, Ichiro Aisawa, afirmou que a embaixada do Japão no Iraque está "fazendo contatos", sem especificá-los.

A Al Jazeera, citando um comunicado dos seqüestradores, havia indicado antes que os três civis japoneses seriam libertados hoje.

O porta-voz da embaixada em Amã descartou uma retirada das tropas japonesas do Iraque, onde cumprem uma missão de reconstrução, humanitária e logística.

Reféns libertados

Oito estrangeiros mantidos reféns no Iraque foram libertados hoje. A informação foi dada por um homem encapuzado em um vídeo transmitido pela rede de TV Al Jazeera.

"Nós os soltamos em resposta a um telefonema da Associação dos Clérigos Muçulmanos. Estamos certos de que eles não farão novamente um acordo com as forças de ocupação", afirmou o militante na filmagem.

Três dos reféns liberados eram do Paquistão, dois da Turquia, um da Índia, um do Nepal e outro das Filipinas.

Além dos oito reféns de origem asiática, o britânico Gary Teeley, seqüestrado em Nasiriya, no sul do Iraque, também foi libertado hoje, segundo informações da chancelaria britânica.

As autoridades do Reino Unido afirmaram que Teeley passa bem e que ele deve voltar para seu país em breve.

Mais seqüestros

Outros seqüestros preocupam as forças de coalizão. Os seqüestradores do refém americano --Thomas Hammil, um contratado pelas forças de coalizão no Iraque-- ameaçaram matá-lo e queimá-lo caso as tropas americanas não encerrassem sua operação na cidade de Fallujah até as 3h da manhã. O prazo já expirou e nenhuma informação foi dada.

Uma filmagem de televisão mostrou ontem Thomas Hammil sendo mantido refém por guerrilhas iraquianas. As imagens foram feitas na sexta-feira (9) pela ABC australiana e mostram o homem sendo dominado depois de um ataque a um comboio.

O vídeo mostra o refém sentado no banco de trás de um carro, próximo a um atirador mascarado. O americano aparentava ser de meia-idade, vestia um jeans sujo de sangue e falava com sotaque do sul dos Estados Unidos. "Eles atacaram nosso comboio", afirmou.

Pelas imagens, o carro partia passando por um tanque em chamas. O repórter da ABC afirmou que a rodovia seria a principal estrada entre Bagdá e Fallujah.

Com agências internacionais

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