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09/11/2005 - 12h09

Cerca de 80% dos jornalistas chineses querem mudar de profissão

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da Efe, em Pequim

Conhecidos no passado como os "reis sem coroa", por serem o eixo do sistema de propaganda chinês, cerca de 80% dos jornalistas chineses querem mudar de profissão devido à precariedade, segundo uma pesquisa.

O estudo, realizado pelo site "zhaopin.com" entre 500 pessoas, dois terços delas trabalhadores dos meios de comunicação, demonstra que os baixos salários são um dos motivos do desinteresse pela profissão.

Cerca de 60% dos repórteres chineses ganham menos de 3 mil yans mensais (US$ 370); 20%, até US$ 616, e só 6,5% deles ganham US$ 986 por mês, o máximo no setor, informou o jornal "China Daily".

Os especialistas em tecnologias da informação, imobiliária e automação ganham os salários mais elevados da economia chinesa.

Dos entrevistados, apenas 8,6% deles qualificaram os jornalistas como "talentos no mercado de trabalho", um setor que conta na China com 750 mil profissionais, com uma média de idade de 25 anos; e 41% deles são mulheres com menos de 30 anos.

"Em comparação com o salário médio nacional ao ano (US$ 1.000 anuais), os repórteres na China ganham mais que seus colegas ocidentais, proporcionalmente", afirmou, no entanto, Li Kun, professor de Jornalismo da Universidade de Pequim.

Jabá

A suposta precariedade trabalhista do jornalista chinês institucionalizou os jabás [termo para boca livre, agrados e convites feitos à mídia] para que eles compareçam a entrevistas coletivas.

Segundo uma relações-públicas, "se não houver pagamento, eles não vão às entrevistas coletivas. E, às vezes, se a propina não é alta, jornalistas perguntam o que queremos que eles escrevam com o valor que foi pago".

É comum que na fila para dar credenciais a jornalistas chineses em um evento se entregue um envelope com até 300 yans (US$ 37) para garantir que eles escreverão algo positivo.

O "jabá" está muito institucionalizado em setores como o cultural, onde nenhum repórter está disposto a ir às entrevistas se não houver compensações.

Além disso, os jornalistas recebem bebidas e comida, já que se os eventos coincidem com as horas em que os chineses se alimentam, os profissionais se levantam e vão embora.

Controle

No Dia do Jornalista, comemorado nesta terça-feira, nenhum dos meios de comunicação falou sobre a censura a que estes profissionais estão submetidos. Os jornalistas recebem sistemáticas normas do Departamento de Propaganda com o que se pode e não se pode escrever.

O mecanismo foi revelado pelo professor Jiao Guobiao, do Centro de Estudos da Comunicação da Universidade de Pequim, que ousou em 2004 denunciar na internet as ordens do departamento. Neste ano, Jiao foi expulso da universidade e foi viver nos Estados Unidos.

Outro caso é de Zhao Yang, assistente do jornal "The New York Times" (NYT), detido em 2004 por ser suspeito de vazar a renúncia de Jiang Zemin como líder do Exército.

Até sua chegada ao NYT, Zhao fez carreira denunciando os abusos que os camponeses sofrem nas páginas da revista "China Reform". Ele continua detido, enquanto as autoridades tentam reunir provas sobre o suposto "vazamento de segredos de Estado".

Outros, que não chegam a ter a sorte de trabalhar para veículos estrangeiros, especializam-se em métodos contra a censura, como colocar uma denúncia no final de um artigo com um título otimista.

A organização Repórteres Sem Fronteiras (RSF) qualificou a China nos últimos anos como a "maior prisão do mundo para jornalistas".

Estatísticas não-oficiais revelam que a profissão já é a terceira mais perigosa do país, atrás da mineração e da polícia, por ocasionar problemas de saúde e de estresse.
 

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