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15/12/2005 - 17h17

Morales pode ser primeiro presidente indígena da Bolívia

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da Efe, em La Paz

O camponês aymará Evo Morales Ayma, 46, líder nas pesquisas de intenção de voto na Bolívia, pode se tornar o primeiro presidente indígena do país, onde este setor majoritário foi historicamente excluído do poder.

De natureza forte, rosto largo e olhar profundo, o polêmico líder indígena, um dos poucos que pode ocupar uma Presidência na América Latina, nasceu em uma pequena construção de barro e palha no planalto andino, "no meio do nada", como ele mesmo define. Na verdade, Morales nasceu em uma pequena comunidade no departamento de Oruro, mais de 400 quilômetros ao sul de La Paz. Seus pais eram agricultores.

Efe
Evo Morales, candidato à Presidência da Bolívia
Morales teve seis irmãos, mas só ele e outros dois, Hugo e Esther, sobreviveram. Na infância, ele foi pastor de lhamas e cultivou a terra estéril dos Andes, mais de 3.000 metros acima do nível do mar, onde o produto por excelência é a batata.

Os professores da pequena escola rural de sua aldeia natal dizem se lembrar dele como "um bom aluno", mas Morales não terminou o segundo grau e, aos 16 anos, foi com sua família para a cidade de Oruro, onde ingressou no serviço militar.

Foi na banda militar que ele aprendeu a tocar trombeta, uma de suas habilidades mais conhecidas junto à fama de ter um bom domínio da bola no futebol.

Na década de 80, ele emigrou em busca de oportunidades na região tropical de Chapare, em Cochabamba, onde entrou para o sindicalismo dos cocaleiros.

A defesa do cultivo da folha de coca --que na Bolívia é usada em rituais e como alimento e remédio desde tempos ancestrais, embora o excedente seja destinado ao narcotráfico-- o elevou ao topo dos movimentos camponeses cocaleiros.

Sindicato

A trajetória sindical de Morales, solteiro e pai de dois filhos de diferentes mães, foi seu trampolim para a política. Em 1995, ele fundou o Instrumento Político para a Soberania dos Povos, que participou das eleições com o nome de Movimento Ao Socialismo (MAS).

Evo Morales chegou ao Congresso com o partido, mas não abandonou a direção sindical, o que lhe valeu duras críticas.

Em 2002, quando foi candidato à Presidência pela primeira vez, essa dualidade representou para Morales a expulsão do Congresso devido a uma suposta transgressão da ética parlamentar.

Sua saída do Legislativo coincidiu com a Presidência de Jorge Quiroga, seu principal adversário nas eleições do próximo dia 18.

Mas a punição acabou tendo efeitos positivos, já que nas eleições gerais de 2002 ele conseguiu um surpreendente segundo lugar, atrás de Gonzalo Sánchez de Lozada, graças a um discurso com um forte sotaque do campo andino.

Analistas concordam que as declarações que o então embaixador dos Estados Unidos em La Paz, Manuel Rocha, fez contra Morales poucos dias antes do pleito contribuíram para sua ascensão repentina.

Foi o primeiro choque público entre Washington e o socialista aymará, que nunca escondeu sua fascinação pelo revolucionário Ernesto Che Guevara, assassinado na Bolívia pelos militares em 1967.

Como líder da oposição e promotor de protestos, Morales teve um papel de destaque na queda do ex-presidente Sánchez de Lozada, em outubro de 2003, e de seu sucessor, Carlos Mesa, em junho deste ano, que levou à convocação de eleições antecipadas.

Esquerda

Embora os EUA tenham dito que apoiarão o próximo governo boliviano, mesmo se o vencedor for Morales, a preocupação da Casa Branca é clara.

As declarações "antiimperialistas" do candidato do MAS, seus planos de descriminalizar o cultivo da folha de coca e nacionalizar os recursos naturais e sua afinidade com o cubano Fidel Castro e o venezuelano Hugo Chávez afastam abertamente Morales dos Estados Unidos.

A influência de Morales ultrapassou fronteiras, como demonstrou sua participação no fórum alternativo à última Cúpula das Américas, no qual dividiu as atenções com Chávez e com o ex-jogador de futebol argentino Diego Maradona.

O sociólogo Alvaro García Linera, que ficou cinco anos preso por ter sido o ideólogo do extinto Exército Guerrilheiro Tupac Katari (EGTK), é o candidato à vice-Presidência do MAS e companheiro de Morales na disputa eleitoral.

Especial
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