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22/08/2004
-
05h01
CLÁUDIA TREVISAN
Enviada especial ao Tibete
Com 1.400 anos de história, Lhasa é uma metáfora da relação entre a China e o Tibete: de um lado da capital está a cidade antiga, dominada pela religiosidade e por milhares de peregrinos que recitam salmos budistas; de outro, a cidade nova, claramente chinesa, onde o fervor religioso é escasso e a paisagem é marcada pelas atividades comerciais.
Não há nenhum vestígio de semelhança entre as duas culturas, separadas por diferentes línguas, fé, culinária, hábitos, estrutura social e maneiras de vestir.
Cada dia na parte antiga de Lhasa é comparável às romarias religiosas em datas especiais no Brasil, com milhares de fiéis caminhando para os templos com rodas sagradas nas mãos --cada giro representa a declamação de partes de salmos budistas.
Os principais destinos são o palácio Potala, onde vivia o dalai-lama, e o templo Jokhang, o mais antigo da cidade, construído no século 7º. Antes de entrar nos locais, muitos fiéis fazem reverências a Buda na rua, deitando-se e levantando-se dezenas de vezes.
Cichen, 69, e sua mulher, Aji, 68, vão todos os dias ao templo Jokhang, onde dão cem voltas em torno do edifício principal recitando salmos budistas. Os dois nasceram em famílias religiosas, como quase todos no Tibete, e têm cinco filhos -um dos quais é monge.
Mas a aparente liberdade mascara o estrito controle exercido pelo Partido Comunista sobre os monastérios e qualquer tentativa de veneração pública do dalai-lama, apontado no fim dos anos 30 como a reencarnação do Buda da Compaixão e considerado o principal líder espiritual do Tibete.
"O Partido Comunista Chinês vê a fé religiosa como um dos seus principais problemas no Tibete, principalmente em razão do vínculo entre o budismo tibetano e a identidade tibetana", diz o relatório "Quando o Céu Caiu sobre a Terra", da Campanha Internacional pelo Tibete, baseado em pesquisas realizadas nos últimos três anos.
Segundo a entidade, o governo limita o número de monges nos mosteiros e controla as atividades religiosas por meio de "comitês democráticos", cujos integrantes têm de obter aprovação oficial. Além disso, os monges estão sujeitos à "educação patriótica", pela qual têm de renegar o dalai-lama e manifestar fidelidade ao governo de Pequim.
O pior período para a vida religiosa no Tibete depois de 1951 foi a Revolução Cultural (1966-1976), quando dezenas de templos e monastérios foram destruídos pelos guardas vermelhos de Mao Tsé-tung.
"Nesse período, houve destruição de monumentos não apenas no Tibete, mas em toda a China", afirma Rao Jin, pesquisadora do Instituto de Tibetologia de Sichuan.
Segundo ela, a Revolução Cultural foi um erro, e a maioria dos templos e monastérios foram restaurados posteriormente.
Hoje há 1.700 locais religiosos e 46 mil monges no Tibete, diz Zigong Qiongchang, vice-presidente da Comissão de Estudos sobre o Budismo Tibetano e responsável pelo Instituto Impressor de Salmos e Orações do Tibete.
A jornalista Cláudia Trevisan viajou ao Tibete a convite do governo chinês
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Não há nenhum vestígio de semelhança entre as duas culturas, separadas por diferentes línguas, fé, culinária, hábitos, estrutura social e maneiras de vestir.
Cada dia na parte antiga de Lhasa é comparável às romarias religiosas em datas especiais no Brasil, com milhares de fiéis caminhando para os templos com rodas sagradas nas mãos --cada giro representa a declamação de partes de salmos budistas.
Os principais destinos são o palácio Potala, onde vivia o dalai-lama, e o templo Jokhang, o mais antigo da cidade, construído no século 7º. Antes de entrar nos locais, muitos fiéis fazem reverências a Buda na rua, deitando-se e levantando-se dezenas de vezes.
Cichen, 69, e sua mulher, Aji, 68, vão todos os dias ao templo Jokhang, onde dão cem voltas em torno do edifício principal recitando salmos budistas. Os dois nasceram em famílias religiosas, como quase todos no Tibete, e têm cinco filhos -um dos quais é monge.
Mas a aparente liberdade mascara o estrito controle exercido pelo Partido Comunista sobre os monastérios e qualquer tentativa de veneração pública do dalai-lama, apontado no fim dos anos 30 como a reencarnação do Buda da Compaixão e considerado o principal líder espiritual do Tibete.
"O Partido Comunista Chinês vê a fé religiosa como um dos seus principais problemas no Tibete, principalmente em razão do vínculo entre o budismo tibetano e a identidade tibetana", diz o relatório "Quando o Céu Caiu sobre a Terra", da Campanha Internacional pelo Tibete, baseado em pesquisas realizadas nos últimos três anos.
Segundo a entidade, o governo limita o número de monges nos mosteiros e controla as atividades religiosas por meio de "comitês democráticos", cujos integrantes têm de obter aprovação oficial. Além disso, os monges estão sujeitos à "educação patriótica", pela qual têm de renegar o dalai-lama e manifestar fidelidade ao governo de Pequim.
O pior período para a vida religiosa no Tibete depois de 1951 foi a Revolução Cultural (1966-1976), quando dezenas de templos e monastérios foram destruídos pelos guardas vermelhos de Mao Tsé-tung.
"Nesse período, houve destruição de monumentos não apenas no Tibete, mas em toda a China", afirma Rao Jin, pesquisadora do Instituto de Tibetologia de Sichuan.
Segundo ela, a Revolução Cultural foi um erro, e a maioria dos templos e monastérios foram restaurados posteriormente.
Hoje há 1.700 locais religiosos e 46 mil monges no Tibete, diz Zigong Qiongchang, vice-presidente da Comissão de Estudos sobre o Budismo Tibetano e responsável pelo Instituto Impressor de Salmos e Orações do Tibete.
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