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19/09/2004
-
03h19
VITOR PAOLOZZI
da Folha de S.Paulo
Certamente quando disse que Seymour Hersh era "a coisa mais próxima de um terrorista que existe no jornalismo americano", Richard Perle, ex-assessor do presidente George W. Bush, não tinha a menor intenção de fazer um elogio. Mas a frase enobrece como uma medalha no peito, e o livro que o veterano jornalista está lançando agora é mais uma prova de que ele pode causar tantos estragos na Casa Branca quanto alguns carros-bombas no Iraque.
"Cadeia de Comando --A Guerra de Bush, do 11 de Setembro às Torturas de Abu Ghraib" (ed. Ediouro, 398 págs.) é um ataque tão contundente à administração do 43º presidente americano quanto o filme "Fahrenheit 11 de Setembro", mas sem as pirotecnias habituais de Michael Moore.
Terminado no mês passado, o livro, ao mesmo tempo em que recapitula fracassos militares e dos serviços de inteligência --que fazem o leitor se perguntar se por acaso o inspetor Clouseau não recebeu o seu treinamento nos EUA--, apresenta informações novas. Hersh sustenta que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e a assessora para Segurança Nacional, Condoleezza Rice, foram alertados em 2002 e 2003 sobre os excessos em Guantánamo.
A maior parte das críticas arrasadoras a Bush e sua equipe está na boca de incontáveis funcionários da CIA, do FBI, da Casa Branca e de outros órgãos governamentais que não têm seus nomes revelados. "Há honra nesse anonimato", diz Hersh ao explicar que eles não podem ser identificados "por razões óbvias".
O que dá força às informações reveladas é a credibilidade do jornalista, construída com os furos acumulados em décadas de carreira --como a denúncia do massacre de My Lai na Guerra do Vietnã, em 1968.
No último capítulo, Hersh faz uma avaliação da situação no Oriente Médio após o 11 de Setembro. "As coisas não saíram como planejado. O terrorismo, em vez da democracia, se espalha agora pela região. [Arábia Saudita, Irã, Síria, Israel e Turquia] foram diretamente afetados pelo caos na região, para o qual o governo Bush parece ter poucas respostas. O resultado: tensão e perigo agravados."
Apesar de a história no Iraque estar longe do fim, "Cadeia de Comando" é forte o suficiente para no futuro ser visto como um retrato definidor do período e do governo Bush, com a mesma autoridade que "Todos os Homens do Presidente", de Carl Bernstein e Bob Woodward, narra Watergate e a queda de Richard Nixon.
Especial
Leia mais sobre o Iraque sob tutela
Leia mais sobre as eleições nos EUA
Leia o que já foi publicado sobre Seymour Hersh
Livro faz tanto estrago quanto um carro-bomba
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da Folha de S.Paulo
Certamente quando disse que Seymour Hersh era "a coisa mais próxima de um terrorista que existe no jornalismo americano", Richard Perle, ex-assessor do presidente George W. Bush, não tinha a menor intenção de fazer um elogio. Mas a frase enobrece como uma medalha no peito, e o livro que o veterano jornalista está lançando agora é mais uma prova de que ele pode causar tantos estragos na Casa Branca quanto alguns carros-bombas no Iraque.
"Cadeia de Comando --A Guerra de Bush, do 11 de Setembro às Torturas de Abu Ghraib" (ed. Ediouro, 398 págs.) é um ataque tão contundente à administração do 43º presidente americano quanto o filme "Fahrenheit 11 de Setembro", mas sem as pirotecnias habituais de Michael Moore.
Terminado no mês passado, o livro, ao mesmo tempo em que recapitula fracassos militares e dos serviços de inteligência --que fazem o leitor se perguntar se por acaso o inspetor Clouseau não recebeu o seu treinamento nos EUA--, apresenta informações novas. Hersh sustenta que o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e a assessora para Segurança Nacional, Condoleezza Rice, foram alertados em 2002 e 2003 sobre os excessos em Guantánamo.
A maior parte das críticas arrasadoras a Bush e sua equipe está na boca de incontáveis funcionários da CIA, do FBI, da Casa Branca e de outros órgãos governamentais que não têm seus nomes revelados. "Há honra nesse anonimato", diz Hersh ao explicar que eles não podem ser identificados "por razões óbvias".
O que dá força às informações reveladas é a credibilidade do jornalista, construída com os furos acumulados em décadas de carreira --como a denúncia do massacre de My Lai na Guerra do Vietnã, em 1968.
No último capítulo, Hersh faz uma avaliação da situação no Oriente Médio após o 11 de Setembro. "As coisas não saíram como planejado. O terrorismo, em vez da democracia, se espalha agora pela região. [Arábia Saudita, Irã, Síria, Israel e Turquia] foram diretamente afetados pelo caos na região, para o qual o governo Bush parece ter poucas respostas. O resultado: tensão e perigo agravados."
Apesar de a história no Iraque estar longe do fim, "Cadeia de Comando" é forte o suficiente para no futuro ser visto como um retrato definidor do período e do governo Bush, com a mesma autoridade que "Todos os Homens do Presidente", de Carl Bernstein e Bob Woodward, narra Watergate e a queda de Richard Nixon.
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