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10/11/2005 - 18h08

Confira a íntegra do bate-papo com o editor de Mundo sobre a crise na França

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da Folha Online

Confira abaixo a íntegra do bate-papo com o editor de Mundo, Vinicius Mota, sobre a violência na França:


05:01:36) Mestrando.USP fala para Vinicius Mota: Boa tarde Vinícius


(05:02:17) Vinicius Mota: Boa tarde a todos. Vamos às perguntas


(05:03:54) Louise fala para Vinicius Mota: olá! houve uma diminuição da violência na frança nos últimos dois dias. Vc avha que o governo vai conseguir contornar essa crise? Ou os imigrantes vão continuar marginalizados?


(05:06:10) Vinicius Mota: Não sei, Louise. Acho que uma crise como essa tem sua própria dinâmica e talvez o que esteja acontecendo agora seja uma fadiga, um cansaço dos revoltosos; mas só os próximos dias dirão se o pior já passou


(05:06:20) Vincent fala para Vinicius Mota: o que gerou essa onda de violencia? vc acha que o problema é mais economico, de falta de oportunidades, ou cultural, um problema de identidade dessse filhos de imigrantes?


(05:10:22) Vinicius Mota: Esse é o grande nó do problema, Vincent. Acho que dois eventos atuaram como uma faísca em um ambiente já potencialmente explosivo: a morte acidental de dois garotos dos subúrbios e a fala do Sarkozy, o ministro do Interior, que tachou os agitadores de 'escória'


(05:11:01) falco fala para Vinicius Mota: Boa tarde. Gostaria que vc comentasse o texto que Demétio Magnoli esceveu hoje na folha. Ele comenta da distribuicao geográfica de Paris, isso seria um motivo?


(05:18:08) Vinicius Mota: Certamente a geografia é fator importante; todos esses jovens vivem em distritos mais afastados do centro conhecido de Paris, nos subúrbios; a segregação espacial é um duplo da segregação social por que passa boa parte desses jovens.


(05:18:30) ursinha pergunta para Vinicius Mota: oi, vinicius! como você avalia a ação do governo francês na resposta à crise?


(05:22:15) Vinicius Mota: Ursinha, foi uma reação frágil, hesitante°. Até porque o fenômeno foi de um ineditismo atroz; mas também porque há uma guerra interna no governismo francês, entre o premiê, Dominique de Villepin e o Sarkozi; os dois disputam a primazia de concorrer à sucessão do presidente Chirac; Sarkozy procurou usar a linguagem mais dura contra os revoltosos; já a mensagem de Villepin teve mais tons de conciliação; mas o fato a louvar é que, com mais de 7.000 carros incendiados, centenas de presos etc., a repressão policial não produziu nem um cadáver sequer, o que seria potencialmente desastroso.


(05:22:22) Mestrando.USP fala para Vinicius Mota: Aproximadamente, em qual percentual os incidentes estão sendo causados por magrebinos e pelos demais grupos de estrangeiros (negros, por exemplo)


(05:24:58) Vinicius Mota: Mestrando, não sei responder ao certo. De tudo o que li a respeito, não vi nenhum dado que segregasse os revoltosos por sua origem.


(05:25:08) critico fala para Vinicius Mota: Ola vinicius, estamos vendo esta crise se aflorou agora, ou ela ja estava viva na franca a muito mais tempo ?


(05:29:49) Vinicius Mota: Estava latente, critico. Essa é uma crise social clássica, típica das grandes cidades que concentram ao seu redor populosos núcleos de pessoas que vivem em condições de vida inferiores. Uma crise dessa é apenas a explosão de momento de uma longa, lenta e duradoura acumulação de ressentimentos


(05:29:53) Rodrigo Especialis fala para Vinicius Mota: subúrbios em paris tem prefeitos?


(05:30:59) Vinicius Mota: Sim, Rodrigo, os distritos têm os seus prefeitos; têm certa autonomia política


(05:31:01) Dimi fala para Vinicius Mota: Será q esses ataques chegarão mais próximos do centro de Paris ou ficarão mais nos subúrbios?


(05:33:08) Vinicius Mota: Não creio que cheguem lá, Dimi. Essas gangues atuam quase sempre dentro dos limites de seus 'territórios'; revoltas em Paris tendem a ser excepcionais. Mas falo do padrão que temos visto até aqui, que pode, mais tarde, mudar.


(05:33:32) Lori fala para Vinicius Mota: Gostaria de saber, se este tipo de revolta, pode se expandir por toda Europa?


(05:36:02) Vinicius Mota: Essa era uma preocupação há uns dias que não se confirmou ainda, Lori. Agora, se não houver nenhum fato novo que reacenda os protestos, a probabilidade desse efeito contágio ocorrer diminuiu bem.


(05:36:10) Menina fala para Vinicius Mota: Oi, Vinicius. O que vc acha da fala de Sarkozy, pedindo aos prefeitos que expulsem da França todos os estrangeiros envolvidos nos conflitos, inclusive os em situação regular?


(05:36:23) Moderador fala para Vinicius Mota: Vinicius, não esqueça de começar pelo nome do 'perguntante'


(05:39:26) Vinicius Mota: Menina, isso é mais retórica de palanque do que diretriz de política pública. A grande maioria dos revoltosos tem nacionalidade francesa; são da segunda geração de imigrantes, já nascida em solo francês. Portanto, não podem ser expulsos. Sarcozy fala para tentar conquistar apoio da direita nacionalista na França, que tem crescido eleitoralmente e pode ser crucial para alguém que pretende tornar-se presidente da República.


(05:39:43) Fernando em Paris fala para Vinicius Mota: Eu moro aqui em Paris, na região de fronteira com a cidade de Bobigny na zona 93, foco de algumas manifestações... Vc não crê que na verdade esses conflitos são consequencias diretas da opçao dos franceses pelo 'NÃO' e pela manutençao de um estado de mercado altamente protecionista, que inviabiliza o desenvolvimento economico interno e consequentemente a geracao de empregos para esses jovens?


(05:46:37) Vinicius Mota: Fernando, acredito que haja relações mais sutis e bem menos diretas entre um fenômeno e outro; não tenho condições de dizer que, numa economia mais aberta, o problema do desemprego estaria mais bem encaminhado na França; mas certamente o ambiente do 'não' à Constituição e do avanço dos votos dos nacionalistas é o mesmo de que se aproveita a retórica de Sarkozy: o fato, deplorável para mim e acredito que para você também, é que os franceses caminham para uma posição mais isolacionista em relação à Europa e a aberturas de modo geral; e isso estimula práticas e idéias muito ruins, de ódio até, na política interna


(05:46:59) canuto fala para Vinicius Mota: Há algum grupo extremista que reivindica o incentivo aos ataques?


(05:50:28) Vinicius Mota: Canuto, você tocou num ponto central. Não há nenhuma relação identificada até agora entre o que ocorre na França e os grupos extremistas e terroristas islâmicos; o que ocorre, friso, é uma revolta social da juventude suburbana, em que as lideranças praticamente não existem, em que idéias religiosas não vingam


(05:50:38) cheers fala para Vinicius Mota: Vinicius, o que voce acha da comparacao que alguns jornais fazem dos banlieus com os 'millets' otomanos?


(05:52:59) Vinicius Mota: Cheers, sinto desapontá-la. Mas não faço a mínima idéia.


(05:52:59) limma fala para Vinicius Mota: Nesta briga pelas eleiçoes, como vc disse acima, o Dominique de Vellepin parecer estar na frente ao adotar falas mais conservadores sobre a onda de violencia nos suburbios?


(05:55:09) Vinicius Mota: Limma, não sei o que você chama de 'falas conservadoras', mas se quer dizer 'conciliatórias', é um caso ainda em aberto. Só vamos ver mais à frente quem saiu ganhando.


(05:55:27) jonatas pergunta para Vinicius Mota: Se esses esses conflitos piorarem, pode haver a ascenção de políticos de extrema direita na França? Políticos com inspirações fascistas podem voltar a ter lugar na Europa do século XXI?


(05:57:31) Vinicius Mota: Jonatas, não iria tão longe com os 'fascistas'; mas uma das resultantes possíveis dessa crise é justamente um reforço da direita isolacionista européia; mas vamos esperar porque as cartas ainda estão sobre a mesa


(05:57:58) limma fala para Vinicius Mota: quais medidas podem ser tomadas para frear os ataques na França?


(05:58:37) Moderador fala para Vinicius Mota: oi vinicius, depois de responder essa pode agradecer, se despedir e sair da sala. audiência de 204 pessoas. obrigado pela participação. thiago


(06:01:02) Vinicius Mota: Limma, acho que, como disse, essa crise tende a esfriar por si mesma; o toque de recolher pode ajudar; o anúncio de reforço de programas sociais também; mas os motivos mais estruturais da crise não vão desaparecer, vão apenas hibernar à espera da próxima fagulha. Aproveito essa última resposta para me despedir de todos os que participaram deste bate-papo. Um forte abraço


(06:03:03) Moderador: O Bate-papo UOL agradece a presença de Vinicius Mota e de todos os internautas. Até o próximo!


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