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22/05/2004
-
00h14
FREDERIC GARLAN
da France Presse, em Buenos Aires
Um ano depois de chegar ao poder, o presidente argentino, Néstor Kirchner, continua gozando de apoio popular, embora comecem a surgir sinais de mau humor devido à crise energética e à insegurança com uma crescente onda de crimes.
Uma recente pesquisa mostrou que 73% da população tem opinião positiva sobre Kirchner, que governa a Argentina desde 25 de maio de 2003. Trata-se de um nível inédito de popularidade para um presidente depois de um ano no cargo, apesar do desgaste que começa a despontar. Em dois meses, ele perdeu 11 pontos.
"Esta enquete superestima o nível de popularidade de Kirchner, mas não há dúvidas de que o presidente goza do apoio do povo", disse o cientista político Julio Burdman, diretor do Observatório Eleitoral Latino-Americano.
Seus opositores mais ferrenhos reconhecem em Kirchner o mérito de ter restaurado a autoridade da função presidencial, após sua forte degradação causada pelas presidências consecutivas de Carlos Menem [mergulhada na corrupção], Fernando de la Rúa [marcada pela indecisão] e Eduardo Duhalde [ausência de legitimidade popular].
Suas atitudes nas primeiras semanas de governo também conquistaram simpatias: Kirchner impulsionou a renovação da Corte Suprema, a abolição das leis de anistia que protegiam os torturadores da última ditadura, além da reabertura dos arquivos dos atentados anti-semitas de 1992 e 1994, nunca esclarecidos. Também não vacilou em realizar uma limpeza em massa nas Forças Armadas e na polícia, instituições profundamente desacreditadas na opinião pública.
A oposição, totalmente fragmentada, não consegue encontrar seu lugar frente a este homem atípico que pertence ao lado "progressista" do Partido peronista.
Angel Rozas, presidente da UCR (União Cívica Radical, social-democrata), a segunda força da vida política argentina, qualificou com nota "oito ou nove" os seis primeiros meses de Governo de Kirchner. Para o segundo semestre, fez uma avaliação menos generosa --"seis ou sete"--, disse em entrevista ao jornal "Clarín", o de maior circulação no país.
A ação do governo ainda está muito centralizada na figura do presidente e as reuniões de gabinete de ministros praticamente desapareceram. Em abril, a hospitalização de Kirchner, que teve problemas gástricos, mostrou as limitações deste estilo, ao deixar o país quase paralisado durante uma semana.
Desconfiado e exigente, Kirchner divide o mundo entre amigos e inimigos, inclusive em seus laços com a imprensa, com a qual mantém relações difíceis.
Sob seu governo, a economia do país registrou um salto espetacular, com um crescimento de 8,7% em 2003, após a queda do ano anterior, a mais grave da história deste país sul-americano.
Os economistas reconhecem sua razoável gestão das finanças públicas. De acordo com o ex-diretor do Banco Central Javier González Fraga, a política macroeconômica é "a melhor dos últimos 30 anos", com baixas taxas de juros, inflação contida e uma prudente política orçamentária.
Sobre os temas mais delicados, como a dívida externa e as tarifas dos serviços públicos, Kirchner tentou de tudo para conseguir ganhar tempo.
"Kirchner é um presidente popular, mas sofre uma grande fragilidade política, porque não controla seu próprio partido [peronista]", analisou o cientista político Burdman.
"Ele não tem grande coisa fora de sua popularidade, o que lhe impede de assumir o custo político [de tomar decisões difíceis], mas não poderá continuar empurrando com a barriga", comentou o analista.
Burdman advertiu que a oposição está começando a se cristalizar dentro de seu próprio partido, que até agora votou como um único homem os projetos apresentados por Kirchner no Parlamento.
Governo de Néstor Kirchner completa um ano na Argentina
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da France Presse, em Buenos Aires
Um ano depois de chegar ao poder, o presidente argentino, Néstor Kirchner, continua gozando de apoio popular, embora comecem a surgir sinais de mau humor devido à crise energética e à insegurança com uma crescente onda de crimes.
Uma recente pesquisa mostrou que 73% da população tem opinião positiva sobre Kirchner, que governa a Argentina desde 25 de maio de 2003. Trata-se de um nível inédito de popularidade para um presidente depois de um ano no cargo, apesar do desgaste que começa a despontar. Em dois meses, ele perdeu 11 pontos.
"Esta enquete superestima o nível de popularidade de Kirchner, mas não há dúvidas de que o presidente goza do apoio do povo", disse o cientista político Julio Burdman, diretor do Observatório Eleitoral Latino-Americano.
Seus opositores mais ferrenhos reconhecem em Kirchner o mérito de ter restaurado a autoridade da função presidencial, após sua forte degradação causada pelas presidências consecutivas de Carlos Menem [mergulhada na corrupção], Fernando de la Rúa [marcada pela indecisão] e Eduardo Duhalde [ausência de legitimidade popular].
Suas atitudes nas primeiras semanas de governo também conquistaram simpatias: Kirchner impulsionou a renovação da Corte Suprema, a abolição das leis de anistia que protegiam os torturadores da última ditadura, além da reabertura dos arquivos dos atentados anti-semitas de 1992 e 1994, nunca esclarecidos. Também não vacilou em realizar uma limpeza em massa nas Forças Armadas e na polícia, instituições profundamente desacreditadas na opinião pública.
A oposição, totalmente fragmentada, não consegue encontrar seu lugar frente a este homem atípico que pertence ao lado "progressista" do Partido peronista.
Angel Rozas, presidente da UCR (União Cívica Radical, social-democrata), a segunda força da vida política argentina, qualificou com nota "oito ou nove" os seis primeiros meses de Governo de Kirchner. Para o segundo semestre, fez uma avaliação menos generosa --"seis ou sete"--, disse em entrevista ao jornal "Clarín", o de maior circulação no país.
A ação do governo ainda está muito centralizada na figura do presidente e as reuniões de gabinete de ministros praticamente desapareceram. Em abril, a hospitalização de Kirchner, que teve problemas gástricos, mostrou as limitações deste estilo, ao deixar o país quase paralisado durante uma semana.
Desconfiado e exigente, Kirchner divide o mundo entre amigos e inimigos, inclusive em seus laços com a imprensa, com a qual mantém relações difíceis.
Sob seu governo, a economia do país registrou um salto espetacular, com um crescimento de 8,7% em 2003, após a queda do ano anterior, a mais grave da história deste país sul-americano.
Os economistas reconhecem sua razoável gestão das finanças públicas. De acordo com o ex-diretor do Banco Central Javier González Fraga, a política macroeconômica é "a melhor dos últimos 30 anos", com baixas taxas de juros, inflação contida e uma prudente política orçamentária.
Sobre os temas mais delicados, como a dívida externa e as tarifas dos serviços públicos, Kirchner tentou de tudo para conseguir ganhar tempo.
"Kirchner é um presidente popular, mas sofre uma grande fragilidade política, porque não controla seu próprio partido [peronista]", analisou o cientista político Burdman.
"Ele não tem grande coisa fora de sua popularidade, o que lhe impede de assumir o custo político [de tomar decisões difíceis], mas não poderá continuar empurrando com a barriga", comentou o analista.
Burdman advertiu que a oposição está começando a se cristalizar dentro de seu próprio partido, que até agora votou como um único homem os projetos apresentados por Kirchner no Parlamento.
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