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30/08/2004 - 21h30

Soldados americanos viram colegas abusando de presos iraquianos

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da France Presse, em Fort Bragg
da Folha Online

Dois soldados americanos declararam nesta segunda-feira a um tribunal militar terem visto outros colegas abusando de presos iraquianos na prisão de Abu Ghraib, perto de Bagdá (capital) no final do ano passado.

Primeiro a depor, e envolvido no escândalo do complexo penitenciário de Abu Ghraib, Jeremy Sivits, confirmou ter presenciado vários militares maltratando prisioneiros e, principalmente, a soldado Lynndie England.

Condenado a um ano de prisão por ter participado das torturas, Sivits foi ouvido como testemunha por um tribunal militar especial de Fort Bragg, Carolina do Norte, sudeste, que retomou, depois de várias semanas de interrupção, o exame do caso da soldado.

Lynndie

Segundo ele, que prestou depoimento por telefone, a partir de uma outra base militar da Carolina do Norte, Camp Lejeune, onde está detido, a soldado Lynndie England, 21, e o sargento Javal Davis pulavam sobre os dedos das mãos e dos pés de detentos iraquianos.

Ela também fazia comentários sobre o tamanho do pênis dos prisioneiros. Uma fotografia mostrando England arrastando com uma coleira um prisioneiro nu colocou o Pentágono no centro de um escândalo internacional, no início deste ano.

Sivits foi a primeira testemunha no processo de England a afirmar especificamente ter visto a soldado, agora grávida, torturando prisioneiros.

Fotos

Em outra foto, England aparece rindo diante de uma fila de presos que se masturbam.

"England tirou algumas fotos, rindo", disse Sivits.

O sargento Kenneth Davis, que também prestou depoimento por telefone nesta segunda-feira, disse que entrou na cela e viu England fotografando os presos nus, algemados juntos.

Questionado sobre se havia ouvido alguém dar alguma ordem a England para tirar fotos, Davis respondeu: "Não me lembro de ninguém ter dado a ela instruções desse tipo".

O objetivo da audiência realizada na enorme base militar de Fort Bragg é determinar se England deve ser submetida a uma corte marcial, que poderá eventualmente condená-la a 38 anos de prisão.

England e outros seis soldados desta companhia são acusados de terem maltratado prisioneiros por conta própria, mas os advogados da soldado afirmam que ela apenas obedeceu ordens.

Maus-tratos

Sivits declarou ter entrado na prisão e visto England e outros soldados cercarem um grupo de prisioneiros algemados e encapuzados. Estes detentos foram, então, progressivamente despidos e empilhados para formar uma pirâmide humana, cujas fotos também circularam nos meios de comunicação internacionais.

Segundo Sivits, outros dois soldados presentes nesta sessão de torturas, o sargento Ivan Frederick e o cabo Charles Graner, que espancavam os detentos durante este episódio, afirmaram que tinham sido orientados a abrandar os prisioneiros.

No entanto, Sivits disse que não havia visto qualquer ordem por escrito, e que também não tinha perguntado, na época, quem havia ordenado as sevícias.

Sivits destacou que os golpes foram tão fortes durante esta mesma sessão que foi preciso chamar um médico, não identificado pelo soldado interrogado.

Segundo Sivits, a médica "não disse nada", atendeu os detentos feridos e deixou o local.

Crucial

De acordo com o advogado da defesa Richard Hernandez, o depoimento de Kenneth Davis pode ser crucial.

Até agora, sete soldados da polícia militar foram acusados, enquanto que uma investigação interna do exército listou 27 oficiais da inteligência militar envolvidos nos casos de tortura.

Em maio, Sivits admitiu que cometeu abusos sexuais contra os presos. Ele foi rebaixado a recruta, expulso do Exército por má conduta e condenado a 12 anos de prisão.

Sivits disse que nunca recebeu ordens de torturar presos, mas também nunca teve acesso às Convenções de Genebra ou a qualquer treinamento relativo às regras humanitárias para os presos.

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