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20/08/2006 - 09h17

Irã tem sua segunda chance de expansão

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GUSTAVO CHACRA
Colaboração para a Folha, de Nova York

O Irã teve duas oportunidades históricas para expandir a sua influência pelo Oriente Médio, onde os iranianos, que são persas e xiitas, sempre foram minoritários em meio aos árabes majoritariamente sunitas. A diferença é que, desta vez, o país busca esse objetivo com uma força maior.

A primeira foi no fim dos anos 60 e começo dos 70, quando o país era governado pelo xá Reza Pahlevi, um dos líderes mais pró-Ocidente do mundo islâmico até hoje. A segunda ocorre agora, graças às erráticas políticas americanas na região, afirmou à Folha o professor Trita Parsi, autor de um estudo publicado no "The Middle East Journal" --mais prestigiosa publicação acadêmica sobre o Oriente Médio-- intitulado "Israel and the Origins of Iran's Arab Option" (Israel e as origens da opção árabe do Irã).

Para Parsi, o Irã sempre teve ambições de expandir sua influência pelo Oriente Médio. O país não teve a opção da Turquia, que decidiu se voltar para a Europa, integrando-se à Otan. Com a forte presença russa na Ásia Central, os iranianos tampouco puderam exercer hegemonia em países islâmicos da ex-URSS, com os quais possuem laços culturais mais fortes que com os árabes.

Barreira

Afora essas duas oportunidades, os iranianos sempre tiveram um líder árabe para impedi-los de se expandir. Até 1967, a barreira era personificada pelo líder egípcio Gamal Abdel Nasser. Mas esta foi eliminada por Israel na massacrante vitória na Guerra dos Seis Dias, que enfraqueceu o pan-arabismo. A segunda era Saddam Hussein, derrubado pelos EUA em 2003.

Dois presentes para o Irã, que fracassou nos anos 70 na sua busca de hegemonia na região, segundo Parsi. O único rival é Israel, que tem armas atômicas. Com o seu programa nuclear, o Irã quer se igualar aos israelenses e se sobrepor aos árabes militarmente.

"Os EUA derrubaram Saddam no Iraque e o Taleban no Afeganistão, ambos inimigos declarados de Teerã. Hoje o Irã olha para as suas fronteiras e não vê as tropas americanas como uma ameaça, mas sim como um alvo fácil em regimes amigos em Bagdá e em Cabul", disse Parsi à Folha.

Sem o Iraque e com a sua fronteira afegã ao leste mais calma, resta ao líder iraniano Mahmoud Ahmadinejad lançar-se para o oeste contra Israel. O regime de Teerã sabe que o que mais o aproxima dos árabes é o caráter islâmico do país, ainda que xiita. Mas, no Oriente Médio de hoje, ser xiita não é tão ruim como ser judeu. Por isso, os ataques a Israel do presidente iraniano.

E o Irã tem mais uma cartada: Israel em 1967 era visto como incontestável vitorioso; agora, após o embate com o Hizbollah, aliado de Teerã, os israelenses mostraram uma face vulnerável. E os xiitas passaram a ser admirados por muitos sunitas após o Hizbollah guerrear contra Israel.

Para Parsi, um dos poucos acadêmicos que tiveram liberdade para fazer pesquisas tanto em Israel como no Irã, os objetivos de Teerã são geopolíticos. O islamismo é apenas uma arma para agregar apoio entre as populações árabes.

O xá tentou exercer a influência iraniana de uma maneira mais sutil, mantendo as suas relações informais com Israel e especiais com os EUA.

Sionismo e racismo

Porém, traindo americanos e israelenses, o xá já tentava ganhar o mundo árabe, de acordo com Parsi. O Irã foi signatário de resolução da Assembléia Geral da ONU em 1975 que comparava o sionismo ao racismo. Reza Pahlevi acabou derrubado pela Revolução Islâmica.

Um dos poucos ideais do antigo regime mantidos pelos aiatolás foi o de expandir a influência do Irã no mundo árabe. Porém, os iranianos tiveram que enfrentar Saddam Hussein por toda a década de 80.

Nos anos 90, segundo Parsi, os EUA perderam a oportunidade de dialogar com o Irã em um patamar superior quando o regime de Teerã ainda sofria a ameaça do Iraque e era governado pelo moderado Mohammad Khatami. Além disso, na época, os americanos não eram vistos como tão pró-Israel no mundo islâmico.

Porém, os EUA desistiram após enfrentar os primeiros obstáculos em Teerã, uma vez que o poder no Irã não é totalmente controlado pelo presidente, que enfrentava resistência dos conservadores religiosos, contrários a dialogar com os americanos. Os EUA deveriam ter insistido. Era uma grande oportunidade".

Para ele, os EUA precisam balancear a sua política no Oriente Médio, o que poderia fortalecer os países árabes moderados, que serviriam de barreira a Ahmadinejad.

Mas, acima de tudo, os americanos deveriam negociar com Teerã. "O Irã, como a Turquia, é um país antigo, diferentemente dos Estados árabes. O Irã tem experiência em diplomacia. O próprio Ahmedinejad enviou uma carta a Bush tentando dialogar, mas os EUA ignoraram. Isso apenas fortaleceu ainda mais o presidente do Irã."

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