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01/06/2006 - 17h55

Marines omitiram dados sobre "massacre" no Iraque, diz jornal

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da Folha Online

Um inquérito militar americano sobre o suposto massacre de civis iraquianos em Haditha --que investiga se os marines tentaram encobrir a ação-- irá concluir que alguns oficiais prestaram falsas informações aos seus superiores, que falharam ao verificar os dados, informou nesta quinta-feira o jornal "The Washington Post".

O periódico dos EUA, citando fontes não identificadas do Exército, noticiou que a investigação de três meses de duração também deve pedir mudanças nos modos que as tropas americanas são treinadas para operações no Iraque.

A investigação é um dos dois inquéritos militares que estão investigando o assassinato de 24 homens, mulheres e crianças, em 19 de novembro de 2005, na cidade de Haditha, 200 km a noroeste de Bagdá --em uma área em que foi registrada uma grande atividade de supostos insurgentes de origem sunita.

De acordo com o jornal, a autoridade do Exército afirmou que houve muitos erros, mas se recusou a dizer se isso poderia ser caracterizado como "acobertamento", como foi alegado pelo parlamentar democrata John Murtha.

No domingo (28), Murtha, um dos principais críticos da Guerra do Iraque no Capitólio, criticou os incidentes em Haditha, que qualificou claramente de "assassinato".

O congressista declarou que "não resta dúvida" de que os militares tentaram encobrir os fatos. Segundo ele, as mortes em Haditha prejudicaram mais os objetivos de paz e democracia que os EUA tentam alcançar no Iraque do que as torturas na prisão de Abu Ghraib.

O "Washington Post" informou que um relatório final sobre o inquérito, chefiado pelo general-de-divisão Eldon Bargewell, deve ser entregue à cúpula do Exército até o final desta semana.

Antes mesmo de o relatório final ser entregue, o general George W. Casey, principal comandante dos EUA no Iraque, ordenou nesta quinta-feira que todas as tropas americanas e aliadas no país árabe sejam submetidas a novos "valores básicos" nos treinamentos.

Uma investigação militar separada encontrou evidências de que as mortes em Haditha foram acidentais, contradizendo um relato do incidente por marines, autoridades americanas informaram nesta quarta-feira.

O inquérito do Serviço de Investigação Criminal Naval, responsável por casos envolvendo fuzileiros navais, pode levar a acusações que incluem assassinato, disseram autoridades.

Na quarta-feira, o caso do suposto massacre de civis obrigou o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a prometer castigar os culpados, "se violaram a lei".

Bush se declarou "preocupado com as primeiras informações" sobre o ocorrido e disse que "se for verdade, se violaram leis, haverá um castigo" para os culpados.

Ética militar

O comando militar americano determinou nesta quinta-feira que as tropas no Iraque recebam um treinamento de atualização sobre ética e "valores básicos", após os desdobramentos do caso do suposto massacre de civis em Haditha.

O treinamento das tropas --que irá incluir todos os 150 mil membros da coalizão e terá duração de 30 dias-- foi anunciado pelo general Peter Chiarelli, segunda maior autoridade militar dos EUA no território iraquiano.

O anúncio acontece após a visita ao Iraque, na semana passada, do comandante dos fuzileiros navais, Michael W. Hagee, que alertou as tropas para o risco de se tornarem "indiferentes às perdas de vidas humanas".

Do contingente de cerca de 150 mil militares da Força Multinacional no Iraque, 130 mil são americanos.

"Como profissionais militares, é importante que nós façamos um esforço para refletir sobre os valores que nos separam dos nossos inimigos", declarou Chiarelli em um comunicado. "O desafio para nós é garantir que as ações de alguns não manchem o bom trabalho de muitos."

O general-de-divisão William Caldwell, porta-voz da força multinacional no Iraque, afirmou que o treinamento tem a finalidade de reforçar o que as tropas já aprenderam antes de chegar no território iraquiano.

A nova instrução será centralizada em "valores e contempla os padrões éticos, legais e morais que todos nós em uniformes devemos seguir aqui, como convidados do governo iraquiano", explicou Caldwell.

Reação iraquiana

O governo iraquiano condenou nesta quinta-feira a morte de civis supostamente cometida por marines em Haditha, qualificando a ação como "crime hediondo", e pediu para o Exército americano evitar essas bravatas.

Na primeira reação oficial ao caso, o primeiro-ministro iraquiano, Nouri al Maliki, denunciou o "crime" e afirmou que "este tipo de ação é inaceitável e não pode ser justificado".

Ele anunciou a criação de uma comissão de acompanhamento das "repercussões deste ato cometido pela Força Multinacional em Haditha e que foi revelado pela mídia". "A comissão terá de levantar este problema durante a discussão sobre a presença da Força Multinacional no Iraque", cujo mandato expira no fim de 2006, ressaltou o premiê.

"Essas forças não respeitam os cidadãos, alguns são esmagados pelos tanques, outros são mortos. É preciso falar disto e definir as regras que devem ser observadas pelas forças estrangeiras", acrescentou um comunicado de seu escritório.

O Conselho de Ministros sublinhou que "o que aconteceu em Haditha viola os direitos humanos" e exigiu compensações e desculpas.

O general americano Thomas Coldwell, porta-voz da Força Multinacional, disse que "a coalizão não tolera e não tolerará comportamentos contrários à ética ou de natureza criminosa". "Toda acusação será investigada e todo responsável terá de responder por seus atos."

Segundo Coldwell, o general Peter Chiarelli, número dois do comando da Força Multinacional, iniciou uma investigação no dia 14 de fevereiro sobre Haditha e pediu para aprofundá-la no dia 9 de março, "o que está sendo feito atualmente".

"Este trágico incidente não é representativo da maneira como as forças da coalizão tratam os civis iraquianos e toda pessoa que tiver realmente cometido violações será punida", afirmou.

Com agências internacionais

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