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19/04/2004 - 12h54

Após 18 anos, Israel solta espião que divulgou segredos atômicos

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BIANCA KESTENBAUM BANAI
especial para a Folha Online, em Tel Aviv

Nesta quarta-feira, após 18 anos de detenção na prisão de Ashquelon, região sul de Israel, o israelense Mordechai Vanunu, acusado de divulgar detalhes do programa nuclear secreto de Israel e trair o país, será um homem livre.

O ex-funcionário da Central Nuclear de Dimona, localizada no deserto do Neguev (sul), é acusado de ter divulgado detalhes e fotos, tiradas por ele mesmo, do projeto nuclear desenvolvido por Israel. A divulgação do material foi feita em entrevista ao jornal inglês "Sunday Times", de Londres, em 1986.

Em setembro do mesmo ano, Vanunu foi seqüestrado numa capital européia por agentes do Mossad (serviço secreto de Israel), durante uma operação sigilosa.

Sem comentários

O primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, considera o assunto delicado. Nesta segunda-feira, Sharon proibiu seus ministros de dar declarações à imprensa sobre a libertação de Vanunu. Pronunciamentos oficiais sobre o assunto serão feitos exclusivamente pelo ministro da justiça, Yossef Tomi Lapid, veterano jornalista e advogado.

Vanunu, judeu de origem marroquina, cumpriu 18 anos de prisão, sendo que os 11 primeiros em caráter de solidão e silêncio, sem direito a entrevistas ou conversas sobre os reais motivos que o levaram a ser preso.

Este ano, como parte dos preparativos para sua libertação, agentes do serviço de segurança de Israel entraram na cela de Vanunu para conversar com ele e gravar seu depoimento, que inclui suas expectativas e planos para o futuro fora da cela.

TV

Trechos desta conversa serão exibidos pelo canal 10 da TV israelense esta noite e foram divulgados pelo jornal "Yediot Aharonot" (em hebraico) na edição desta segunda-feira.

O ex-técnico nuclear israelense divulga, entre outras coisas, seus planos de deixar Israel, apesar das restrições que o governo lhe pretende impor. Vanunu não poderá ter passaporte, ficando impedido assim de usufruir qualquer programa legal de viagem ao exterior.

"Eu não fui espião nem traí o país", diz. Segundo Vanunu, sua intenção, ao divulgar detalhes do projeto atômico de Israel, foi fazer com que o mundo soubesse do que existe em Dimona. "E isto não é traição, nas minhas palavras, isso é dar informação contrariando Israel".

Ao ser contratado como funcionário da Central Nuclear de Dimona, Vanunu assinou um termo no qual se comprometia a manter em sigilo as informações sobre seu trabalho.

Herói

"A maioria do mundo me considera um herói, fora a população de Israel, formada por cerca de 6 milhões de pessoas", afirma.

Ele alega que as informações que tinha não são mais relevantes. "O que eu sabia, já divulguei 20 anos atrás. A tecnologia avançou e tudo mudou. O que eu conhecia ficou ultrapassado."

Vanunu afirma que deveriam acabar com o reator de Dimona, assim como Israel explodiu o reator iraquiano após ataque aéreo de seu Exército.

O governo também não quis se pronunciar sobre o interesse da imprensa mundial e o pedido de grupos humanitários internacionais para que não imponham a Vanunu sanções e restrições de movimentos.

O horário que Vanunu será colocado em liberdade não foi divulgado para evitar, segundo a direção do sistema penitenciário, possíveis manifestações de apoio ao ex-técnico nuclear em frente ao presídio.
 

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