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Quarta-feira, 25 de outubro de 2000

Paciência para ensinar, vontade de aprender

Régis Andaku
     

Diego Medina
Sempre que o Brasil recebe confronto de Copa Davis ou evento com tenistas de ponta, vêm nos dias seguintes aquelas dúvidas comuns à cabeça de dirigentes, organizadores e torcedores de países em desenvolvimento (se é que podemos assim já classificar nosso país).

A principal dúvida: temos condições de abrigar grandes competições? Geralmente, a resposta já vem embutida à pergunta: Não, não temos.

As explicações dadas variam da mais plausível à mais absurda. As principais, essas você já conhece: "temos outras prioridades", "não temos know-how", "falta dinheiro", "somos desorganizados", "passaríamos vergonha frente aos gringos", "o brasileiro não sabe se comportar"...

No último fim-de-semana, São Paulo recebeu um evento que teve o melhor tenista do mundo na atualidade e alguns dos melhores tenistas do continente. E, claro, teve um pouco disso tudo que costuma-se falar.

Vi cambistas aos montes, um princípio de bagunça na entrada, absurdos R$ 2 por uma caixinha de chicletes, muito penetra na área reservada a jornalistas, um sistema falho de transporte público até o local, falta de policiamento, guardadores de carro agindo de maneira intimidadora, um ginásio que deixa muito a desejar...

Teve, também, torcedor mal-criado. E não me refiro às conversas em vez alta entre um ponto e outro, apenas.

Falo das vaias, do tipo que costumam classificar por aí de "ensurdecedoras", quando um tenista argentino se preparava para sacar. Falo dos assovios sempre que algum tenista mostrava estar buscando concentração. E falo até da indiferença em alguns momentos aos apelos do ídolo-maior para que fosse feito silêncio.

Diante disso tudo, o que eu posso concluir é que... Devemos e podemos, sim, receber grandes competições internacionais em nosso país.

Se queremos tanto divulgar o tênis, popularizar (sem demagogia), torná-lo acessível a um maior número de pessoas, temos de prestigiar e apoiar qualquer tipo de evento que dê ao público a chance de ver a bolinha passar pra lá e pra cá da rede.

É cômodo apenas dizer que o público sueco é que é comportado e que o Aberto da França é que é organizado. Mas não adianta nada.

Se queremos, de fato, que mais gente pratique tênis, conheça as regras, reconheça uma boa jogada, não basta apenas torcer para os brasileiro conquistarem títulos internacionais. Não basta pedir que as TVs pagas passem a exibir mais partidas.

É cômodo esperar que o público se plugue à TV (em país em desenvolvimento, se esse é o nosso caso, a TV paga ainda é um artigo de luxo). Pouco adianta.

Se queremos uma pátria de raquetes, como propaga-se por aí, temos de dar ao público a oportunidade de ver como é, in loco, um jogo.

É cômodo dizer que basta ir a um clube e tomar aulas de tênis (em país de desenvolvimento, repito, caso seja este nosso caso, um clube é para uma parcela da população apenas).

Ainda que os jogos no Ibirapuera tenham tido preços altos, como mostrou o repórter Paulo Cobos nesta Folha, precisamos desse tipo de evento. As vaias e o comportamento inadequado podem ser alvos de críticas, ok, mas fazem parte do aprendizado. Queremos ou não queremos que aprendam?


Notas
MAIS ARQUIBANCADA
Outra chance boa para se ver in loco jogos de tênis: a Copa Ericsson em São Paulo. Tem Fernando Meligeni, que passou ontem por uma estréia abertada, André Sá e o espanhol Alberto Berasategui, entre outros.

MAIS EMOÇÃO
Alex Corretja conquista Toulouse e fica perto de Lisboa. Marat Safin avança em Moscou e pode liderar a Corrida dos Campeões. Magnus Norman sente contusão e abandona torneio na Basiléia. Thomas Enqvist e Tim Henman, hoje fora da Copa do Mundo, jogam tudo na Suíça também. Haja fôlego!

MENOS VIDA
Morreu de câncer Don Black. Mais do que chegar duas vezes à terceira rodada de Wimbledon (em 1953 e 1956), seu feito foi construir quadra de grama em sua casa e ensinar os filhos zimbabuanos, Byron, Wayne e Cara Black. Todos hoje profissionais, jogando pelo circuito.



E-mail: reandaku@uol.com.br



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