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11/09/2005 - 08h53

Michael Moore quer pôr Bush no olho do furacão

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SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo

Michael Moore está de volta, e furioso. O documentarista, ganhador do Oscar por "Tiros em Columbine", contra a indústria armamentista dos EUA, e da Palma de Ouro de Cannes por "Fahrenheit 11 de Setembro", que critica a maneira com que George W. Bush lida com a chamada "guerra ao terror", deve usar o furacão Katrina para lançar mais um direto de esquerda, desta vez contra a relação da Casa Branca com a questão ambiental.

Depois de escrever uma violenta carta aberta ao presidente norte-americano em que chamava Bush de no mínimo preguiçoso ("As férias acabaram" era o título do texto, primeiro publicado em seu site e depois reproduzido por jornais e blogs do mundo inteiro), Moore anunciou que fechou provisoriamente seu escritório de Nova York, onde mora, e mudou-se com a equipe para Covington, na Louisiana.

A explicação oficial é humanitária. "Fechei minha produtora em Nova York e levei minha equipe para Louisiana para ajudar no resgate", escreveu ele, que não está dando entrevistas enquanto não melhorar a situação em Nova Orleans e região. "A coronel da reserva Ann Wright, que já havia nos acompanhado na turnê das eleições, no ano passado, está lá ajudando a organizar os resgates e trabalhando com dezenas de veteranos das guerras do Vietnã e do Iraque, que vão a Nova Orleans todos os dias para resgatar pessoas."

A Folha, apurou, porém, que Moore pretende usar a visita para fazer um filme-denúncia contra a política ambiental de George W. Bush. Moore teria mesmo colocado em banho-maria seu próximo projeto, o filme "Sicko" (gíria norte-americana para "doente mental"), sobre a indústria farmacêutica e de seguros médicos dos Estados Unidos, previsto inicialmente para ser concluído até o final do ano.

Um "Fahrenheit Ambiental", concebido no calor da hora, não seria exatamente novidade na filmografia de Moore. O cineasta é mais conhecido hoje em dia por sua maestria na sala de edição, não necessariamente na captação de imagens. Ele usa e abusa da compra de filmes e vídeos de produção caseira ou feitos por cinegrafistas amadores, como no caso da Guerra do Iraque, país em que nem chegou a colocar os pés durante a fase mais dura do conflito.

Há rumores de que ele já estaria comprando tudo o que está conseguindo encontrar sobre a inundação de Nova Orleans.
Moore não está sozinho ao explorar um fenômeno de mídia como o furacão para fins de entretenimento --nem que, no caso de Moore, o entretenimento tenha motivos supostamente nobres ou pelo menos uma função militante. A livraria Barnes & Noble já anuncia para o dia 28 o livro "O Furacão Katrina", feito por uma equipe de uma empresa especializada em meteorologia.

A indústria literária é mais ousada e tradicionalmente ligada aos fatos do dia do que a do cinema e da TV, por exemplo --Moore é a exceção que conforma a regra. Os estúdios de Hollywood demoraram quase quatro anos para começarem a tocar abertamente no tema 11 de Setembro em suas obras de ficção, e o ataque terrorista ainda não viu um bom longa que o interprete.

Literatura e TV

Mesmo a ficção nas letras tomou seu tempo para encarar de frente os EUA pós-terrorismo. O desenhista Art Spiegelman, autor da clássica graphic novel "Maus", lançou há menos de um ano "In the Shadow of No Towers" (na sombra de nenhuma torre), sua visão sobre os acontecimentos daquele dia. Da mesma maneira, o britânico Ian McEwan faz do assunto o centro de seu "Saturday", de 2005.

Segundo ronda feita pela Folha entre as principais editoras, as livrarias devem esperar uma pequena avalanche de livros-reportagens perpetrados por alguns dos principais repórteres que cobrem agora o evento em Nova Orleans para jornais como o "New York Times" e revistas como a "New Yorker". Não se fala sobre ficção, porém. Pareceria oportunista, acredita-se.

Da mesma maneira, a TV aberta vem exibindo especiais televisivos sobre o assunto, e emissoras de TV paga como a HBO analisam propostas de documentários, menos partidários do que o de Michael Moore promete ser. De novo, nada de ficção.

Mas o caso mais involuntariamente engraçado talvez venha da indústria fonográfica, sempre a primeira a reagir em ocasiões assim, geralmente em busca da doação imediata para os esforços de resgate e recuperação. Foi assim no 11 de Setembro, na Guerra do Afeganistão, na Guerra do Iraque e no tsunami --para não citar os clássicos "Concert for Bangladesh", de 1971, "Live Aid", em favor da África, de 1985, e "We Are The World", sua versão norte-americana.

Tem sido assim agora, com uma profusão de concertos televisivos que reúnem atores e músicos --anteontem, começou um evento do gênero transmitido ao vivo pelas principais emissoras de TV dos EUA.

Uma banda, porém, vem lucrando sem querer com a desgraça alheia. É a Katrina and the Waves (Katrina e as ondas), um conjunto de pop rock dos anos 80 mais conhecido pelo hit "Walking on Sunshine". Redescobertos nos últimos dias, viram seu nome batizar de séries de reportagens de TV a títulos de jornais. Isso levou a vocalista, Katrina Leskanich, a dizer: "Espero que o verdadeiro espírito de "Walking on Sunshine" prevaleça. Odiaria que nosso nome ficasse manchado por tanta tristeza."
 

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