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03/04/2005
-
15h08
CLÓVIS ROSSI
Enviado especial a Roma
CATIA SEABRA
da Folha de S.Paulo
Ainda que se recuse a falar em seu nome para a sucessão de João Paulo 2º, o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, reconheceu ontem que a escolha de um representante da América Latina seria um incentivo à adesão de novos fiéis no continente. Na última década, a evasão foi de 10%. "Com certeza, o povo ficaria muito feliz e estimulado a consolidar sua fé", disse d. Cláudio.
Ao longo de todo o dia, ele insistiu, no entanto, em que a questão geográfica é "secundária". Segundo ele, "a grande responsabilidade" será escolher o "homem que Deus indicou para estar à frente da igreja neste momento histórico". Para ele, este é um momento de "ebulição", sendo um dos maiores desafios da igreja, além do combate à pobreza, os avanços biotecnológicos.
"Será um novo tempo para a Igreja. Todo papa é diferente do outro. Cada um cumpre uma missão dentro de certo momento histórico. O novo papa será diferente. O mundo já exige essa diferenciação. A humanidade caminha. O mundo anda. E a igreja não pode dar respostas velhas para perguntas novas", diz D. Cláudio, que parte amanhã para Roma.
O arcebispo surge em praticamente todas as listas de principais candidatos a suceder João Paulo 2º publicadas pelos jornais da Itália. É um dos quatro ressaltados por Marco Politi, talvez o mais famoso vaticanista italiano. No jornal "Corriere della Sera", d. Cláudio entra na lista de sete favoritos.
Politi diz que "contatos e alianças [entre os cardeais] já estão em curso há muitos anos, e alguns blocos até já começaram a se formar" para o Conclave. Mas ele próprio adverte: "Tudo muda quando o jogo se tornar real".
O jogo está começando a se tornar real: muitos dos cardeais que formarão o colégio eleitoral já estão viajando para a Roma (são 117 já conhecidos e um 118º mantido em sigilo, como escolha "in pectore" de João Paulo 2º).
Ficarão juntos durante os "novendiali", os nove dias que duram as cerimônias fúnebres, e mais seis ou 11 dias até o início do Conclave, sem contar a duração do próprio Conclave.
Tempo suficiente, portanto, para que a eleição do novo papa já esteja praticamente definida quando os 118 cardeais forem trancados à chave na capela Sistina, até que elejam o novo papa.
D. Cláudio, franciscano de 70 anos, é descrito pelos vaticanistas como defensor de uma linha mais social para a igreja, embora de forma mais moderada do que os "teólogos da libertação".
A lista mais restrita de Marco Politi começa com Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão, 71, o nome que mais assiduamente freqüenta a relação de "papabili". É um admirador do Opus Dei, o grupo conservador prestigiado por João Paulo 2º.
Há uma impressão dominante em Roma de que a eleição será controlada do túmulo por João Paulo 2º, uma vez que ele indicou 114 dos 117 cardeais com direito a voto e também o "in pectore".
"O próximo Conclave será determinado pelos nomeados do atual papa numa proporção nunca vista desde a morte de Leão 13, em 1903, quando todos os cardeais eram criação sua, salvo o decano de todos, Luigi Oreglia di Santo Stefano", diz, por exemplo, John-Peter Pham, da Universidade James Madison (EUA).
Mas um dos "papabili", d. Cláudio, tem uma explicação menos político-eleitoral para esse predomínio de indicações do atual papa: trata-se simplesmente de uma conseqüência de um papado tão longo (26 anos), o que implica necessariamente indicar grande número de cardeais, o que não significa que todos sigam fielmente a linha de quem os nomeou.
Concorda com d. Cláudio o jornalista John L. Allen, autor de "Conclave": "A história sugere que colégios de cardeais apontados por um papa não elegem uma cópia-carbono como seu sucessor". Completa: "De fato, a corrida [pela sucessão] está bastante indefinida, e há fortes razões políticas e burocráticas para esperar que o próximo sucessor de são Pedro [o primeiro papa, segundo a tradição] seja um moderado".
Como "moderado" é um rótulo que acompanha d. Cláudio, seria mais um involuntário sinal de suas possibilidades. Mas o próprio arcebispo de São Paulo costuma repetir um ditado romano, segundo o qual "quem entra papa no Conclave sai cardeal".
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Para d. Cláudio Hummes, novo papa será "diferente"
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Enviado especial a Roma
CATIA SEABRA
da Folha de S.Paulo
Ainda que se recuse a falar em seu nome para a sucessão de João Paulo 2º, o arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes, reconheceu ontem que a escolha de um representante da América Latina seria um incentivo à adesão de novos fiéis no continente. Na última década, a evasão foi de 10%. "Com certeza, o povo ficaria muito feliz e estimulado a consolidar sua fé", disse d. Cláudio.
Ao longo de todo o dia, ele insistiu, no entanto, em que a questão geográfica é "secundária". Segundo ele, "a grande responsabilidade" será escolher o "homem que Deus indicou para estar à frente da igreja neste momento histórico". Para ele, este é um momento de "ebulição", sendo um dos maiores desafios da igreja, além do combate à pobreza, os avanços biotecnológicos.
"Será um novo tempo para a Igreja. Todo papa é diferente do outro. Cada um cumpre uma missão dentro de certo momento histórico. O novo papa será diferente. O mundo já exige essa diferenciação. A humanidade caminha. O mundo anda. E a igreja não pode dar respostas velhas para perguntas novas", diz D. Cláudio, que parte amanhã para Roma.
O arcebispo surge em praticamente todas as listas de principais candidatos a suceder João Paulo 2º publicadas pelos jornais da Itália. É um dos quatro ressaltados por Marco Politi, talvez o mais famoso vaticanista italiano. No jornal "Corriere della Sera", d. Cláudio entra na lista de sete favoritos.
Politi diz que "contatos e alianças [entre os cardeais] já estão em curso há muitos anos, e alguns blocos até já começaram a se formar" para o Conclave. Mas ele próprio adverte: "Tudo muda quando o jogo se tornar real".
O jogo está começando a se tornar real: muitos dos cardeais que formarão o colégio eleitoral já estão viajando para a Roma (são 117 já conhecidos e um 118º mantido em sigilo, como escolha "in pectore" de João Paulo 2º).
Ficarão juntos durante os "novendiali", os nove dias que duram as cerimônias fúnebres, e mais seis ou 11 dias até o início do Conclave, sem contar a duração do próprio Conclave.
Tempo suficiente, portanto, para que a eleição do novo papa já esteja praticamente definida quando os 118 cardeais forem trancados à chave na capela Sistina, até que elejam o novo papa.
D. Cláudio, franciscano de 70 anos, é descrito pelos vaticanistas como defensor de uma linha mais social para a igreja, embora de forma mais moderada do que os "teólogos da libertação".
A lista mais restrita de Marco Politi começa com Dionigi Tettamanzi, arcebispo de Milão, 71, o nome que mais assiduamente freqüenta a relação de "papabili". É um admirador do Opus Dei, o grupo conservador prestigiado por João Paulo 2º.
Há uma impressão dominante em Roma de que a eleição será controlada do túmulo por João Paulo 2º, uma vez que ele indicou 114 dos 117 cardeais com direito a voto e também o "in pectore".
"O próximo Conclave será determinado pelos nomeados do atual papa numa proporção nunca vista desde a morte de Leão 13, em 1903, quando todos os cardeais eram criação sua, salvo o decano de todos, Luigi Oreglia di Santo Stefano", diz, por exemplo, John-Peter Pham, da Universidade James Madison (EUA).
Mas um dos "papabili", d. Cláudio, tem uma explicação menos político-eleitoral para esse predomínio de indicações do atual papa: trata-se simplesmente de uma conseqüência de um papado tão longo (26 anos), o que implica necessariamente indicar grande número de cardeais, o que não significa que todos sigam fielmente a linha de quem os nomeou.
Concorda com d. Cláudio o jornalista John L. Allen, autor de "Conclave": "A história sugere que colégios de cardeais apontados por um papa não elegem uma cópia-carbono como seu sucessor". Completa: "De fato, a corrida [pela sucessão] está bastante indefinida, e há fortes razões políticas e burocráticas para esperar que o próximo sucessor de são Pedro [o primeiro papa, segundo a tradição] seja um moderado".
Como "moderado" é um rótulo que acompanha d. Cláudio, seria mais um involuntário sinal de suas possibilidades. Mas o próprio arcebispo de São Paulo costuma repetir um ditado romano, segundo o qual "quem entra papa no Conclave sai cardeal".
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