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30/07/2004 - 12h41

Artigo: O vai-e-vem da opinião de Kerry

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NEWTON CARLOS
especial para a Folha Online

O "New York Times" pediu em editorial que Kerry explicasse ao povo americano por que votou no Senado a favor da invasão do Iraque. O candidato democrata já se envolvera em confusão com outro voto, quando opôs-se a uma dotação de US$ 87 bilhões para operações no Iraque. "Primeiro votei a favor e depois contra", disse Kelly, dando munição ao vice de Bush, Dick Cheney, que saudou com ironia a "clareza" do candidato de oposição.

O jornal "Boston Globe", da terra de Keery, já o havia chamado de camaleão, por causa do estilo fugaz e das contradições. Como senador foi a favor da invasão de Granada, ordenada por Reagan, que tocou fogo na América Central.

Ficou contra a Guerra do Golfo (1991), no começo da intervenção militar, mas passou a manifestar-se a favor depois de a guerra ter sido vencida e "melhor avaliada". O próprio "New York Times" tratou de esclarecer o que aconteceu com o caso da dotação. Bastava Kerry dizer que concordaria com o pedido de Bush desde que ele não contribuísse para aumentar o rombo orçamentário.

Foi apresentada emenda estabelecendo que o montante seria coberto por meio de taxação em cima dos mais ricos. Kerry votou a favor. Os republicanos derrubaram a emenda. Kerry votou contra. Equação simplíssima, mas cuidados em não ir direto ao assunto, talvez com medo de escorregões, acabou complicando uma questão que poderia tornar-se trunfo no combate ao estilo Bush de fazer guerra. Por isso o "New York Times" pediu respostas claras quanto ao voto favorável à invasão. O povo americano merece ser esclarecido a respeito.

Kerry votou tendo dúvidas a respeito das justificativas apresentadas por Bush? Ou lá no íntimo mais profundo sabia que as tais armas de destruição maciça não existiam? Kerry pode dizer que os 94 senadores votaram pró-invasão em sua totalidade, o que inclui Edward Kennedy e Hillary Clinton, da linha de frente dos liberais, Kennedy até considerado "sectário". Acontece que o candidato é ele e é a ele, portanto, que são cobradas explicações. Kerry é culto, viveu na Europa, adquiriu hábitos cosmopolitas, qualidades detestadas pelos conservadores americanos.

Diante de observações incômodas a respeito de seu comportamento "distante", nada direto, ele costuma citar o escritor francês André Gide (1869-1951): "Não tentem me entender rapidamente", é a citação gideana. Mas restam apenas três meses de campanha para que os americanos o "entendam". Não há tempo a perder. As pesquisas mostram que Kerry precisa esclarecer sobretudo o que pensa a respeito de "questões específicas". O que fazer com o Iraque, por exemplo. Ou porque votou a favor da invasão. Seu forte, no entanto, continua sendo o geral, as belas frases, o que ficaria aquém da curiosidade de bom montante de eleitores.

O futuro não pertence ao medo, pertence à liberdade, lembra o discurso de posse de Kenedy em 1961, quando foi dito que os Estados Unidos fariam o que fosse preciso para preservar a liberdade no mundo. Deu no Vietnã, é recordado. A linguagem dos neoconservadores de Bush é também de defesa da democracia.

Paul Kennedy, autor do "Ascensão e Queda dos Impérios", escreveu que o que se espera da democracia americana é a "rejeição da saturação imperial rumsfeldiana [Donald Rumsfeld é o secretário de Defesa dos Estados Unidos] disposta a guerrear por todas as partes".

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