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29/08/2006 - 21h10

Bush assume erros do governo americano um ano após o Katrina

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da Efe, em Nova Orleans
da Folha Online

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, admitiu neste terça-feira em Nova Orleans que seu governo não cumpriu com sua responsabilidade no desastre causado pelo furacão Katrina, que deixou um rastro de destruição e mais de 1.800 mortos há um ano.

"O Katrina foi responsável por uma catástrofe que nós achávamos que nunca veríamos nos Estados Unidos. Meu governo não esteve à altura dessa responsabilidade", disse Bush, em um ato no Instituto Warren Easton, o colégio público mais antigo da cidade.

Em um dia marcado pela emoção, o presidente disse que o furacão foi responsável pelo "maior desastre da história de Nova Orleans", e incentivou os cidadãos a reconstruírem a cidade, com o apoio das autoridades.

"Vamos deixar Nova Orleans mais forte do que nunca", disse.

28.ago.2006/Reuters
Homem toca trompete às vítimas do Katrina, um ano após o furacão devastar Nova Orleans
"Assumo a plena responsabilidade pela resposta do governo. Três semanas após o Katrina, prometi que faria tudo o que fosse necessário para ajudar na reconstrução, e reafirmo que essas palavras ainda são válidas", afirmou Bush.

Trata-se do segundo mea-culpa feito pelo presidente sobre o tema nos últimos quatro dias. No sábado (26), Bush havia reconhecido a falta de preparo das autoridades diante de uma catástrofe de grandes proporções.

Às 9h38 (hora local) de hoje, os sinos soaram em Nova Orleans para relembrar o momento em que o primeiro dique se rompeu, e ao qual se seguiram os quatro dias de inundações, que atingiram 80% da cidade.

A catástrofe causou 1.833 mortes em cinco Estados e provocou prejuízos avaliados em mais de US$ 81 bilhões, além de ter sido um duro golpe na confiança dos americanos em seu próprio país, e, sobretudo, em suas autoridades.

Acompanhado da primeira-dama Laura, Bush assistiu a uma cerimônia em memória das vítimas na catedral de Saint Louis.

Na igreja, que não foi atingida pelas inundações, o casal Bush acendeu velas em sinal de luto pelas mais de 1.400 mortes registradas na cidade.

Com a sua 13ª visita à região, Bush tenta recuperar sua popularidade, que caiu em grande parte do Estado após a passagem do furacão.

Apenas um terço dos americanos aprovou a conduta do presidente no desastre causado pelo Katrina, segundo pesquisas divulgadas recentemente.

Bush começou a assumir suas dívidas com os habitantes da cidade em seu discurso, quando uma garçonete perguntou se ele lhe daria às costas.

"Não, senhora. Não farei isso novamente", respondeu o presidente.

A maioria dos habitantes de Nova Orleans recebeu o presidente com indiferença. Os cidadãos pareciam mais interessados em lembrar as vítimas e suas próprias tragédias pessoais.

Para Casey Marsh, que trabalha no serviço de limpeza da cidade, a viagem de Bush "não significa nada".

"Bush fará o mesmo que fez das outras vezes: falar muito, prometer mais e depois ir embora e nos abandonar novamente", disse.

Rheqsu Bharadwag, que trabalha em uma loja na Bourbon Street, considera que os políticos fizeram "o que foi possível" para ajudar a cidade, mas que não serão eles que vão reconstruí-la, mas sim seus habitantes.

O Congresso aprovou uma verba de US$ 110 bilhões para a reconstrução dos estados de Louisiana, Mississippi e Alabama. Até o momento o Governo utilizou apenas US$ 77 bilhões.

Otimismo

Bush iniciou nesta segunda-feira a visita, que inclui às zonas mais devastadas, como Gulfport e Biloxi, no Estado do Mississippi, e Nova Orleans, na Louisiana.

Apesar do ceticismo da população local, o presidente tentou manifestar seu otimismo e lembrou os esforços de seu governo para ajudar as vítimas.

Durante os dois dias de visita à costa do golfo, o presidente e a primeira-dama, Laura Bush, verificaram os trabalhos de reconstrução e reparo dos diques da cidade que não resistiram ao furacão no ano passado, deixando Nova Orleans debaixo d'água.

Na época da catástrofe, Bush foi muito criticado por não ter interrompido o descanso que desfrutava em seu rancho no Texas e por ter demorado quatro dias para visitar a cidade.

Em 15 de setembro de 2005, durante um ato na praça Jackson, em Nova Orleans, Bush comprometeu-se a "fazer tudo o que tiver que ser feito, e permanecer o tempo que for necessário para ajudar os cidadãos a reconstruir suas comunidades e suas vidas".

Divisão

Um ano depois, a recuperação está longe de ser declarada. Nova Orleans dividiu-se em duas cidades. Nas partes altas, que escaparam da inundação, é difícil encontrar marcas do Katrina. Mas fora das principais áreas turísticas, escombros ainda são vistos nas ruas.

No Lower Ninth Ward, um dos bairros mais afetados, o mato cresce em torno dos restos de casas que foram varridas pela força da água no momento em que os diques foram destruídos.

Mais da metade da população de Nova Orleans continua espalhada pelo país, enquanto bairros inteiros continuam às escuras e abandonados.

A inundação atingiu 80% da cidade quando o Katrina tocou na costa, na manhã de 29 de agosto de 2005. Bush foi acusado de indiferença diante da sorte dos negros e pobres da região. A falta de prevenção, que ficou clara, e as incertezas geradas pela ocupação do Iraque contribuíram para que ele se tornasse um dos presidentes americanos mais impopulares dos últimos tempos.

Há um ano, mais de 450 mil moradores da cidade foram obrigados a deixar o local e quase um milhão de pessoas da região tiveram que se deslocar para fugir das inundações.

Atualmente, apenas metade da população original está de volta à histórica cidade, seis dos nove hospitais de Nova Orleans continuam fechados e apenas 54 das 128 escolas públicas estão em funcionamento.

Recursos

Nesta segunda-feira, durante discurso em Biloxi (Mississippi), Bush ressaltou a disponibilização de uma ajuda de US$ 110 bilhões, aprovada pelo Congresso para que o Executivo auxilie na reconstrução dos Estados atingidos.

A retórica do presidente, no entanto, passou longe da autocrítica que Bush fez neste domingo (27), quando reconheceu a deficiente preparação das autoridades dos EUA diante de uma catástrofe de tal dimensão.

O governo já concedeu US$ 77 bilhões desta quantia às autoridades estaduais, embora quase a metade deste valor --US$ 33 bilhões-- ainda não tenha sido gasta.

Bush afirmou que os EUA estão se empenhando no "maior esforço de reconstrução de sua história", após as conseqüências "inimagináveis" do Katrina, que deixou 1.833 mortos na região do litoral do golfo do México.

"Entendemos que o povo esteja ansioso para recuperar seus lares, mas adotamos o compromisso de regular esta situação", acrescentou.

A lenta reação do governo após a passagem do Katrina foi uma das principais críticas que Bush teve de enfrentar no ano passado e uma das causas da vertiginosa queda de sua popularidade.

Uma recente pesquisa publicada pelo jornal "USA Today", em parceria com o instituto Gallup, revelou que apenas 37% dos cidadãos dos EUA aprovam a gestão de Bush em relação aos danos produzidos pelo Katrina, contra 43% dos entrevistados que o apoiavam imediatamente após a passagem do furacão.

O atual otimismo de Bush contrasta com os ânimos abatidos dos cidadãos dos Estados afetados, que não escondem sua impaciência pela lenta recuperação.

Bush insistiu na necessidade de limpar os escombros em primeiro lugar, algo que, segundo ele, já foi feito em 89% da cidade de Biloxi.

O presidente também destacou a vital importância das pequenas empresas e comércios da área para que o Mississippi volte a renascer "melhor e mais forte que nunca".

No entanto, um relatório divulgado pela ONG CorpWatch assegura que os contratos mais importantes de reconstrução caíram nas mãos de grandes corporações localizadas fora dos três Estados mais danificados pelo Katrina: Louisiana, Mississippi e Alabama.

"Os grandes beneficiados são as mesmas companhias encarregadas da reconstrução no Iraque e no Afeganistão, ou seja, as mais influentes nos círculos de poder", disse Pratap Chatterjee, diretor desta ONG.

Segundo o estudo, embora empresas locais tenham assinado 60% dos contratos, elas representam apenas 13% do valor total do dinheiro investido.

Com agências internacionais

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