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19/04/2005 - 09h50

Embaixadora brasileira vê divergências entre Brasil e Vaticano

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RODRIGO WERNECK
Colaboração para a Folha Online, de Roma

Maior país católico do mundo, o Brasil diverge do Vaticano, país-sede da Igreja Católica, em questões morais, como o reconhecimento da união de homossexuais e a legalização do aborto. A constatação é da embaixadora brasileira na Santa Sé, Vera Machado, 58, que ocupa o cargo há sete meses.

A embaixadora diz que as diferenças não chegam a abalar o relacionamento entre o governo brasileiro e a Cúria Romana. Ela afirma também que em nenhum momento as posições distintas foram debatidas entre representantes das duas partes. "O que houve certamente foi um debate (do governo brasileiro) no âmbito da CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil)", disse.

Machado reconhece o perfil conservador da Cúria Romana --que, depois do papa, concentra o poder da Igreja Católica--, mas diz que o Vaticano respeita a postura do governo brasileiro, com quem "tem convergências em questões de política internacional e no combate à pobreza".

"Mas há outras (questões) que já não são mais tão convergentes. As questões de ordem moral, como de concepção da vida, de despenalização do aborto, do casamento de pessoas do mesmo sexo. [Os dois países] têm tido posturas diferentes, ao meu ver, mas não foi ainda uma questão debatida aqui, pelo menos até a morte do papa [João Paulo 2º]", afirmou.

Neste mês, a postura favorável do governo federal a respeito dos temas condenados pela Santa Sé provocou críticas do arcebispo do Rio, dom Eusébio Scheid. Ao chegar a Roma para participar do funeral do papa João Paulo 2o, ele declarou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva era u a pessoa "caótico, e não católica".

"O seu relacionamento com os gays. Quem foi que aprovou tudo aquilo? Deixou todos nós perplexos", declarou dom Eusébio. Em resposta, Lula disse ser "um homem de muita fé".

Pontos em comum

Na política internacional, a embaixadora brasileira crê na existência de um "alinhamento" de posições do Brasil e do Vaticano. Ela cita políticas como a criação de um fundo mundial de combate à pobreza como bandeira em comum dos dois governos.

"Em 2004, o papa [João Paulo 2º] designou o cardeal Angelo Sodano, secretário de Estado do Vaticano --até a morte do papa--, para participar do encontro de líderes mundiais convocado pelo presidente Lula em que foi discutida esta proposta em Nova York", afirma.

Outro ponto de convergência, segundo ela, seria o perdão da dívida externa dos países pobres.

Sobre o próximo papa, a embaixadora espera que o escolhido dos cardeais seja 'uma pessoa capaz de manter a mesma esperança deixada por João Paulo 2º e que tenha a mesma abertura para questões políticas internacionais". "É uma agenda carregada, mas eu torço também para que [o papa] seja alguém que dê atenção às questões da fome, da desigualdade social, e aceite a colaboração de todos, laicos e eclesiásticos", disse.

A respeito de João Paulo 2º, Vera Machado lembra que o sumo pontífice, que morreu no último dia 2, "tinha muito apreço pelo Brasil". "Na minha apresentação de credenciais, ele comentou que lembrava da música João de Deus e disse ter boas recordações de dom Lucas Moreira Neves [que morreu em 2002) e de dom Eugênio Salles [arcebispo emérito do Rio]", afirma.

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