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05/10/2000
-
19h55
RICARDO BONALUME NETO
da Folha de S.Paulo
Duas circunstâncias tornaram os Bálcãs uma das regiões mais explosivas da Terra. A mistura no mesmo território de populações diversas etnicamente, com línguas, costumes e religiões diferentes, fez com que o nacionalismo se tornasse um causador perene de guerras.
E as frequentes intervenções, brutais ou meramente incompetentes, das demais potências européias _e também dos EUA_, em geral apenas contribuíram para aumentar a temperatura dos conflitos.
O líder iugoslavo Slobodan Milosevic deve boa parte da sua ascensão política à exploração do nacionalismo, e um ingrediente que ele soube utilizar foi o complexo de perseguição da população sérvia. Como costuma acontecer com mesmo os maiores paranóicos, há muito de verdade por trás dessa mania persecutória.
Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a população da Sérvia era de 5 milhões. Morreram 125 mil soldados e 650 mil civis sérvios _ou seja, inacreditáveis 15% de toda a população. Como comparação, os principais combatentes ocidentais _Alemanha, França e Reino Unido_ perderam cada um em torno de 2% a 3% de sua população.
A Primeira Guerra começou na região, com o assassinato do herdeiro do trono austríaco em Sarajevo, na Bósnia. Com a vitória dos aliados, a Sérvia aumentou muito seu território. O país, que depois mudou o nome para Iugoslávia ("terra dos eslavos do sul"), reuniu Bósnia, Croácia, Sérvia (incluindo Kosovo), Eslovênia, Macedônia e Montenegro.
O caldeirão incluía três religiões (cristãos ortodoxos na Sérvia, católicos na Eslovênia e Croácia, muçulmanos na Macedônia; as outras Repúblicas tinham maior mistura de grupos religiosos). Entre as minorias étnicas, estavam albaneses, gregos, búlgaros e húngaros.
A Croácia, durante a Segunda Guerra Mundial, se separou da Iugoslávia e foi governada por um partido fascista, que iniciou uma "limpeza étnica" contra os sérvios. Calcula-se que 500 mil sérvios tenham sido mortos, e essa atrocidade é usada hoje por Milosevic para justificar o expansionismo sérvio.
A violência da guerra de guerrilha entre iugoslavos e ocupantes nazifascistas fez com que a Iugoslávia fosse o quinto país em número de mortos na Segunda Guerra, mais do que o Japão. Houve 1,7 milhão de iugoslavos mortos, contra 1,2 milhão de japoneses.
O carisma do líder comunista Josip Broz Tito (1892-1980) manteve as Repúblicas unidas até depois de sua morte. A queda do comunismo na Europa Oriental contagiou a Iugoslávia. De 1991 até hoje, começou um processo de independência das Repúblicas, ao qual os sérvios resistiram à força, e também caracterizado por intervenções políticas incompetentes dos europeus ocidentais. Guerras na Eslovênia, Croácia e Bósnia seguiram-se. Kosovo é a última da série.
Leia mais sobre a crise na Iugoslávia
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Conheça os fatores que alimentam a instabilidade histórica da região
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Duas circunstâncias tornaram os Bálcãs uma das regiões mais explosivas da Terra. A mistura no mesmo território de populações diversas etnicamente, com línguas, costumes e religiões diferentes, fez com que o nacionalismo se tornasse um causador perene de guerras.
E as frequentes intervenções, brutais ou meramente incompetentes, das demais potências européias _e também dos EUA_, em geral apenas contribuíram para aumentar a temperatura dos conflitos.
O líder iugoslavo Slobodan Milosevic deve boa parte da sua ascensão política à exploração do nacionalismo, e um ingrediente que ele soube utilizar foi o complexo de perseguição da população sérvia. Como costuma acontecer com mesmo os maiores paranóicos, há muito de verdade por trás dessa mania persecutória.
Antes da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a população da Sérvia era de 5 milhões. Morreram 125 mil soldados e 650 mil civis sérvios _ou seja, inacreditáveis 15% de toda a população. Como comparação, os principais combatentes ocidentais _Alemanha, França e Reino Unido_ perderam cada um em torno de 2% a 3% de sua população.
A Primeira Guerra começou na região, com o assassinato do herdeiro do trono austríaco em Sarajevo, na Bósnia. Com a vitória dos aliados, a Sérvia aumentou muito seu território. O país, que depois mudou o nome para Iugoslávia ("terra dos eslavos do sul"), reuniu Bósnia, Croácia, Sérvia (incluindo Kosovo), Eslovênia, Macedônia e Montenegro.
O caldeirão incluía três religiões (cristãos ortodoxos na Sérvia, católicos na Eslovênia e Croácia, muçulmanos na Macedônia; as outras Repúblicas tinham maior mistura de grupos religiosos). Entre as minorias étnicas, estavam albaneses, gregos, búlgaros e húngaros.
A Croácia, durante a Segunda Guerra Mundial, se separou da Iugoslávia e foi governada por um partido fascista, que iniciou uma "limpeza étnica" contra os sérvios. Calcula-se que 500 mil sérvios tenham sido mortos, e essa atrocidade é usada hoje por Milosevic para justificar o expansionismo sérvio.
A violência da guerra de guerrilha entre iugoslavos e ocupantes nazifascistas fez com que a Iugoslávia fosse o quinto país em número de mortos na Segunda Guerra, mais do que o Japão. Houve 1,7 milhão de iugoslavos mortos, contra 1,2 milhão de japoneses.
O carisma do líder comunista Josip Broz Tito (1892-1980) manteve as Repúblicas unidas até depois de sua morte. A queda do comunismo na Europa Oriental contagiou a Iugoslávia. De 1991 até hoje, começou um processo de independência das Repúblicas, ao qual os sérvios resistiram à força, e também caracterizado por intervenções políticas incompetentes dos europeus ocidentais. Guerras na Eslovênia, Croácia e Bósnia seguiram-se. Kosovo é a última da série.
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