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20/05/2005 - 20h11

Análise: Desunião européia afeta integração na América Latina

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BEATRIZ LECUMBERRI
da France Presse, em Paris

Um possível "não" francês pode significar um fracasso para o processo de integração política da União Européia (UE), com repercussões também na América Latina, que tem na Europa um modelo e inspiração de construção regional.

"A UE sempre foi um exemplo para a América Latina, onde todos os processos de integração regional se inspiraram nela diretamente. Um 'não' francês seria um balde de água fria do ponto de vista político e algo muito negativo para a imagem européia na região", disse Olivier Compagnon, do Instituto de Estudos da América Latina (IHEAL, na sigla em francês), com sede em Paris.

Os esforços da Comunidade Andina de Nações (CAN) para se tornar uma força política ou as constantes missões de observação do Mercosul a Bruxelas mostram que, para a América Latina, o modelo europeu é "o melhor exemplo" de uma integração regional que não precisou contar, de maneira direta, com os Estados Unidos.

Os especialistas dizem acreditar que se o "não" triunfar na França e a Constituição for bloqueada na Europa não haverá conseqüências comerciais e a relação econômica entre ambas as regiões continuará intacta. "Mas se o 'não' ganhar, a construção da integração regional na América Latina sofrerá a ausência de um modelo", concordam os especialistas do IHEAL.

Por outro lado, ainda segundo Compagnon, figuras latino-americanas como os presidentes venezuelano, Hugo Chávez; brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ou grupos como a Frente Ampla, no Uruguai, que defendem o projeto de integração latino-americana sem os EUA e sem inspiração neoliberal, veriam um "não" francês de forma diferente.

Neoliberalismo

"Essa nova esquerda e vários movimentos sociais podem entender o movimento francês como um sinal forte e positivo da Europa contra o neoliberalismo", afirmou.

Nesse sentido, o analista internacional Isaac Bigio diz que "na América Latina crescem os movimentos sociais que se opõem aos tratados de livre comércio e à globalização".

Segundo ele, um "não" à Constituição européia na França dará mais confiança a essas forças contrárias a acelerar processos de integração, em particular com os EUA.

"Os sindicalistas bolivianos que lutam por um maior controle do Estado sobre a exploração e produção de combustíveis, os sem-terra do Brasil ou os que saíram às ruas do México recentemente sentem simpatia pelo setor da esquerda francesa que faz campanha pelo 'não'", afirmou.

O especialista lembrou que o Tratado Constitucional Europeu estabelece que as ilhas Malvinas, ocupadas pelo Reino Unido em 1833 e objeto de uma guerra nos anos 80, são parte do território de aplicação desta Constituição, ou seja, são consideradas de posse britânica, o que incomodou bastante o governo argentino.

"De qualquer maneira, não podemos generalizar. Eu conheço um sindicalista venezuelano que ficaria feliz se o 'não' ganhasse, porque seria uma contestação forte à Europa neoliberal, e um líder da CAN para o qual seria uma verdadeira catástrofe", comentou Compagnon.

De fato, na América Latina, as reações a Constituição européia são as mais diversas. Em um recente artigo de Carlos Fuentes intitulado "Mariana dí que sí" (em referência à figura feminina simbolizada pela França), o escritor mexicano ressalta que a América Latina precisa de modelos europeus.

Para Fuentes, a partir de 29 de maio próximo, a França pode mostrar ainda que o unilateralismo não é o caminho e "o multilateralismo ou pacto de nações é o mais próximo da paz e do direito".

Especial
  • Leia o que já foi publicado sobre a Constituição européia
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