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08/05/2004 - 13h38

Árabes continuam indignados, mesmo depois de desculpas de Rumsfeld

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da Folha Online

Apesar de ter assumido toda a responsabilidade pelos casos de abusos de prisioneiros iraquianos por soldados americanos, as desculpas do secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, não foram suficientes para acalmar os ânimos no mundo árabe. Ao mesmo tempo que os Estados Unidos tentam contornar o escândalo dos abusos, as tropas britânicas enfrentam novas acusações: um prisioneiro diz que foi espancado por soldados do Reino Unido durante três dias seguidos.

Jornais e analistas árabes afirmam que as desculpas vieram tarde demais. "Enquanto ele [Rumsfeld] foi responsável, assassinatos, tortura e humilhação foram infligidos nos detentos iraquianos quase como uma rotina", diz o jornal saudita "Arab News".

"As desculpas de Rumsfeld vieram muito tarde", disse o analista jordaniano Hani Hourani. "Acho que Rumsfeld deveria renunciar porque a tortura refletiu uma política generalizada adotada pelo Exército dos Estados Unidos no Iraque e talvez também no Afeganistão."

O governo do Kuait, um dos maiores aliados dos EUA no Golfo Pérsico, disse que os abusos praticados por soldados americanos lembram a brutalidade do regime de Saddam Hussein.

"Para nós no Kuait isso [os abusos] significa muita coisa, e lembra os atos brutais do regime de Saddam Hussein na mesma prisão, Abu Ghraib, onde muitos presos kuaitianos erm mantidos", disse o ministro das Relações Exteriores do Kuait, Mohammad al Salem al Sabah.

Das 60 mil pessoas que responderam a uma enquete no site da rede de TV Al Jazira, do Qatar, 87% disseram que os EUA não vão conseguir melhorar sua imagem para os árabes e muçulmanos.

No Iraque, manifestantes exigiram que o administrador civil americano, Paul Bremer, liberte os prisioneiros como "gesto de boa vontade". Em vários países, muçulmanos realizaram protestos contra a tortura de detentos.

O presidente dos EUA, George W. Bush, afirmou neste sábado que os abusos foram um "delito de alguns [soldados]". A declaração foi feita em seu programa de rádio semanal.

Reino Unido

Um prisioneiro iraquiano fez novas acusações contra as tropas britânicas. Ele diz que foi espancado por soldados do Reino Unido no Iraque, informou o jornal britânico "The Independent".

O engenheiro iraquiano Kifah Talah diz que teve insuficiência renal depois de ter sido espancado por três dias em setembro do ano passado. "Os soldados nos cercavam e competiam para ver quem podia bater mais. Os soldados pareciam estar se divertindo muito, já que o espancamento era acompanhado por gargalhadas", diz Talah, em um depoimento por escrito que será usado como parte de um pedido de compensação da família à Justiça.

Talah diz que Baha Mousa, que foi preso junto com ele, foi torturado até a morte. Daoud Mousa, pai de Baha, confirma.

Outro jornal, o "Daily Mirror" publicou uma nova foto na primeira página neste sábado mostrando um soldado britânico junto com um prisioneiro com a boca cheia de sangue, em um veículo militar.

A foto foi entregue por um outro soldado, que disse ter tirado a foto no final do ano passado, depois de ter visto o homem apanhando em Basra, (sul).

Renúncia

Os americanos não querem a renúncia do secretário de Defesa dos Estados Unidos, Donald Rumsfeld, mesmo depois de ele ter assumido "toda a responsabilidade" sobre os casos de abusos de prisioneiros americanos, segundo uma pesquisa do jornal "The Washington Post" e da rede de TV ABC.

Apenas 20% dos entrevistados foram favoráveis à renúncia de Rumsfeld, enquanto 69% disseram que ele deve ficar no cargo. Na sexta-feira (7), Rumsfeld foi ouvido durante cerca de três horas por senadores e deputados americanos e se desculpou pelos abusos em presídios iraquianos.

"Esses eventos ocorreram debaixo dos meus olhos. Como secretário de Defesa, eu sou responsável por eles. Assumo toda a responsabilidade", disse Rumsfeld à comissão das Forças Armadas do Senado, na sexta-feira.

Rumsfeld disse que não seria uma má idéia demolir o presídio de Abu Ghraib, o centro do escândalo deflagrado pela divulgação de fotos de detentos sendo submetidos a humilhações pela rede de TV americana CBS.

A pesquisa Washington Post/ABC indica que dois terços dos americanos são a favor de punir criminalmente os soldados envolvidos no caso e que 54% afirmaram que a punição deve atingir também o alto comando militar no Iraque, que falhou no treinamento e na disciplina dos soldados.

Em relação ao presidente George W. Bush, 48% dos entrevistados aprovam a sua condução do escândalo, enquanto 35% desaprovam e 17% não expressaram opinião alguma.

A pesquisa entrevistou 802 pessoas e tem margem de erro de 3,5 pontos percentuais.

Mais fotos e vídeos

"Vai ficar bem pior, eu acho", disse Rumsfeld, afirmando que as fotos divulgadas pela imprensa americana são apenas uma parte do material que existe.

"Há muito mais fotos e há vídeos", disse o secretário. "Se eles forem divulgados para o público, obviamente as coisas vão piorar". Rumsfeld afirmou não ter visto o vídeo e não descreveu seu conteúdo.

Logo no início de seu depoimento, manifestantes começaram a gritar pedindo a demissão do secretário. Eles tiveram que ser retirados da sala de audiência pública pela segurança do Congresso. Rumsfeld disse que "valoriza a vida", em uma das primeiras frases de seu depoimento.

Cruz Vermelha

O diretor de operações do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), Pierre Krähenbühl, afirmou na sexta-feira (7) que a agência avisou os oficiais americanos, há mais de um ano, sobre os abusos cometidos contra prisioneiros iraquianos.

"Nossas descobertas foram discutidas em diferentes momentos entre março e novembro de 2003, tanto em conversações frente a frente quanto por intervenções escritas", disse Krähenbühl.

Ele se negou a dar detalhes do conteúdo das conversas, mas confirmou que um relatório transmitido pelo CICV a autoridades americanas, citado em uma reportagem publicada pelo "Wall Street Journal", na semana passada, é verdadeiro.

A matéria afirmava que um relatório de 24 páginas descrevia prisioneiros sendo mantidos nus na escuridão, em celas vazias da prisão de Abu Gharib --localizada próxima à Bagdá (capital)--, e prisioneiros sendo forçados a "desfilar" usando roupas íntimas femininas.

Com agências internacionais

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