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13/08/2004 - 15h12

Análise: Referendo marca novo desafio do governo Chávez

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NEWTON CARLOS
especial para a Folha Online

Hugo Chávez apareceu como um personagem "dual" num texto de Gabriel Garcia Márquez. É ao mesmo tempo de esquerda e direita. Tem um discurso populista e se cercou de expoentes da velha guarda comunista, dos anos 60, como José Vicente Rangel, seu vice, e de ex-guerrilheiros, como Ali Rodriguez, que ocupou o cargo de maior importância estratégica no governo, o de ministro do Petróleo.

"Em Chávez coexistem de modo constante tensões idealísticas e o mais puro pragmatismo", diz outro ex-guerrilheiro, Teodoro Petkoff, criador do Movimento ao Socialismo, uma das extensões latino-americanas do extinto eurocomunismo.

Petkoff, depois de entregar-se ao neoliberalismo como ministro da Fazenda do governo anterior à primeira eleição de Chávez, em 1998, tornou-se respeitável jornalista e continua encarando Chávez com o mesmo olhar intrigado. O escritor uruguaio Eduardo Galeano, autor de "As veias abertas da América Latina", dá todo o apoio a Chávez, embora o considere um "falastrão".

Os discursos intermináveis são outra característica do presidente venezuelano. Mas antes de desenvolver uma retórica inflamada como arma ele pegou em armas de verdade. Foi golpista fracassado em 1992, à frente de 11 batalhões e com o apoio de estudantes universitários.

Ficou dois anos preso. Anistiado e depois candidato, derrotou nas urnas, com 56,2% dos votos, os dois partidos [o social-democrata e o democrata-cristão] que há mais ou menos 40 anos se revezavam no poder. "Os velhos partidos e a velha política estão mortos, só falta sepultá-los", decretou Chávez, esbravejando contra a corrupção, as desigualdades e a "ditadura dos mercados financeiros".

Verdadeira revolução por meio das urnas, apresentada pelo chavismo como "refundação da República". Feita nova Constituição, o mandato de Chávez, agora de seis anos e direito à reeleição, foi confirmado em 2000.

O coronel golpista de 1992 atentou contra a mais "longa continuidade democrática do continente", aberta com a derrubada da ditadura de Perez Jimenez, em 1958. Para entender o "fenômeno Chávez" em sua origem basta recapitular o que foi essa continuidade. Os pobres ultrapassaram a metade dos 23 milhões de habitantes.

A opulência do Estado, com o petróleo, tinha como trágico contraste a miséria da maioria. A megalomania dos grandes projetos torrou somas enormes de dinheiro. A corrupção galopante assumia formas variadas, como subsídios, isenções fiscais, privilégios etc. Foi o "caldo de cultura" da explosão popular em Caracas, em 1988.

O ex-presidente Carlos Perez sobreviveu em palácio ao "caracazo" e ao golpismo de Chávez, mas foi destituído em 1993 e, em 1994, condenado por corrupção. O novo protagonista, o chavismo, que luta por sobreviver a um referendo, considera seu ponto de partida a "teoria da árvore das três raízes".

Um neobolivarianismo baseado no pensamento de Bolívar, além de ensinamentos de Simon Rodriguez, educador de Bolívar, e de Ezequiel Zamora, caudilho federalista do fim do século 19. Mais ou menos "idéias de resgate da dignidade nacional como veículo de redenção popular". Ou agora, nas palavras dos próprios chavistas, uma guerra de baixa intensidade, interna e com os americanos.

Newton Carlos é jornalista e analista de questões internacionais

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