Quando
são os cidadãos que atrapalham, algo está
errado
Quem
permaneceu na cidade de São Paulo durante o feriadão
de fim de ano pôde constatar duas coisas bem evidentes:
1
a cidade ficou muito mais "habitável",
transitável, curtível, aceitável,
e, com um pouco de boa vontade, até bonitinha.
2
a cidade, no que diz respeito à manutenção
dos equipamentos públicos, ruas, calçadas
etc., estava completamente abandonada.
Quanto
a este último quesito, nada para se espantar: o
descalabro nunca visto, a depredação das
vias públicas e a falta de limpeza devem-se a um
fenômeno pernicioso que graças aos céus
foi-se. O nome desse fenômeno de ineficiência
e enganos: Celso Pitta.
O
primeiro aspecto aqui anotado, esse sim merece um pouco
mais de reflexão. Como digerir a realidade segundo
a qual uma cidade melhora com a ausência de seus
habitantes?
Foi
exatamente isso o que aconteceu: as ruas com poucos carros,
os parques vazios, cinemas, lojas, supermercados, bancos,
repartições funcionando numa boa simplesmente
porque não estavam superlotados, porque milhares
de paulistanos viajaram.
Que
dilema absurdo o de São Paulo: para funcionar bem
a cidade deve prescindir de seus moradores...
O
que está errado nesta história: São
Paulo seria uma cidade verdadeiramente agradável,
mas abriga gente de mais?
Ou
tornou-se uma cidade equivocada, cujo crescimento desordenado,
ineficiente, predatório mais o oportunismo dos
poderes públicos a transformaram num martírio
diário para os que tentam viver aqui?
Com
certeza, este é o cerne da inúmeras questões
que se colocam para as grandes metrópoles brasileiras
neste início de milênio: a falta de diagnósticos
sobre a cidade como um todo e seus problemas e soluções
em particular.
O
ex-prefeito do Rio, Luiz Paulo Conde, que não é
nenhum gênio, disse outro dia uma grande verdade:
o Congresso e o governo federal discutem, fazem leis e
se preocupam apenas com a questão agrária,
os sem-terra, as florestas, os mananciais, esquecendo-se
completamente das questões urbanas. Das cidades
e seus urgentes e inadiáveis desafios relativos
ao gerenciamento de suas superestruturas. Essas tarefas
ficam nas mãos unicamente das prefeituras. O que
é temerário demais, como se viu em São
Paulo: pegamos pela frente um Paulo Maluf e depois um
Celso Pitta e deu no que deu.
No
caso específico da capital paulista, todas as esperanças
são depositadas, agora, no governo de Marta Suplicy,
que terá, como se dizia antigamente, muito pano
para as mangas.
Mas,
para quem teve o prazer de ficar por aqui nesses dias
de férias e viagens de grande parte da população,
uma coisa é certa: como São Paulo fica agradável com poucos
paulistanos...
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