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16/06/2005 - 20h10

Leia a íntegra do bate-papo com a jornalista Carolina Vila-Nova

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da Folha Online

Confira abaixo a íntegra do bate-papo com a jornalista Carolina Vila-Nova, 29, repórter do caderno Mundo da Folha de S.Paulo. A jornalista viajou a La Paz, capital boliviana, para cobrir a crise política e institucional no país.

O bate-papo ocorreu no dia 16 de junho, às 17h. Participaram do chat 324 pessoas.

ÍNTEGRA

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

(05:07:32) Carolina Vila-Nova: Olá, pessoal! É um prazer estar aqui com vocês. Estou às ordens para perguntas!

(05:09:01) mesa e cadeira: Você acredita que a solução para a crise da Bolívia está perto de ser equacionada?

(05:10:03) Carolina Vila-Nova: Não, muito pelo contrário. Todos os temas que estavam na pauta de reivindicação dos movimentos sociais, como a nacionalização dos hidrocarbonetos, ainda estão por ser resolvidas. É uma crise de longo prazo, que apenas está em trégua.

(05:10:15) Sancho: Carolina, boa tarde. Acompanhei o seu trabalho. É possível dizer que esta crise boliviana pode afetar toda estrutura econômica da AL? Afinal todo mundo consome o petróleo deles!

(05:10:55) Carolina Vila-Nova: Olá, Sancho. É certamente uma crise que terá impacto para muitos países da região, a começar pelo Brasil, que depende do gás boliviano.

(05:11:04) mesa e cadeira: Olá! Parabéns pelo seu trabalho. Quero saber se você correu algum tipo de perigo de vida na sua cobertura da crise na Bolívia?

(05:12:11) Carolina Vila-Nova: Olá, Mesa e Cadeira. Não cheguei a correr perigo de vida, apesar da tensão e da violência de alguns manifestantes.

(05:12:11) Bolivar: Carolina, você acredita que o processo que ocorreu na Bolívia pode se estender a outros países da América do Sul?

(05:14:31) Carolina Vila-Nova: Caro Bolivar, a crise da Bolívia tem aspectos muito particulares, pelo fato de ser um país majoritariamente indígena e de ter a segunda maior reserva de gás na região. Não acredito que crises desse tipo simplesmente se "repliquem", se esse é o termo certo. A Bolívia, aliás, é um país em que a estabilidade é uma exceção e não uma regra _e em outros momentos a crise lá não provocou crises semelhantes nos demais países.

(05:14:59) mesa e cadeira: E como o Brasil pode ser afetado por essa crise?

(05:16:42) Carolina Vila-Nova: Mesa e cadeira, o Brasil é afetado na medida em que depende das exportações de gás da Bolívia. Na semana passada, por exemplo, grupos indígenas tomaram sete campos de exploração de gás e de petróleo, impedindo o fluxo de exportação. Além disso, uma eventual nacionalização dos hidrocarburos afetaria os negócios da Petrobras lá.

(05:16:51) bolívar: Carol, o filme The Corporatin (não sei se assistiu) mostra que já chegaram a tentar privatizar até a água da chuva na Bolivia. Você não acha que as megacorporações estão tentando devorar esse país, na verdade?

(05:18:07) Carolina Vila-Nova: Bolivar, não tenho conhecimento sobre essa informação. Mas sem dúvida os bolivianos estão questionando a propriedade dos recursos naturais do país, que no caso do gás e do petróleo está nas mãos de empresas multinacionais.

(05:18:09) isis: Você acha que o novo presidente pode conter os calorosos protestos que milhares de bolivianos estão fazendo pela nacionalização do gás?

(05:19:57) Carolina Vila-Nova: Olá, Isis. Acho que não. É um presidente provisório e cuja principal atribuição vai ser convocar eleições. As demais questões, como a nacionalização, vão ser deixadas para depois do pleito. Vai depender então de quão rapidamente ele vai conseguir fechar um acordo político para convocar eleições gerais. Quanto mais demorar, maiores são as chances dos movimentos voltarem às ruas para cobrar o cumprimento de suas demandas.

(05:20:31) Paulo: Carlos Mesa é um homem das esquerda. Lula é um homem da esquerda. Por que é que as esquerdas abandonam seus líderes?

(05:21:02) Carolina Vila-Nova: Olá, Paulo. Desculpa, não entendi a pergunta. Aliás, o Mesa é de esquerda?

(05:21:11) toni: Como vc avalia a cobertura jornalista de américa latina no Brasil? É diferente nos demais países vizinhos?

(05:22:47) Carolina Vila-Nova: Olá, Toni. Acho que os jornais brasileiros estão começando a priorizar a cobertura sobre a América Latina, talvez até seguindo a política adotada pelo governo Lula, que busca uma atuação influente nessa região. Mas não tenho como comparar com a cobertura dos demais países.

(05:22:53) bolívar: Qual a sua sensação sobre o sentimento que os bolivianos têm pelos brasileiros? Há uma certa simpatia por Lula? Eles acham que o Brasil pode ajudá-los.

(05:24:59) Carolina Vila-Nova: Bolivar, fui super bem tratada na Bolívia. Mas, no clima atual de tensão, senti um rechaço pelo estrangeiro de modo geral, e em especial pelos estrangeiros que têm multinacionais lá. Há uma simpatia pelo Lula, pelo fato de ser um trabalhador que chegou à Presidência, mas ao mesmo tempo o Brasil é visto como um empecilho à nacionalização.

(05:24:59) sk8: Carolina, você acredita que o processo que ocorreu na Bolívia pode se estender a outros países da América do Sul?

(05:26:42) Carolina Vila-Nova: Olá, sk8. Respondi a essa pergunta feita por outro internauta. Minha avaliação é que a Bolívia é um caso bastante particular, tem condições que não se repetem nos demais países e que crises profundas como a que vive o país simplesmente não se repetem facilmente nos demais países.

(05:27:01) Mena: Como está dividido o país nesta crise?

(05:29:25) Carolina Vila-Nova: Olá, Mena. A Bolívia está vivendo um cenário de intensa fragmentação, são vários líderes competindo um com o outro para ver quem controla mais gente, quem tem mais influência, etc. A divisão básica seria entre o ocidente e o oriente do país. O primeiro, mais empobrecido, que pede pela assembléia constituinte e pela nacionalização dos hidrocarbonetos. Já o oriente abarca as regiões mais ricas do país, e são essas regiões que pedem autonomia em relação a La Paz e se opõem totalmente à nacionalização.

(05:29:59) Toy: gostaria de saber de vce, porque um país tão rico em recursos naturais, vive um momento tão delicado, aculpa é somente dos políticos?

(05:32:00) Carolina Vila-Nova: Oi, Toy. A questão, para os bolivianos, é quem são os donos desses recursos naturais. É o Estado? São as multinacionais? Para os bolivianos, os benefícios dessa riqueza de recursos não está chegando nas mãos da população. Para completar, eles vêem com muito ceticismo a classe política, o Congresso, os partidos, que nada fizeram para reverter essa situação. Acreditam que os políticos não os representam.

(05:32:19) camos: carolina primeiramente acompanho se otimo trabalho a tempos parabens pela sua autenticidade

(05:32:37) Carolina Vila-Nova: Olá, Camos, obrigada.

(05:32:45) Belluzo: Olá Carolina. Como vc contextualiza a crise atual com as medidas neoliberais feitas há mais de uma década, sugeridas pelo Consenso de Washington?

(05:36:02) Carolina Vila-Nova: Oi, Belluzo. A crise atual é um reflexo da adoção dessas políticas em governos anteriores, sem dúvida, e o ponto crucial está no questionamento das privatizações e na entrega do manejo de recursos importantes às multinacionais. Falamos muito de hidrocarbonetos, mas também está em questão, por exemplo, a privatização da água.

(05:36:08) CarlosBolivia: Carolina, qual a posiçao dos militares bolivianos neste quadro de crise do atual momento de bolivia

(05:38:46) Carolina Vila-Nova: CarlosBolivia, a posição dos militares têm sido a de evitar uma interferência militar nos temas políticos. O alto comando militar expressou diversas vezes a necessidade de um pacto político, o que sinaliza uma mudança importante em relação a outros períodos da história da Bolívia, marcada por golpes militares. Por decisão do Mesa, as Forças Armadas não agiram em nenhum momento para controlar o caos social, nem mesmo nas horas mais críticas _o que, aliás, lhe rendeu críticas de setores da população que queriam uma mão mais forte contra os manifestantes.

(05:38:52) vladi: vc não acha que essa situação que está ocorrendo na Bolívia é um reflexo que poderá se agravar nos países de 3º mundo? a desigualdade... a corrupção de nossos governantes?

(05:41:12) Carolina Vila-Nova : Oi, Vladi. Diversos países latino-americanos já experimentam exatamente isso, desigualdade, corrupção... Talvez influencie na percepção que as populações têm sobre maneiras para fazer suas reivindicações.

(05:41:18) Rivas, João: Boa tarde. Os EUA congitaram o envio de tropas para assegurar paz na Bolívia, com uma forma de apaziguar e garantir a democracia, isto é possível num futuro próximo.

(05:42:45) Carolina Vila-Nova: Oi, João. Os EUA sugeriram o envio de uma missão sob orientação da OEA, desconheço informações sobre envio de tropas. O que sim se sabe é que haveria forte rechaço norte-americano à eleição, por exemplo, de Evo Morales como presidente.

(05:42:51) morena: Boa tarde carolina, sou bolivana mas moro no Brasil ha dez anos e me preocupa essa situação, pois tenho meus irmão morando lá, e eles dizeram que o Evo Morales está recebendo dinheiro do Hugo Chaves para fazer da Bolivia um país socialista igual que Cuba, será que isso pode vir a acontecer, já que dizem esta entrando muito dinheiro para o índio tomar as redeas do país, o que vc acha disso?

(05:45:49) Carolina Vila-Nova: Boa tarde, morena. Analistas falam que Evo Morales recebe dinheiro de várias fontes, como da coca, de ONGs internacionais e da tal "solidariedade bolivariana". Não há, porém, provas sobre isso. Além disso, o Evo Morales têm hoje um forte rechaço da população das grandes cidades, creio que sua popularidade está em torno de 9%. O que não significa que ele não possa assumir a presidência do país num ´cenário de "falta de opções".

(05:45:55) tomás: E, no caso da convocação de novas eleições, qual seria o cenário provável para o pleito?

(05:48:56) Carolina Vila-Nova: Tomás, nesse momento, nenhum provável candidato tem mais de 25% das intenções de voto. Se as eleições forem convocadas rapidamente, os candidatos terão pouco tempo para fazer campanha. Tem um negócio estranho na legislação boliviana que diz que, não sendo eleito o presidente no primeiro turno, o segundo turno é decidido apenas pelo Congresso entre os dois mais votados, e não pelo voto direto .Caso isso venha a ocorrer, os bolivianos podem vir a ter novamente um presidente fraco, eleito sem o apoio da maioria da população, o que é um cenário complicado.

(05:49:02) Dani: Você acha que a autonomia dos departamentos será aprovada pelo governo?

(05:51:24) Carolina Vila-Nova: Dani, a autonomia promete ser uma dor de cabeça para o presidente Rodríguez. Todos os pontos da agenda, incluindo a autonomia, devem ser adiados para depois das eleições. O problema é que o departamento de santa cruz está insistindo em realizar o plebiscito sobre as autonomias e a eleição de prefeitos nopróximo dia 12 de agosto, possivelmente passando por cima de um acordo de trégua com o Rodríguez. Mas respondendo mais diretamente sua pergunta, esse tema não está em discussão agora. A prioridade é realizar eleições.

(05:51:36) Paulo: Qual é a solução para a falta de liderança entre os revoltados? Particionar o país? Uma guerra civil?

(05:53:11) Carolina Vila-Nova: oi, Paulo. A tendência é que os diversos líderes entre os revoltados, como você diz, busquem integrar-se ao jogo democrático por meio das eleições, como o próprio Evo Morales no passado. É preciso esperar para ver.

(05:53:35) Belluzo: Com a ascensão das forças mais "populares" na América do Sul nos últimos anos (panelaços na Argentina, manifestações na Colômbia e agora as insurgências na Bolívia), vc acha que corremos um certo risco da volta de populismos? A aparente fragilidade das instituições conseguiria evitar isso?

(05:57:23) Carolina Vila-Nova: Belluzo, a fragilidade das instituições, no caso boliviano, não é aparente, mas evidente. É tal o sucateamento das instituições que praticamente não há Estado. E essa fragilidade, longe de evitar, facilita a emergência de populismos. É preciso tomar cuidado para não confundir a emergência de forças populares com populismo, são fenômenos distintos.

(05:57:29) XANDE: QUAL A SITUAÇÃO DO SISTEMA PÚBLICO DE SAÚDE NA BOLÍVIA HOJE? EXISTE UM CAOS INSTALADO NO PAÍS?

(05:57:59) Carolina Vila-Nova: Xande, não conheço o sistema público de saúde boliviano. Desculpe, não posso responder sua pergunta.

(05:58:11) Dr Valcourt: A senhora acha que se o Sr Evo Morales for eleito ele ira estatizar as empresas que produzem gás?

(05:59:35) Carolina Vila-Nova: Dr Valcourt, enquanto a maioria dos movimentos e setores sociais pediam a nacionalização dos hidrocarbonetos, o Evo Morales vinha defendendo sua posição tadicional que é a da cobrança de 50% de royalties sobre a produção. Acredito que ele adotaria uma posição mais pragmática.

(05:59:53) Rob's_Pe: Voce axa q a impressa esta atrapalhando de alguma forma?

(06:00:17) Carolina Vila-Nova: Robs, a imprensa boliviana? a imprensa estrangeira?

(06:01:07) Carolina Vila-Nova: Pessoal, foi ótimo compartilhar com vocês um pouco da minha experiência na Bolívia. Agradeço a oportunidade. Um abraço a todos.

Especial
  • Enquete: o novo presidente nacionalizará os hidrocarbonetos?
  • Leia cobertura completa sobre a crise na Bolívia
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