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16/07/2006
-
09h28
JOÃO BATISTA NATALI
da Folha de S.Paulo
Entre Estados Unidos e Irã, as relações --ou a ausência delas-- foram sistematicamente desiguais e desastrosas.
A invasão do Iraque pelos americanos procurava, em 2003, construir uma sociedade livre e moderna, que "contaminaria" a região com a idéia de democracia. Não deu certo. As tensões políticas e confessionais no Iraque reforçaram o poder fundamentalista em Teerã.
Não é apenas, para Washington, um regime hostil, que trabalha pela obtenção da bomba atômica, o que desestabilizaria o que restou da geopolítica americana no Oriente Médio.
É também, para o governo americano, um Estado que patrocina o terrorismo. O último relatório do Departamento de Estado ao Congresso o acusa de fornecer dinheiro, treinamento e armas ao Hamas, Hizbollah, Jihad Islâmico e Brigada dos Mártires de Al Qasa.
Os dois primeiros grupos estão no centro dos atuais confrontos de Israel, que por sua vez se move no cenário diplomático com o apoio americano.
Em 2002 o presidente George W. Bush enquadrou o Irã no "eixo do mal", ao lado da Coréia do Norte e do Iraque, ainda sob Saddam Hussein.
Tensões antigas
As tensões vêm de muito mais longe. Durante o reinado pró-ocidental do xá Reza Pahlavi (1941-1979) ocorreu a traumática deposição, em 1953, do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, um dirigente extremamente popular, que havia nacionalizado o petróleo e contrariado os interesses americanos e britânicos. Mossadegh caiu num golpe chamado "Operação Ajax", com a participação direta da CIA.
O Irã de Reza Pahlevi explica em parte a aversão do atual regime islâmico pelos Estados Unidos. Com a Guerra Fria, a prioridade não era a democracia, mas o combate ao comunismo. O xá e sua polícia política, a Savak, reprimiram a esquerda iraniana que se opunha aos gastos militares excessivos --o Irã fazia fronteira com a União Soviética-- e ao uso do petróleo para sobretudo enriquecer uma casta ligada ao trono.
A sociedade civil pressionou por uma democracia laica em 1976. Mas no ano seguinte tomou força um movimento nascido nas mesquitas, que se opunha à americanização dos costumes e ao abandono dos valores muçulmanos.
Em janeiro de 1979 o xá deixava Teerã e partia para o exílio. Dias depois, o aiatolá Ruhollah Khomeini chegava de seu exílio na França e instaurava a república islâmica.
Os problemas americanos apenas começavam. Militantes xiitas invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã (4 de novembro de 1979) e mantiveram como reféns por mais de um ano 52 cidadãos americanos. A crise afetou as eleições presidenciais americanas, dificultando a reeleição do democrata Jimmy Carter e favorecendo o republicano Ronald Reagan.
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da Folha de S.Paulo
Entre Estados Unidos e Irã, as relações --ou a ausência delas-- foram sistematicamente desiguais e desastrosas.
A invasão do Iraque pelos americanos procurava, em 2003, construir uma sociedade livre e moderna, que "contaminaria" a região com a idéia de democracia. Não deu certo. As tensões políticas e confessionais no Iraque reforçaram o poder fundamentalista em Teerã.
Não é apenas, para Washington, um regime hostil, que trabalha pela obtenção da bomba atômica, o que desestabilizaria o que restou da geopolítica americana no Oriente Médio.
É também, para o governo americano, um Estado que patrocina o terrorismo. O último relatório do Departamento de Estado ao Congresso o acusa de fornecer dinheiro, treinamento e armas ao Hamas, Hizbollah, Jihad Islâmico e Brigada dos Mártires de Al Qasa.
Os dois primeiros grupos estão no centro dos atuais confrontos de Israel, que por sua vez se move no cenário diplomático com o apoio americano.
Em 2002 o presidente George W. Bush enquadrou o Irã no "eixo do mal", ao lado da Coréia do Norte e do Iraque, ainda sob Saddam Hussein.
Tensões antigas
As tensões vêm de muito mais longe. Durante o reinado pró-ocidental do xá Reza Pahlavi (1941-1979) ocorreu a traumática deposição, em 1953, do primeiro-ministro Mohammed Mossadegh, um dirigente extremamente popular, que havia nacionalizado o petróleo e contrariado os interesses americanos e britânicos. Mossadegh caiu num golpe chamado "Operação Ajax", com a participação direta da CIA.
O Irã de Reza Pahlevi explica em parte a aversão do atual regime islâmico pelos Estados Unidos. Com a Guerra Fria, a prioridade não era a democracia, mas o combate ao comunismo. O xá e sua polícia política, a Savak, reprimiram a esquerda iraniana que se opunha aos gastos militares excessivos --o Irã fazia fronteira com a União Soviética-- e ao uso do petróleo para sobretudo enriquecer uma casta ligada ao trono.
A sociedade civil pressionou por uma democracia laica em 1976. Mas no ano seguinte tomou força um movimento nascido nas mesquitas, que se opunha à americanização dos costumes e ao abandono dos valores muçulmanos.
Em janeiro de 1979 o xá deixava Teerã e partia para o exílio. Dias depois, o aiatolá Ruhollah Khomeini chegava de seu exílio na França e instaurava a república islâmica.
Os problemas americanos apenas começavam. Militantes xiitas invadiram a embaixada dos Estados Unidos em Teerã (4 de novembro de 1979) e mantiveram como reféns por mais de um ano 52 cidadãos americanos. A crise afetou as eleições presidenciais americanas, dificultando a reeleição do democrata Jimmy Carter e favorecendo o republicano Ronald Reagan.
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