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03/05/2005
-
12h52
CELINE PRIOUX
da France Presse, em Berlim
No próximo dia 10 de maio, a Alemanha inaugurará em Berlim (capital) o Memorial do Holocausto, um símbolo sem precedentes, já que até hoje nenhum país assumiu com tal intensidade um genocídio, neste caso o mais contundente da história, em pleno centro de sua capital.
No aniversário de 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa, o governo alemão --que tem feito uma autocrítica-- aborda seu passado com sensibilidade, mas sem esconder o sofrimento de seu povo.
O chanceler social-democrata Gerhard Schröder é um símbolo eloqüente desse passado doloroso: nascido um mês antes da derrota alemã, não conheceu seu pai, morto em combate em 1944. Schröder também foi o primeiro chefe de governo alemão que aceitou participar das cerimônias comemorativas do desembarque na Normandia e estará entre as autoridades que celebrarão o fim da guerra em Moscou.
Nenhum de seus antecessores, todos que vivenciaram a guerra, havia realizado gestos semelhantes.
"O Holocausto faz parte da identidade dos alemães", afirmou o chanceler por ocasião do 60º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Sem culpa por ter nascido muito tarde, vítima da guerra na qualidade de meio órfão, Schröder se mostra menos incomodado que seus predecessores a respeito do passado.
Essa atitude responde às expectativas perceptíveis em certos segmentos da sociedade.
Regime nazista
A última geração de contemporâneos do regime nazista, de alemães que eram crianças e adolescentes durante o Terceiro Reich, ao fazer o balanço de sua vida lembra seus traumas: bombardeios, fuga do Exército Vermelho, perda da terra natal.
Estes sofrimentos voltam agora. Os fantasmas foram ressuscitados em 2001 com a publicação do romance "A Marcha do Caranguejo" ("Im Krebsgang"), do escritor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura.
"Voltam, pois nos anos 50, depois da criação da República Federal (Alemanha Ocidental), esse tema era um dos prediletos dos alemães, pois permitia que se vissem como as primeiras vítimas de Hitler, pagando as conseqüências sociais e econômicas de uma guerra perdida', afirma o historiador alemão Norbert Frei.
Domínio soviético
Na antiga República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental), que viveu quase meio século sob domínio soviético, os sofrimentos eram um tema tabu: o governo comunista considerava ter sido libertado pelos soviéticos, lembra o presidente da Câmara dos Deputados, o alemão do leste Wolfgang Thierse.
Os sofrimentos invocados pelos alemães da região ocidental do país, acusados pela propaganda aliada, foram sepultados nos anos 60. A geração do pós-guerra, sobretudo os jovens que se rebelaram em 1968, acusou seus pais de terem feito um balanço muito rápido de seus crimes e de terem reintegrado muitos ex-dirigentes do regime nazista.
O maior esforço em esclarecer o passado foi, provavelmente, o "processo de Auschwitz", realizado em Frankfurt, que em agosto de 1965 condenou as autoridades nazistas que haviam escapado da depuração pós-1945, disse o historiador Frei.
Quarenta anos depois do fim da guerra, em 1985, o ex-presidente alemão ocidental Richard von Weizsäcker (1984 a 1994) se atreveu a falar de "libertação" para os deputados da Bundestag.
"Esse discurso modificou consideravelmente a visão da história e da cultura alemã da recordação", reconheceu Schröder em uma recente carta enviada ao ex-presidente.
Foi um ponto de ruptura. "Depois de 1945, era impossível utilizar esse termo. Para os Aliados, não se tratava de libertar a Alemanha, e sim de libertar o mundo do agressor nazista", analisa Frei. "Para os alemães, com exceção de alguns resistentes e perseguidos, se tratava mais de uma derrota, e muitos deles a receberam com um suspiro de alívio", acrescenta.
Na antiga Alemanha Oriental, o dia 8 de maio, chamado desde o início de "Dia da Libertação", era feriado. O termo, no entanto, era rejeitado por muitos habitantes, convencidos de que a chegada dos soviéticos havia marcado o início de outra ditadura.
Especial
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Alemanha inaugura Memorial do Holocausto na próxima terça-feira
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da France Presse, em Berlim
No próximo dia 10 de maio, a Alemanha inaugurará em Berlim (capital) o Memorial do Holocausto, um símbolo sem precedentes, já que até hoje nenhum país assumiu com tal intensidade um genocídio, neste caso o mais contundente da história, em pleno centro de sua capital.
No aniversário de 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) na Europa, o governo alemão --que tem feito uma autocrítica-- aborda seu passado com sensibilidade, mas sem esconder o sofrimento de seu povo.
O chanceler social-democrata Gerhard Schröder é um símbolo eloqüente desse passado doloroso: nascido um mês antes da derrota alemã, não conheceu seu pai, morto em combate em 1944. Schröder também foi o primeiro chefe de governo alemão que aceitou participar das cerimônias comemorativas do desembarque na Normandia e estará entre as autoridades que celebrarão o fim da guerra em Moscou.
Nenhum de seus antecessores, todos que vivenciaram a guerra, havia realizado gestos semelhantes.
"O Holocausto faz parte da identidade dos alemães", afirmou o chanceler por ocasião do 60º aniversário da libertação do campo de concentração de Auschwitz, na Polônia. Sem culpa por ter nascido muito tarde, vítima da guerra na qualidade de meio órfão, Schröder se mostra menos incomodado que seus predecessores a respeito do passado.
Essa atitude responde às expectativas perceptíveis em certos segmentos da sociedade.
Regime nazista
A última geração de contemporâneos do regime nazista, de alemães que eram crianças e adolescentes durante o Terceiro Reich, ao fazer o balanço de sua vida lembra seus traumas: bombardeios, fuga do Exército Vermelho, perda da terra natal.
Estes sofrimentos voltam agora. Os fantasmas foram ressuscitados em 2001 com a publicação do romance "A Marcha do Caranguejo" ("Im Krebsgang"), do escritor alemão Günter Grass, Prêmio Nobel de Literatura.
"Voltam, pois nos anos 50, depois da criação da República Federal (Alemanha Ocidental), esse tema era um dos prediletos dos alemães, pois permitia que se vissem como as primeiras vítimas de Hitler, pagando as conseqüências sociais e econômicas de uma guerra perdida', afirma o historiador alemão Norbert Frei.
Domínio soviético
Na antiga República Democrática Alemã (RDA, Alemanha Oriental), que viveu quase meio século sob domínio soviético, os sofrimentos eram um tema tabu: o governo comunista considerava ter sido libertado pelos soviéticos, lembra o presidente da Câmara dos Deputados, o alemão do leste Wolfgang Thierse.
Os sofrimentos invocados pelos alemães da região ocidental do país, acusados pela propaganda aliada, foram sepultados nos anos 60. A geração do pós-guerra, sobretudo os jovens que se rebelaram em 1968, acusou seus pais de terem feito um balanço muito rápido de seus crimes e de terem reintegrado muitos ex-dirigentes do regime nazista.
O maior esforço em esclarecer o passado foi, provavelmente, o "processo de Auschwitz", realizado em Frankfurt, que em agosto de 1965 condenou as autoridades nazistas que haviam escapado da depuração pós-1945, disse o historiador Frei.
Quarenta anos depois do fim da guerra, em 1985, o ex-presidente alemão ocidental Richard von Weizsäcker (1984 a 1994) se atreveu a falar de "libertação" para os deputados da Bundestag.
"Esse discurso modificou consideravelmente a visão da história e da cultura alemã da recordação", reconheceu Schröder em uma recente carta enviada ao ex-presidente.
Foi um ponto de ruptura. "Depois de 1945, era impossível utilizar esse termo. Para os Aliados, não se tratava de libertar a Alemanha, e sim de libertar o mundo do agressor nazista", analisa Frei. "Para os alemães, com exceção de alguns resistentes e perseguidos, se tratava mais de uma derrota, e muitos deles a receberam com um suspiro de alívio", acrescenta.
Na antiga Alemanha Oriental, o dia 8 de maio, chamado desde o início de "Dia da Libertação", era feriado. O termo, no entanto, era rejeitado por muitos habitantes, convencidos de que a chegada dos soviéticos havia marcado o início de outra ditadura.
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