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03/05/2004 - 03h30

General dos EUA indica que tortura era incentivada no Iraque

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da Folha de S.Paulo

A general da reserva dos EUA Janis Karpinski, cujos soldados subordinados foram fotografados maltratando prisioneiros iraquianos, disse, em entrevistas divulgadas ontem, que os blocos da prisão de Abu Ghraib, em Bagdá, onde os abusos ocorreram estavam sob rígido controle de oficiais do serviço de inteligência do Exército, que podem ter incentivado o abuso.

A militar se defendeu dizendo que soube dos abusos semanas depois que eles ocorreram e que estava "enojada" com as fotos. Karpinski disse que estava preocupada com a pouca atenção dada à unidade da inteligência do Exército que controlava o bloco 1A da prisão, onde seus soldados vigiavam os iraquianos detidos entre os interrogatórios.

Segundo ela, oficiais da inteligência entravam e saíam do bloco "24 horas por dia", muitas vezes para escoltar prisioneiros no caminho até um centro de interrogatório distante das celas.

"Eles estavam lá dentro as 2h e também às 16h", disse Karpinski, que chegou ao Iraque em junho do ano passado.

Ela disse que muitas vezes funcionários da CIA (inteligência americana) participavam do interrogatório no local, uma das mais temíveis prisões do regime do ex-ditador Saddam Hussein.

Karpinski observou que, em uma das fotos recém-divulgadas revelando maus-tratos, havia pernas de 16 soldados americanos --os rostos não foram mostrados. "Isso mostra claramente que outras pessoas estavam participando, porque eu não tinha 16 pessoas designadas para aquele bloco."

Na edição desta semana, a revista americana "The New Yorker" afirma que um relatório do general Antonio M. Taguba conclui que policiais militares (da reserva) eram incentivados por oficiais do Exército e por agentes da CIA (inteligência americana) a "criar condições físicas e mentais favoráveis ao interrogatório de testemunhas".

De acordo com a "New Yorker" o relatório traz relatos de abusos crescentes e cruéis de outubro a dezembro de 2003, que incluem o abuso sexual de um detento iraquiano com um cabo de vassoura.

Apesar de os relatos de maus-tratos terem sido revelados nos últimos dias, o relatório citado pela revista sugere um padrão muito mais longo e sistemático de crueldades do que antes relatado.

Karpinski foi formalmente advertida em janeiro e "silenciosamente retirada" do comando da 800ª Brigada da Polícia Militar, segundo a revista.

Os prisioneiros eram espancados e ameaçados com estupro, eletrocução e ataques de cachorro, relataram testemunhas a investigadores do Exército, segundo esse relatório.

Grande parte dos maus-tratos era sexual, com prisioneiros muitas vezes mantidos nus e forçados a atos sexuais simulados e reais, segundo testemunhas.

Embora esse tipo de abuso seja grave em qualquer cultura, é especialmente humilhante para os árabes porque o islamismo condena duramente a nudez e o homossexualismo.

A entidade de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional disse ontem ter recebido "uma grande quantidade" de relatos de maus-tratos cometidos por britânicos e norte-americanos durante os últimos 12 meses.

O chefe do Estado-Maior das Forças Armadas dos EUA, general Richard Myers, não descartou ontem que as forças americanas possam ser culpadas de abuso sistemático no Iraque ou em outros lugares, como o Afeganistão e a base de Guantánamo (Cuba).

Em entrevista à TV CBS, Myers disse que ainda não havia lido o relatório citado pela revista "New Yorker". Questionado se ele tinha certeza de que não se tratava de uma prática "sistemática", respondeu: "Não estou seguro. Se descobrirmos que é, temos de agir". Em entrevistas a outras emissoras de TV, no entanto, Myers disse estar confiante de que não havia um problema disseminado de tortura e maus-tratos no Iraque.

"Nós revisamos todos os métodos de interrogação. A tortura não é um dos métodos permitidos para usar", disse Myers à rede ABC.

Reino Unido

Fontes militares citadas pela TV BBC questionaram ontem a autenticidade das fotos publicadas no sábado pelo diário "Daily Mirror". Numa delas, um soldado britânico aparece urinando em cima de um prisioneiro iraquiano.

Segundo fontes militares, que falaram sob anonimato, entre os indícios de que se trata de montagem está um caminhão da marca Bedford, que nunca teria sido usado no Iraque.

O jornal britânico negou as acusações e prometeu novas revelações nos próximos dias.

Com "The New York Times" e agências internacionais

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