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26/09/2000 - 07h56

Fujimori se diz "agradecido" a Montesinos

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LUCAS FIGUEIREDO
enviado especial a Lima

da Folha de S.Paulo

O presidente do Peru, Alberto Fujimori, divulgou ontem uma nota em que elogia Vladimiro Montesinos e diz que ele deixou o comando do SIN (Serviço de Inteligência Nacional) por vontade própria.

A oposição, por sua vez, reagiu de forma tímida à operação que permitiu a Montesinos sair do país e refugiar-se no Panamá, que estuda a possibilidade de lhe conceder asilo político.

No comunicado, assinado juntamente com os ministros da Justiça e da Casa Civil, Fujimori se disse "agradecido (a Montesinos) pelos grandes serviços prestados à nação".

O presidente declarou, na nota, que Montesinos "participou de maneira significativa no êxito" das lutas contra o terrorismo e o narcotráfico e na "segurança cidadã".

Fujimori afirmou ainda que seu principal assessor não foi destituído, mas sim renunciou no último dia 14 -data em que uma TV local mostrou um vídeo em que Montesinos aparece supostamente subornando um congressista de oposição.

A reação dos partidos oposicionistas foi limitada. Houve protestos contra o teor da nota -a qual o governo se comprometeu a revisar-, mas a oposição decidiu continuar negociando com Fujimori a transição política no país.

O principal líder oposicionista, Alejandro Toledo (candidato derrotado por Fujimori na eleição deste ano), continuou em silêncio. Ele não dá declarações públicas desde que o ex-chefe informal do SIN deixou o país, na madrugada de domingo.

Diferentemente do que havia feito em outra ocasiões, Toledo não convocou manifestações populares.

A reação da oposição fez aumentar as suspeitas de que os partidos antigoverno supostamente concordaram com a saída de Montesinos do país, como uma forma de aliviar a crise política e diminuir os riscos de golpe.

"Democracia em risco"
Dois dias depois do estouro do escândalo do suposto pagamento de suborno, Fujimori fez um pronunciamento na TV anunciando sua disposição de deixar o poder em julho de 2001 (quatro anos antes do previsto), convocar novas eleições gerais e desativar o SIN.

Apoiado por parte das Forças Armadas, Montesinos negou-se a deixar o comando do SIN, onde passou a refugiar-se.

A insubordinação fez com que corressem rumores de que ele estaria articulando um golpe militar para destituir Fujimori.

A instabilidade no Peru fez com que o presidente peruano recuasse e passasse a negociar uma saída política para o caso.

A pedido dos governos do Peru e de outros países (entre eles, do Brasil) e da OEA (Organização dos Estados Americanos), o Panamá aceitou receber Montesinos, pouco depois de ter-se negado formalmente a fazê-lo.

A reação mais forte em relação à posição do governo peruano no caso Montesinos foi da Coordenação Nacional dos Direitos Humanos -entidade que agrega vários organismos peruanos-, que decidiu se retirar da mesa de negociações para a transição formada também pela OEA, pelo governo e pela oposição.

"É inaceitável que o governo peruano e a OEA tenham participado da operação para que saísse do país uma pessoa que está envolvida em suborno e desrespeito aos direitos humanos", disse a coordenadora da entidade, Sofia Mache.

Segundo ela, "a autêntica transição para a democracia está em risco, ainda mais porque militares próximos de Montesinos continuam em seus cargos".


"Responsabilidade"
O responsável pela divulgação do vídeo, o congressista Fernando Oliveira (estrela em ascensão na oposição e cotado para ser candidato a presidente), foi mais cauteloso.

"O Peru só poderá seguir adiante se extirpar o câncer da impunidade, mas temos de dizer que é hora de atuar com responsabilidade patriótica", disse.

A única voz na oposição a exigir que o governo peruano peça a extradição de Montesinos foi a do congressista Jorge Del Castillo, do decadente partido Apra. Todos os partidos oposicionistas concordaram, no entanto, em realizar hoje uma nova rodada de negociações com o governo.

Clique aqui para ler especial sobre o governo Fujimori

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