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22/05/2006
-
10h19
SÉRGIO DÁVILA
da Folha de S.Paulo, em Teerã
Na república dos aiatolás, mais perigoso do que morar sozinha é aparecer em público ou em fotografias sem o "rousari" e o mantô. Faézé Mohamadi, 30, faz os dois. Pelo primeiro, já foi chamada de prostituta. Pelo segundo, corre o risco de ser presa. "Eu não ligo, pode publicar", diz ela à reportagem da Folha, quando indagada se não tem medo de aparecer em trajes ocidentais.
Quando a Revolução Islâmica derrubou o xá, ela tinha 3 anos. Aos sete, com o regime cada vez mais duro, foi obrigada a seguir a "hijab".
"Lembro até hoje quando tive de ir à escola pela primeira vez com o lenço na cabeça e o mantô cobrindo o corpo", conta. "Foi a maior agressão que eu sofri." Desde então, sempre que pode, descumpre a lei com a qual não concorda.
Não é a única regra que Faézé não segue. Com a sua idade, já tinha de estar casada --se não, morando na casa dos pais. Solteira, vive sozinha num prédio de cinco andares no centro de Teerã, cidade onde nasceu. Pior: recebe em casa amigos homens que não são seus parentes de sangue e sem a presença de outra mulher, como exige o islã. E os cumprimenta dando a mão direita, deferência reservada apenas ao marido.
Quando um vizinho a flagrou fazendo isso, no corredor do andar em que mora, ameaçou chamar a polícia. Desconfiou que poderia ser uma garota de programa, crime que lhe custaria a vida e desgraçaria sua família. Pois foram estes que o salvaram. Faézé pediu que seus pais e quatro irmãos passassem a visitá-la.
Ostensivamente, dia sim, dia não. "Sempre que um deles vinha aqui, eu chamava um vizinho para conhecê-lo. Aos poucos, viram que eu tinha apoio familiar e foram se acostumando. Hoje, quase não ouço desaforos no prédio."
Na rua é outra história. Não que ela ouse sair sem as vestimentas. "Nunca vi uma mulher de cabeça descoberta em Teerã", fala, achando graça da pergunta. "Vi uma, mas era louca."
É que, quando os colegas sabem que ela é solteira e mora sozinha, acham que não há problema em tomar certas liberdades --como dar a mão a alguém em público. Foi assim na ONG em que a socióloga dá aula de farsi (persa) para meninas francesas. "Um deles veio me perguntar o que havia de errado comigo."
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Quando a Revolução Islâmica derrubou o xá, ela tinha 3 anos. Aos sete, com o regime cada vez mais duro, foi obrigada a seguir a "hijab".
"Lembro até hoje quando tive de ir à escola pela primeira vez com o lenço na cabeça e o mantô cobrindo o corpo", conta. "Foi a maior agressão que eu sofri." Desde então, sempre que pode, descumpre a lei com a qual não concorda.
Não é a única regra que Faézé não segue. Com a sua idade, já tinha de estar casada --se não, morando na casa dos pais. Solteira, vive sozinha num prédio de cinco andares no centro de Teerã, cidade onde nasceu. Pior: recebe em casa amigos homens que não são seus parentes de sangue e sem a presença de outra mulher, como exige o islã. E os cumprimenta dando a mão direita, deferência reservada apenas ao marido.
Quando um vizinho a flagrou fazendo isso, no corredor do andar em que mora, ameaçou chamar a polícia. Desconfiou que poderia ser uma garota de programa, crime que lhe custaria a vida e desgraçaria sua família. Pois foram estes que o salvaram. Faézé pediu que seus pais e quatro irmãos passassem a visitá-la.
Ostensivamente, dia sim, dia não. "Sempre que um deles vinha aqui, eu chamava um vizinho para conhecê-lo. Aos poucos, viram que eu tinha apoio familiar e foram se acostumando. Hoje, quase não ouço desaforos no prédio."
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É que, quando os colegas sabem que ela é solteira e mora sozinha, acham que não há problema em tomar certas liberdades --como dar a mão a alguém em público. Foi assim na ONG em que a socióloga dá aula de farsi (persa) para meninas francesas. "Um deles veio me perguntar o que havia de errado comigo."
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