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19/09/2000 - 02h18

Pivô da crise "some" e eleva tensão no Peru

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LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Lima

A instabilidade política no Peru aumentou ontem com a falta de notícias oficiais sobre a condição do chefe informal do SIN (Serviço de Inteligência do Nacional), Vladimiro Montesinos, pivô da crise.

Os rumores iam de um extremo ao outro. Falava-se que "Vlad", como é conhecido, fora preso, sem ordem judicial, a mando dos militares, na sede do SIN, em Las Palmas. Alguns integrantes da oposição, no entanto, diziam que ele não estava detido, mas preparando um golpe de Estado.

Alberto Bustamante, ministro da Justiça, negou que Montesinos estivesse detido e disse desconhecer sua "situação jurídica". Segundo o ministro, Montesinos está em Lima, mas o lugar é sigiloso, pois ele "tem muitos inimigos".

"Não podemos esquecer que ele é um protagonista muito especial e decisivo na luta contra o terrorismo e o narcotráfico", afirmou.

Mas boatos sobre a suposta prisão do principal assessor do presidente Alberto Fujimori voltaram a ocupar as conversas dos analistas políticos quando familiares de Montesinos entraram, na Justiça, com pedido de habeas corpus para garantir que o chefe do SIN não fique detido sem ordem judicial. O pedido foi negado.

Até as 21h (23h em Brasília), havia cerca de 7.000 manifestantes reunidos de forma pacífica na praça San Martín para protestar contra o escândalo do suposto suborno em troca de votos.

Falta de apoio

Na quinta passada, uma TV local mostrou um vídeo no qual Montesinos aparece supostamente pagando US$ 15 mil a um congressista de oposição para que passasse a votar com o governo.

As imagens detonaram a crise. Dois dias depois, o presidente Fujimori anunciou que convocaria nova eleição geral "no prazo mais breve possível", à qual não iria se candidatar. Também anunciou que acabaria com o SIN.

A falta de apoio interno e externo fez com que Fujimori _há dez anos à frente da Presidência do Peru_ decidisse abrir mão do seu terceiro mandato consecutivo, para o qual foi eleito em maio.

Esse é o único consenso entre os analistas que acompanham a crise política no Peru. Os bastidores dessa história, porém, continuam sendo um mistério.

A Folha apurou que diplomatas brasileiros que acompanham o desenrolar da crise no Peru interpretam a surpreendente posição de Fujimori de convocar eleições gerais como sinal de que o presidente não dispunha mais do apoio incondicional de seus principais assessores civis e militares.

Soma-se a isso o aumento da pressão do governo dos EUA, da OEA (Organização dos Estados Americanos) e do Canadá. As declarações públicas de repúdio ao escândalo vindas do exterior foram a senha para a oposição peruana.

Após a divulgação do vídeo, os partidos de oposição tomaram uma posição conjunta: enquanto Montesinos ficar no cargo, não comparecerão às sessões do Congresso e permanecerão fora da mesa de negociações com a OEA e o governo.

Em conversa com a Folha, Eliane Karp _principal estrategista do líder da oposição, Alejandro Toledo_ defendeu que Montesinos seja julgado por corrupção. "Essas coisas têm de funcionar de forma civilizada e não como numa selva. Montesinos tem de dar conta de que ele acabou."

Montesinos x Marinha

O vazamento do vídeo também demonstra que Montesinos enfrentava adversários poderosos no serviço de inteligência. As imagens teriam sido gravadas, com uma câmera escondida, dentro do próprio gabinete do chefe do SIN, na ultraguardada base de Las Palmas.

Provavelmente, a câmera era do próprio SIN, o que dá conteúdo aos rumores de que Montesinos foi "rifado" por alguns de seus assessores mais próximos.

A suspeita ganhou forma ontem, quando a Marinha vazou informações de que o SIN estava procurando os cinco oficiais encarregados da guarda das fitas gravadas no gabinete de Montesinos.

Quatro dos cinco oficiais, todos da Marinha, chegaram a ser interrogados. O quinto foi poupado porque encontrava-se numa base da Marinha à qual os agentes do SIN não tiveram acesso, por determinação do comando da Força.

Ex-capitão do Exército, Montesinos não recebeu nenhuma declaração de apoio dos seus colegas militares _outro indício de que o principal assessor de Fujimori já não contava com apoio incondicional de seus antigos parceiros.

Outra especulação que se fazia ontem era que Fujimori decidiu deixar a Presidência porque fora informado de que outros vídeos estão em mãos dos adversários.

Leia texto do colunista Marcio Aith sobre o tema

Clique aqui para ler especial sobre o governoFujimori

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