O
Rio de Janeiro não pode deixar de ser a "cidade partida"
Não era um túnel qualquer, mal feito, mal ajambrado, não.
Era "no capricho", com tudo o que se deve esperar de um
bom túnel: altura, largura, iluminação, ventilação, escoamento
de água.
Uma obra de engenharia e arte. Uma obra do contra, porém.
Contra o sistema, para fugir do sistema. Para se mandar
do maldito sistema carcerário brasileiro.
Um túnel para fugir de Bangu, com certeza um dos presídios
mais quentes do mundo (fica no bairro do mesmo nome, o
cantão mais quente do Rio de Janeiro _ já bateu nos 50
graus celsius mais de uma vez).
O túnel que a polícial encontrou e que serviria para a
fuga de presos do complexo penitenciário de Bangu, via
uma favela, era o máximo.
O máximo de atrevimento, de empreendimento, de improviso
e acinte.
A obra de engenharia civil foi considerada de excelente
qualidade pelo Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura,
o Crea.
Mil vezes mais bem acabado que os prédios do Sérgio
Naya, aquele do Palace que caiu.
O interessante é que a polícia tenha demorado tanto tempo
para "descobrir" o tal túnel. Alguma coisa não deu certo,
porque ninguém, muito menos bandidos perigosos do Rio,
se meteriam num empreendimento daqueles sem um mínimo
de garantias.
Por isso ou por aquilo, o fato é que o túnel desabou nas
mãos do lado do "bem". Ele seria, pegando emprestada a
metáfora genial de Zuenir Ventura, uma ligação entre os
dois lados da "cidade partida".
Não deu certo, metaforicamente porque a cidade deve permanecer
partida.
A cidade do rock e a cidade do rapa não podem ter um canal
de comunicação tão eficiente. Que fique cada um do seu
lado, uns com quase tudo, outros com o quase nada que
Deus lhes deu.
Por falar em cidade do rock, eis aí mais um exemplo de
como o Brasil (o Rio como emblema) é peculiar. O maior
palco, o maior público, o maior festival. Eu fui ao Rock
in Rio, vi, ouvi e aprovei. Uma investida comercial respeitável,
que levantou o moral do Rio, movimentou um mundo de gente
e de quebra ainda patrocinará projetos sociais em 70 favelas
da cidade. Que assim seja sempre.
A Polícia Federal deve estar morrendo de vergonha por
causa de seus agentes de São Paulo, que só faltam estender
tapete vermelho para o Nicolau dos Santos Neto (chamá-lo
de juiz é uma ofensa ao nossos ilustres e verdadeiros
magistrados).
O que é isso? Para que tanto rapapé? Tinha um agente de
bigode (saiu em foto de O Globo) que se desdobrou ao máximo
para proteger, com as próprias mãos, a cabeça do homem.
Será que era para não desmanchar aquele penteado lindo?
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