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10/11/2005 - 12h16

Para francês, distúrbios na França geram "raiva" na população

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EMILIA BERTOLLI
da Folha Online

O engenheiro francês Nicolas Boucher, 28, morador de Guyancourt, a dez quilômetros de Paris, que viu dois carros serem queimados na rua de sua casa, nesta segunda-feira, diz que a violência provoca "raiva" entre os franceses.

Há 14 dias, grupos de jovens rebelados, a maioria moradora de subúrbios, deram início a uma onda de violência em Paris, que se espalhou por toda a França e já deixou um saldo de cerca de 8.000 carros incendiados, além de várias escolas e estabelecimentos comerciais.

Arquivo pessoal
O francês Nicolas Boucher, que diz que ação dos rebeldes gera raiva entre população da França
Boucher mora com a sua mulher, a brasileira Karina, 32, que também é engenheira. O casal vive junto na França desde 2001, mas ele já esteve no Brasil, onde estudou durante um ano, entre 2000 e 2001, na Faculdade de Engenharia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).

"Eu moro em um bairro residencial onde não há muitos filhos de imigrantes. Mas no final da minha rua há dois prédios que abrigam famílias de baixa renda, onde os veículos foram queimados", afirmou. Segundo ele, a legislação francesa obriga que cada cidade disponha de 20% de suas ofertas de aluguéis a preços populares, para atender famílias mais pobres.

"Estamos com raiva por ver os filhos dos imigrantes destruir os veículos de gente que mora com eles. Os carros queimados são de gente pobre, que não tem seguro para pagar esses carros, e que não vão ser reembolsados. A gente não entende porque esses atos de violência são realizados contra os próprios vizinhos deles", disse Boucher.

Nervoso

A mesma opinião tem o francês Aymeric Martin, 26, que também atua como engenheiro na França. Morador de Versailles, uma região perto de Paris que abriga uma população de alta renda. "Eu entendo porque eles [os imigrantes] estão nervosos, entendo que eles queiram denunciar o preconceito, mas acho triste a forma com que mostram isso. Há muitos imigrantes e muito desemprego, então acho que essa situação vai continuar."

Martin também disse que os meios de comunicação ajudaram "a espalhar" a violência na França. "Uma zona quer competir com a outra, para ver quem queima mais carros", disse ele.

De acordo com Boucher, ele e sua mulher "não estão com medo" porque os confrontos só acontecem à noite, em regiões de subúrbio onde a polícia não tem acesso, e não nas regiões centrais do país, onde há grande policiamento.

Além disso, Boucher afirmou que grande parte dos confrontos estão concentrados em subúrbios no nordeste de Paris, e região tipicamente industrial, que abriga também o aeroporto internacional Charles de Gaulle.

"Quem mora em Seine-Saint-Denis [nordeste de Paris] é a população de baixa renda, e aposentados que não têm dinheiro para pagar um aluguel em Paris", afirmou.

Eleição

De acordo com Boucher, a situação se degradou entre franceses e imigrantes durante as eleições presidenciais de 2002, quando o líder francês de extrema direita Jean-Marie Le Pen disputou o pleito. Na época das eleições, Le Pen chegou a ser acusado pela oposição de xenofobia. Apesar do bom desempenho, ele acabou perdendo para o atual presidente Jacques Chirac.

A tensão entre imigrantes e franceses cresceu, segundo Boucher, depois que o ministro francês do Interior, Nicolas Sarkozy, assumiu o poder no primeiro semestre deste ano. "O ministro falou várias vezes que quer acabar com a economia paralela, e tirou a ajuda das associações locais que atendiam a essas pessoas e criavam uma série de atividades para tentar integrá-los socialmente", disse.

Boucher afirma, entretanto, que a maior crítica dos franceses em relação à atuação de Sarkozy está no fato de que apenas reprimir a violência não funciona. Além disso, o próprio ministro fez vários comentários pejorativos sobre os imigrantes, designando-os de "racaille" [algo como ralé], um jargão utilizado para se referir pejorativamente às pessoas que moram nos subúrbios, em sua maioria imigrantes ou filhos de imigrantes.

Ele também disse que Sarkozy realizou neste ano uma série de operações para desbaratar a rede de tráfico de drogas desses subúrbios, e que os "traficantes ficaram irritados" com essas ações.

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