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29/12/2004 - 22h41

Jornalista capixaba diz que escapou de maremoto por "sorte"

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SILVIO NAVARRO
da Agência Folha

A jornalista capixaba Gyulianna Cipriano Loureiro, 25, disse que escapou do desastre de domingo (26) por "sorte". No dia anterior, ela e um grupo de amigos estrangeiros ficaram desapontados após não conseguirem se hospedar numa pousada à beira-mar na praia de Unawatuna (122 km da capital, Colombo) no Sri Lanka.

"Como chegamos no final da tarde, só havia vaga em pousadas longe da praia. Essa foi a nossa sorte", afirmou, nesta quarta-feira, à Folha.

No domingo, apenas algumas horas depois, a praia na qual a brasileira estava foi devastada pelas ondas gigantescas que atingiram oito países da Ásia e da África em razão de um terremoto no oceano Índico.

Gyulianna Loureiro diz ainda que "teve sorte de novo". Ainda na madrugada de domingo, ela estendeu uma canga na praia, próximo a um bar "que até tocava música brasileira". Pretendia passar a noite lá. "Mas, do nada, comecei a tremer de frio, chamei meus amigos e fomos para a pousada dormir", disse.

"Às 9h [de domingo] acordei com um barulho de chuva e quando notei havia água preta, suja, entrando pela porta. Tentei abrir a porta, mas estava emperrada. Comecei a gritar pelo dono da pousada e ele me falou para eu ficar lá porque havia mais água vindo", disse Loureiro, que participa de um programa de intercâmbio no país asiático.

"Era como uma enchente de água suja. A água subiu muito rápido e continuei gritando para abrir a porta porque a janela tinha grades e não dava para sair. Ele [o dono da pousada] chutou a porta, peguei minhas coisas e fui para o segundo andar", completou.

Ela afirma que, apavorada, tentou mandar mensagens via celular para amigos que estavam em Colombo para saber o que estava ocorrendo. Minutos depois, relata, chegaram dois amigos estrangeiros "gritando feito loucos para a gente fugir, ir para as montanhas".

"Eles contaram que estavam dormindo quando a onda arrebentou a porta do quarto e eles ficaram boiando com o nariz no teto. A onda vinha e voltava com tanta força que parecia uma descarga, sugando tudo, e foi nessa hora que conseguiram correr para o telhado", disse.

Desespero

A capixaba afirmou que a situação da população local após a tragédia é desesperadora. Segundo ela, sem ferramentas, as famílias usam cascas de coco para abrir covas e enterrar seus mortos.

"Vi um pai tirando um bebê morto dentre os escombros, um velho sendo carregado, outros desesperados tentando parar os carros na estrada destruída. Vi muita tristeza, parecia que tinha passado um furacão, casas estraçalhadas, corpos no asfalto", disse.

Após o maremoto, a brasileira e o grupo de amigos buscaram refúgio num templo budista, em área montanhosa. Segundo ela, o local abrigou cerca de 200 pessoas, a maioria turistas, que foram alimentados pelos monges. O grupo de cerca de 20 pessoas conseguiu carona num caminhão que seguia para Ratnapura.

No dia seguinte, ela viajou para Colombo e telefonou para os pais, que vivem em Vitória (ES). Ela também enviou e-mails para amigos nos quais afirma que "mesmo com tantas imagens vivas é difícil cair a ficha".

Ajuda oficial

A brasileira afirmou que falta água potável e disse ter sido alertada por uma mensagem no celular para não consumir frutos do mar devido a um vírus, o qual chamou de "zunila". "A água da torneira está contaminada, as pessoas tem de comprar água. Aqui tem malária, cólera, febre tifóide, mas não ouvi nada sobre surtos. Tudo que é oficial é muito complicado aqui, não funciona."

Loureiro reclama do auxílio prestado pelo governo local. "Somente dois médicos [turistas] estavam prestando socorro. Os políticos e o governo chegaram no final, com alguns mantimentos e câmera de TV", disse. "Três dias depois chegaram três caixas de mantimentos e o ministro veio apertar a mão das pessoas para dizer que fez o que tinha de fazer."

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