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21/09/2005 - 13h27

Análise: Só conservadores podem dar novo rumo à Alemanha

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CHRISTIAN LOHBAUER
especial para a Folha Online

O resultado das eleições gerais na Alemanha deixa apenas duas certezas. A primeira é que qualquer que seja a aliança que vier a governar a Alemanha ela não será forte suficiente para realizar as reformas necessárias para colocar o país de volta nos trilhos. A segunda, mais grave, é que metade dos eleitores alemães decidiu não abrir os olhos para a realidade: a terceira potência econômica do mundo já não é mais a mesma.

Em outubro de 1990, a Alemanha realizou a fantástica tarefa de se reunificar. Sob a batuta política do chanceler Helmut Kohl (1982-1998, democrata-cristão) e de acordo com a vontade da maioria dos alemães ocidentais e orientais, a sociedade alemã optou pela unificação ciente dos custos que isto representaria.

Em seu quarto mandato, a partir de 1994, Kohl tentou iniciar as reformas necessárias para viabilizar o custoso processo de unificação. Suas medidas foram bloqueadas pela maioria social-democrata no Bundesrat (Câmara Alta), espécie de Senado da Alemanha Federal. Já era evidente que o custo do Estado social alemão estava se tornando impagável e deveria ser reduzido.

Em 1998, Gerhard Schröder conseguiu se impor sobre um Kohl já saturado, e, junto do Partido Verde, trouxe o sonho da social-democracia ecológica ao poder. A utopia da geração de 68 não demonstrou suficiente competência para gerar crescimento e riqueza.

Depois de quatro anos de governo, o desemprego permaneceu crônico, em torno de 4 milhões de trabalhadores. Com exceção do ano 2000, a economia sob Schröder não cresceu mais de 2% ao ano. A idéia de se distribuir riqueza que ainda não se produziu é uma das manias das esquerdas. Não foi diferente com a social-democracia alemã.

Em 2002, novas eleições poderiam ter mudado o rumo da economia alemã. No entanto, alguns milhares de votos tiraram o governo das mãos de Edmund Stoiber, líder do braço da coalizão conservadora na Baviera, e garantiram a manutenção da aliança vermelho-verde na conduta política alemã. Foram mais três anos de desemprego crônico. O legado de Schröder são sete anos de reformas econômicas cosméticas, um crescimento médio medíocre, um desemprego de 5 milhões de trabalhadores e uma atuação política baseada muito mais em seus instintos do que em um programa partidário.

A estratégia de antecipar as eleições em um ano, simulando uma moção de desconfiança em que seu partido se absteve da votação, mostra sua habilidade política. Os resultados das eleições de 2005 não deixam de ser uma vitória de Schröder, embora signifiquem um impasse para o futuro alemão.

O conceito de economia social de mercado (Sozialmarktwirtschaft) foi desenvolvido pelos conservadores, ainda na era de Konrad Adenauer (1876-1967) e Ludwig Erhard ((1897-1977). Os governos de esquerda posteriores seguiram o mesmo modelo, sustentado em uma economia governada pelas forças do mercado com o Estado no papel de defensor dos menos privilegiados corrigindo as imperfeições do mercado.

O modelo possibilitou que empresas contribuíssem para relações trabalhistas mais harmoniosas além de prover um sistema financeiro estável que possibilitou planejamentos de longo prazo.

Ocorre que a extensiva proteção social e alta taxação da renda ultrapassaram qualquer limite suportável provocando uma redução na motivação de trabalhar, um alto custo do trabalho, uma rígida proteção ao emprego e uma redução no consumo interno. Além disso, não foi nenhuma surpresa que os investidores alemães tenham optado em abrir novas fábricas em outros países ex-socialistas ao invés de investir na região oriental de seu país.

O programa de reformas apresentado por Angela Merkel é a melhor opção entre as apresentadas na campanha. Nele está incluída a redução do farto seguro desemprego, a flexibilização das regras de contratação de mais de 20 empregados, uma redução geral nos impostos, uma taxa única de saúde para todo adulto segurado e aumento no limite de idade para aposentadoria. As medidas arrepiam os social-democratas, os Verdes e principalmente o novo Partido de Esquerda.

Este último, nova agremiação que inclui ex-comunistas e social-democratas desiludidos e liderados pelo neo-populista Oskar Lafontaine, propõe fantasias estatizantes que levariam a Alemanha a bancarrota em poucos anos. Os conservadores poderiam esperar apoio do Partido Liberal que teve um de seus melhores desempenhos da história com 10% dos eleitores. Infelizmente a retomada da tradicional aliança preto-amarela não será suficiente para formar um governo.

Uma grande coalizão formada pelos dois maiores partidos é a possibilidade que se vislumbra. Não dá para acreditar que um governo liderado por Merkel, mas que tenha que ser sustentado pelos social-democratas, seja capaz de ir além da peleja interna.

A última experiência de grande coalizão ocorreu entre 1966 e 1969. Eram outros tempos, a economia da Alemanha Ocidental crescia sistematicamente e o chanceler democrata-cristão Kurt Kiesinger enfrentava as tensões da Guerra Fria que acabariam favorecendo o discurso da Ostpolitik de Willy Brandt, seu sucessor e primeiro chanceler social-democrata.

Desta vez, trata-se da Alemanha unificada, soberana, em busca de uma inserção internacional junto da União Européia ameaçada por um mundo de crescente competição econômica e novas ameaças políticas. Só os conservadores democrata-cristãos tem maturidade e visão realista para dar novo rumo à Alemanha. A flexibilidade nunca foi o forte da esquerda, muito menos a alemã. Merkel terá a difícil tarefa de buscar um consenso absolutamente vital para o futuro do seu país e da Europa.

Christian Lohbauer é doutor em ciência política pela USP (Universidade de São Paulo) e membro do Grupo de Análise de Conjuntura Internacional (Gacint) da USP

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