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26/12/2005 - 11h42

Dispersão de ajuda teve efeitos contraproducentes após tsunami

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ISABEL SACO
da Efe, em Genebra

Um ano após o tsunami ocorrido no oceano Índico, é possível avaliar os efeitos contraproducentes do envio disperso e sem coordenação da ajuda internacional, evitando a via multilateral da ONU (Organização das Nações Unidas).

"O que devemos compreender é que é necessário que os doadores bilaterais (privados ou públicos) e multilaterais coordenem os esforços, pois a ajuda bilateral não é eficiente quando se trata de responder a um desastre", disse Sálvano Briceño, responsável do Departamento de Estratégia para a Redução de Desastres da ONU.

Para o especialista venezuelano, o melhor canal para este tipo de contribuições é a ONU, apesar de terem "sido muito maiores os valores canalizados bilateralmente e de maneira dispersa" para as vítimas do tsunami, que, segundo dados oficiais, matou 226.408 pessoas, a maioria na Indonésia.

"Dar maior importância à via multilateral não significa que o dinheiro seja entregue diretamente às Nações Unidas, mas sim que a entrega será coordenada com a ONU para que a entidade possa indicar quais são as prioridades", disse Briceño.

Recorde

Calcula-se que o montante da ajuda para os países atingidos chegou a US$ 8,5 bilhões dos US$ 11 bilhões prometidos pela comunidade internacional, número recorde se for comparado com a resposta a outros desastres graves, como o terremoto que em outubro último matou cerca de 80 mil pessoas no Paquistão.

Coincidindo com o primeiro aniversário da tragédia na Ásia, o livro "Tsunami: A verdade humanitária", do jornalista suíço Richard Werly, que questiona a "precipitação" da ajuda que chegou às áreas devastadas e seus "efeitos perversos".

Infra-estrutura

Werly, que percorreu as áreas de litoral destruídas pelo tsunami e fez contato com vítimas, doadores e organizações de ajuda, relata ter visto, por repetidas vezes, carregamentos com ajuda retornarem por onde haviam chegado por falta de locais de armazenamento ou de infra-estrutura mínima para proporcionar um simples desembarque.

Embora reconheça que uma operação de emergência é, por definição, sempre improvisada, critica que na Indonésia, "enquanto certas comunidades recebiam muita ajuda, outras eram gravemente deixadas de lado", uma situação também mencionada no relatório anual da Federação de Sociedades da Cruz Vermelha e do Crescente Vermelho.

Segundo a pesquisa do jornalista suíço, a abundância de dinheiro proveniente de doações privadas fez com que "organizações geralmente marginalizadas ficassem no primeiro plano da ajuda, sob risco de congestionar ainda mais as já limitadas vias de ajuda humanitária".

Pesquisas

Uma série de pesquisas realizadas pelo Programa da ONU para o Desenvolvimento (Pnud) no Sri Lanka, o segundo país mais afetado pelo tsunami, ratifica as críticas ao informar que muitos desabrigados "sofrem com a grande divergência entre a ajuda internacional recebida e o que, na prática, foi entregue".

A opinião das comunidades atingidas sobre a atuação das organizações não-governamentais é diversa, de acordo com as pesquisas, e vai do apreço pelo trabalho rápido e eficiente à frustração pelo que as pessoas vêem como falsas promessas.

O relatório do Pnud no Sri Lanka destaca de maneira inquietante a "concorrência entre as organizações de ajuda, que passou a ser mais importante que a própria distribuição do auxílio às vítimas".

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