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20/09/2000 - 03h43

Fujimori reaparece e diz estar no comando

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LUCAS FIGUEIREDO, da Folha de S.Paulo

Sob ameaça de um golpe militar supostamente tramado pelo chefe informal do SIN (Serviço de Inteligência Nacional), Vladimiro Montesinos, o presidente do Peru, Alberto Fujimori, passou o dia de ontem buscando apoio nas Forças Armadas para evitar ser deposto. À noite, apareceu em público, pela primeira vez em quatro dias, para afirmar que quem manda no país é ele.

Na madrugada de ontem, Fujimori deixou o palácio presidencial escoltado por forte esquema de segurança e dirigiu-se ao quartel-general do Exército, o Pentagonito. Depois disso, o paradeiro do presidente ficou incerto até o início da noite, quando ele fez uma aparição surpreendente na sede do governo.

Às 19h20 (21h20 em Brasília), ao final de uma reunião com seu conselho de ministros, Fujimori saiu do palácio, subiu numa das colunas do portão principal do edifício (com mais de 10 m de altura) e saudou cerca de mil pessoas que faziam manifestação favorável a seu governo.

Depois, deu entrevista coletiva na qual negou ter tomado a decisão de anunciar eleições antecipadas por pressão. "Tomei a decisão de forma pessoal. No Peru decidem duas pessoas: minha filha (Sofía Keiko) e quem vos fala", disse o presidente.

Fujimori afirmou ainda que recebeu o "reconhecimento das Forças Armadas" e que "esse reconhecimento se mantém". "Quem governará até as eleições é o Executivo, com o presidente na cabeça. Não há vazio de poder. Eu não renunciei", disse Fujimori.

Ele não quis dizer se o governo tem conhecimento do paradeiro de Montesinos, a quem fez elogios por ter "contribuído enormemente para a pacificação do país", referindo-se ao combate ao narcotráfico e a grupos guerrilheiros.

O presidente peruano disse que Montesinos, onde quer que esteja, "tem de contar com plena segurança". "Defendamos os direitos humanos de todos", afirmou.

Fujimori declarou também que "talvez" tenha cometido "algumas falhas", mas defendeu seu estilo de governo, dizendo que, para ele, "a democracia é a igualdade de oportunidades na educação e na saúde".

Militares divididos

A cena serviu para mostrar que o presidente continua no comando do país, após um dia de incertezas e rumores.

Dois dos mais conceituados jornalistas do Peru e um dos principais analistas políticos do país confirmaram à Folha que a ameaça de golpe rondou o governo Fujimori nas últimas 48 horas.

Apoiado por parte das Forças Armadas, Montesinos, suposto promotor da tentativa de golpe, continua desaparecido. Aparentemente, está aquartelado na sede do SIN, na base de Las Palmas. Segundo a rádio RPP, um funcionário da Justiça peruana informou, sem mais detalhes, que Montesinos depôs ontem a um promotor.

"Os militares estão divididos entre o presidente e Montesinos. Um golpe militar contra Fujimori é algo que está no ar", disse Rossana Echeandia, coordenadora da sessão política do "El Comércio", principal jornal do país.

Echeandia afirmou que Montesinos refugiou-se na sede do SIN, protegido por militares aliados a ele, tentando resistir a uma possível detenção.
O âncora da TV Canal N (a mais prestigiado do país), Jaime de Althaus, disse à Folha que Montesinos tramou um golpe contra Fujimori para evitar sua destituição.

"Fontes confiáveis nos asseguram que houve uma tentativa de articulação de um golpe por parte de Montesinos", disse Althaus.

A crise política no Peru começou na quinta-feira passada, quando uma TV local mostrou um vídeo no qual o chefe do SIN -principal assessor do presidente- aparece entregando US$ 15 mil a um congressista de oposição, que mudou de lado, passando a votar com o governo.

Segundo Althaus, Montesinos teria começado a organizar o golpe na noite de sábado, quando foi informado por Fujimori de que seria demitido para que a crise não chegasse ao presidente. Montesinos não teria aceitado a demissão, segundo o jornalista, iniciando logo depois contatos com generais aliados a ele, propondo a destituição de Fujimori.

Avisado das intenções de Montesinos pelo serviço de inteligência da Polícia Nacional, o presidente -há dez anos no poder- decidiu então fazer um pronunciamento na TV anunciando que estava disposto a abrir mão do seu terceiro mandato consecutivo, convocando novas eleições "o mais breve possível". No mesmo pronunciamento, Fujimori disse que acabaria com o SIN.

"Fujimori se adiantou a Montesinos, criando um fato político que minou as condições políticas para o golpe. Ao anunciar que deixaria o poder e que, antes, desmantelaria o SIN, o presidente engessou Montesinos e ganhou tempo para se recompor politicamente", afirmou Althaus.

O analista político Fernando Tuesta também afirmou que o presidente fez gestões para evitar um possível golpe.

140 km por hora

À 0h50 de ontem, rumores de golpe voltaram a rondar o governo, quando Fujimori fez uma visita surpresa ao Pentagonito, sede do Exército, no distrito de San Borja. As quatro camionetes blindadas que escoltavam o carro de presidente chegaram a andar a 140 km por hora nas ruas de Lima para tentar despistar jornalistas que acompanhavam o comboio.

Fujimori chegou ao Pentagonito à 1h. Quinze minutos depois, o comboio presidencial voltou à sede do governo, mas Fujimori não foi visto pelos repórteres.

Pouco antes de se dirigir ao Pentagonito, o presidente esteve reunido com o ministro da Justiça, Alberto Bustamante. À saída do encontro, o ministro afirmou que não sabia qual era a condição jurídica de Montesinos.

Desaparecido desde a noite de quinta, o chefe informal do SIN conta com o apoio de boa parte das Forças Armadas. Ex-capitão, Montesinos foi o responsável pela nomeação de seis de seus colegas de turma no Exército para postos de chefia e apoiou a promoção do general José Villanueva, um de seus melhores amigos, para o comando das Forças Armadas.

A posição de Villanueva na queda de braço entre Fujimori e Montesinos, no entanto, não é certa. A disputa pelo apoio do general ficou evidente com a visita que Fujimori fez ao Pentagonito.

O presidente conta com o apoio da Marinha, adversária histórica de Montesinos e Força dotada de um eficiente serviço de inteligência paralelo ao SIN.

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