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02/06/2004 - 07h13

Brasil espera "desarmar espíritos" no Haiti

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RICARDO BONALUME NETO
enviado da Folha de S.Paulo, ao Haiti

Mesmo com as forças da ONU ainda muito fracas no país, o Brasil assumiu ontem o comando da força de paz da ONU no Haiti --é a primeira vez que brasileiros lideram uma missão desse tipo.

"Mais importante do que o desarmamento físico, é preciso haver o desarmamento dos espíritos", disse, em francês, o general-de-divisão brasileiro Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que assumiu o comando da força de paz, substituta de uma força multinacional interina liderada pelos Estados Unidos --França, Chile e Canadá também participam.

Chegaram ontem, em aviões C-130 da FAB, mais 150 militares brasileiros --do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais-- à capital, Porto Príncipe. Entre eles está o general-de-brigada Américo Salvador, que comandará o contingente brasileiro. Também chegou um avião com mais soldados chilenos, 300 dos quais já integravam a força interina.

A cerimônia em que a liderança da missão passou às mãos dos brasileiros teve discursos do presidente haitiano, Alexandre Boniface, do primeiro-ministro, Gérard Latortue, e de Reginald Dumas, enviado do secretário-geral da ONU, Kofi Annan.

Dumas ressaltou a necessidade de "diálogo e reconciliação" no país. O ex-presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide foi derrubado por uma revolta no começo do ano e exilou-se.

A rebelião teve líderes de vários tipos, entre eles antigos chefes de esquadrões da morte ligados aos militares que depuseram Aristide pela primeira vez, em 1991 --ele foi reconduzido ao poder por ação dos EUA em 1994.

Os protestos que derrubaram Aristide agora foram motivados pelas suspeitas de fraude na sua reeleição, em 2000, por sua perseguição a adversários políticos e pela crônica crise econômica. Aristide diz que renunciou por pressão dos EUA e da França.

"É preciso que todos os setores da sociedade participem do processo", disse Dumas, em um sutil puxão de orelha nos políticos haitianos.

Trata-se da segunda missão da ONU no país em uma década, algo que foi lembrado pelo próprio premiê Latortue. A atual tem também um componente policial, de desenvolvimento de instituições políticas e de apoio ao desenvolvimento econômico.

"Não consigo imaginar o tamanho da devastação se não fosse a rapidez da intervenção da força multilateral interina", disse ele, que ressaltou a necessidade de desarmamento da população e do combate ao "tráfico ilícito".

Para Latortue, a "raiz do mal" no país é a pobreza. Para observadores estrangeiros, outro "mal" é a corrupção endêmica.

O general Heleno lembrou que 2004 é o ano do bicentenário da independência do Haiti e que as forças da ONU não são de ocupação, mas "estão aqui para ajudar".

Depois da cerimônia, a banda haitiana tocou o hino do Exército do Brasil, deixando comovidos os militares brasileiros presentes.

Os brasileiros logo em seguida foram vistoriar os locais para o estabelecimento da base permanente, segundo o planejamento da ONU. Os militares estão preocupados, pois em 15 dias devem chegar mais mil homens e é preciso estabelecer acantonamento para eles. Os primeiros locais examinados ontem não tinham tamanho para comportar todo o material da força de paz.

A ONU autorizou um total de 6.700 militares e 1.622 policiais, mas, em junho, apenas os 1.200 brasileiros e 600 chilenos terão chegado, além dos 500 canadenses que devem permanecer. São esperadas tropas da Argentina, do Uruguai e do Paraguai.

Hoje há uma preocupação mais imediata --tentar achar um meio para assistir ao jogo entre Brasil e Argentina em instalações provisórias que ainda não têm TV.

Os poucos brasileiros que saíram às ruas ontem eram cumprimentados efusivamente pelos haitianos, cuja maioria deve torcer para o Brasil hoje.
 

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